Luiz Cláudio Romanelli*
Apesar de ter nascido em Londrina e representar em especial a região do Norte Pioneiro na Assembleia, sempre tenho um especial carinho quando falo sobre Curitiba. Afinal, esta é a cidade que me acolheu, me deu muitas oportunidades, pessoais e profissionais, é onde vivo com meus filhos. Em Curitiba iniciei a minha vida pública, tendo sido vereador na década de 1990.
Por isso, assim como muitos curitibanos, tenho acompanhado com preocupação e de certa forma até tristeza, o que a cidade tem passado nos últimos anos. Parece repetitivo o que vou falar, mas o fato é que temos visto a estagnação da cidade. Seja de novas ideias ao sufoco no atendimento dos serviços públicos. Nunca tantas pessoas moraram nas ruas da cidade. Até nas coisas simples, como a limpeza das ruas, praças e parques, que sempre foram referência, a cidade parece abandonada.
Muitos podem se perguntar quem é o culpado. Eu, particularmente, acredito que o prefeito Gustavo Fruet (PDT) tem sim boa parte da responsabilidade. Já outros podem colocá-la na situação econômica e política do país. Porém, ao mesmo tempo que penso sobre isso, lembro de uma das maiores figuras públicas que conheci: o Maurício Fruet, pai de Gustavo e primeiro prefeito de Curitiba após a ditadura militar.
Quem, assim como, eu conheceu o Maurício e fez parte de sua equipe, tem saudades. Uma pessoa admirável, que cativava os amigos e tratava de forma séria a coisa pública. Neste domingo, 30 de agosto, completaram-se 17 anos desde que ele nos deixou.
Maurício sempre governou Curitiba com leveza e ouvindo as pessoas. Numa época de desemprego, de crise e de recessão mais acentuadas do que agora, quando a nossa capital não tinha dinheiro, foi apenas por meio de sua liderança, do diálogo e da criatividade que nós fizemos tanta coisa. As principais mudanças na forma de Curitiba tratar a desigualdade social começaram, com certeza, na gestão de Maurício Fruet.
Porém, o prefeito Gustavo parece não ter herdado algumas das qualidades do prefeito Maurício. Os eleitores de Gustavo esperavam a quebra de paradigmas e ações para que a cidade voltasse a ser inovadora, principalmente no que diz respeito ao transporte público.
A realidade, porém, é dura: o sistema de transporte está deteriorado e o edital do metrô empacou, não foi nem sequer lançado. Mais recente, o sistema passou pela desintegração tarifária e física, causando transtorno para moradores de toda a região metropolitana. O grande “avanço” da área na atual gestão é a tarifa temporal de uma única linha, a Interbairros I – ideia na verdade implantada pelo ex-prefeito Luciano Ducci.
Basicamente, a prefeitura não tem coragem de enfrentar o cartel de empresários que não deseja um transporte moderno, confortável e justo, que muda a qualidade da cidade e de vida das pessoas. Não haverá melhorias ou mesmo a intermodalidade, enquanto não existir alguém que tenha coragem de enfrentar este cartel.
Assim como a inovação deve estar em todos as esferas, a qualidade nos serviços prestados pela prefeitura, está diretamente relacionada a sua capacidade de estabelecer uma visão de futuro que dê coerência ao processo decisório e que permita às diversas instâncias municipais, antecipar-se às novas necessidades e expectativas dos cidadãos e da sociedade. Vale ressaltar que, para preservar a referência de cidade modelo em gestão pública, a administração de Curitiba precisará identificar e difundir as boas práticas utilizadas nos mais diversos níveis do governo municipal. A perenidade de bons projetos e programas deve sempre estar presente, considerando o bem maior – as pessoas que vivem, e muito fortemente, as pessoas que sobrevivem na cidade.
No próximo ano voltaremos às urnas para debater a nossa cidade e escolher o prefeito e vereadores. Será uma eleição diferente, parte pelo desejo agudo de mudança e renovação dos brasileiros e parte também pela crise econômica que, é quase consenso, não deverá acabar tão cedo. Será, também, a grande oportunidade de discutir a cidade que queremos.
São enormes os desafios de um prefeito de Curitiba. O primeiro é de poder racionalizar a administração, definir o que é prioritário. O segundo, de inserir toda a Região Metropolitana em um amplo debate sobre problemas e soluções para as próximas décadas.
Curitiba não é apenas mais uma cidade grande, mas sim uma metrópole e como tal deve ser tratada, com mais políticas públicas, boas ideias e a população participando ativamente de todo o movimento, até porque para que tenhamos empresas inovadoras e consequentemente melhores oportunidades econômicas e de emprego, a sua cidade o deve ser.
Que o Maurício Fruet, que abriu as portas da prefeitura para povo, e para a integração metropolitana, sirva de inspiração para todos.
*Luiz Cláudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, ex-secretário da Habitação, ex-presidente da Cohapar, e ex-secretário do Trabalho, é deputado pelo PMDB e líder do governo na Assembleia Legislativa do Paraná. Escreve às segundas-feiras sobre Poder e Governo.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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