por Ademar Traiano*
A prisão dos mensaleiros é um marco positivo para o Brasil. O mensalão, que explodiu em 2005, é o maior escândalo da história da República. O que poucos sabem é que os mensaleiros foram traídos.
Os mensaleiros tentam dar a prisão uma aura de martírio. José Genoíno, ex-presidente do PT, proclama ser preso político!. Comparou sua prisão a ocorrida durante a ditadura militar. Em 1972, militante do PCdoB, Genoíno foi preso por participar da luta armada. Queria fazer do Brasil uma ditadura comunista ao estilo albanês. Foi preso agora por envolvimento nas fraudes financeiras do mensalão. Não é um preso político, é um político preso.
O ex-ministro José Dirceu também tenta dar a cadeia um contexto épico. Durante a ditadura, enquanto Genoino queria transformar o Brasil em uma grande Albânia, Dirceu, adestrado em Cuba, voltou ao país e virou uma espécie de guerrilheiro de boutique. Comprou loja de roupas e casou com a dona de uma loja de artigos femininos no Paraná. Em 2012 foi condenado como o chefe do mensalão. A notícia da prisão o apanhou flanando em um resort de alto luxo na Bahia, mas Dirceu alega ser perseguido pelas elites!.
Não passa de conversa mole a tese que o mensalão foi um caso político. O STF investigou o escândalo sete anos. Descobriu que os mensaleiros desviaram pelo menos R$ 170 milhões de reais. Grande parte veio de órgãos controlados pelo governo federal, como o Banco do Brasil. O total de desvios certamente foi muito maior. O STF não investigou a ação dos mensaleiros junto aos fundos de pensão.
Um episódio nebuloso na prisão dos mensaleiros. Com a aceitação pelo STF dos embargos infringentes, as prisões deveriam ficar para o ano que vem, quando tais recursos serão julgados. A decisão do novo procurador-geral, Rodrigo Janot, nomeado por Dilma em setembro, de pedir a prisão já, surpreendeu os meios jurídicos. A jornalista Mônica Bergamo revela, na Folha de S. Paulo, os bastidores. Diz a jornalista:
O pedido de prisão dos réus do mensalão, nesta semana, foi precedido de um encontro entre a ministra Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, e de Luis Adams, advogado-geral da União, com Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Um dia depois, Janot assinou a solicitação encaminhada ao STF pedindo a detenção imediata dos condenados. (…) A reunião chegou ao conhecimento de José Dirceu e dos deputados José Genoino e João Paulo Cunha, do PT, e se espalhou pelo partido. Foi interpretada como um envolvimento do próprio governo de Dilma Rousseff com a iniciativa, que surpreendeu a legenda e também os condenados. (…) A interpretação de dirigentes do PT e de outros partidos é a de que a prisão dos réus agora favorece Dilma. Na campanha eleitoral, o impacto da medida já estaria amenizado pelo tempo. E ela não teria que responder a acusações de que seu governo se esforçava para garantir a “impunidade” dos petistas.!
No momento em que o PT, seus aliados e simpatizantes tentam transformar os mensaleiros em vítimas, se descobre que, se alguém manobrou para prender logo os mensaleiros, não foram as elites!, mas setores do governo do próprio PT.
*Ademar Traiano é deputado estadual pelo PSDB e líder do governo Beto Richa na Assembleia Legislativa. Ele escreve à s quartas-feiras sobre governo e parlamento.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.
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