Alvaro Dias*
A reforma administrativa anunciada pela presidente da República, na semana passada, foi a confirmação de que o governo continua refém do balcão de negócios. Para tentar driblar as negociações pró-impeachment, a presidente cedeu, mais uma vez, ao apetite fisiológico por cargos da sua instável base aliada.
Com a crise político-econômica afetando todas as esferas da sociedade brasileira, o que esperávamos do governo era uma mudança radical e veemente, reduzindo o gigantismo da máquina pública. Mas a presidente mudou poucas peças do seu xadrez ministerial apenas para agradar aliados e garantir apoio no Congresso.
O governo anunciou, de forma espetaculosa, a redução de 39 para oito ministérios, mas fez fusões, mantendo as estruturas, ou seja, trocou seis por meia dúzia e, na prática, manteve os paralelismos e a superposição de ações.
Com a última pesquisa Ibope mostrando a aprovação de apenas 10% dos brasileiros, a estratégia desesperada da presidente foi anunciar mais espaço no governo para os aliados que ameaçavam pular do barco, privilegiando, dessa forma, a república do aparelhamento do Estado em detrimento dos quadros com qualificação técnica. O critério da competência foi sacrificado no altar da conveniência.
Atualmente, falta dinheiro para setores essenciais do País, porque os recursos públicos estão sendo utilizados para sustentar esse promíscuo esquema de governo que, para sua manutenção, leva boa parte do dinheiro arrecadado do povo brasileiro.
Somente o governo federal tem hoje cerca de 23 mil cargos comissionados, boa parte ocupado por pessoas que não prestaram concurso público.
Não canso de repetir que o País não vai retomar seu crescimento econômico enquanto ministérios e cargos forem usados como moeda de troca, e enquanto este modelo promíscuo de governança estiver sendo sustentado pela maioria dos políticos e dos partidos. A presidente Dilma, num momento de fragilidade, optou pelo pior caminho para sair da crise, mantendo o loteamento escancarado, consagrando a incompetência administrativa e deixando que dar respostas aos anseios da sociedade brasileira. Quem tem como matriz um modelo de relação desonesta entre os poderes, com a política do toma-lá-dá-cá, sabe que sempre estará nas mãos dos chantageadores que vendem apoio em troca de cargos.
*Alvaro Dias é senador pelo PSDB e líder da Oposição no Senado Federal. Ele escreve nas quartas-feiras para o Blog do Esmael sobre “Ética na Política”.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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