‘Centrão sustenta Bolsonaro com 50 mil mortos nas costas’, diz colunista da Folha

O colunista da Folha Celso Rocha de Barros, doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, culpa o Centrão pela instabilidade política no Brasil. Ele acusa o grupo fisiológico de sustentar o governo Jair Bolsonaro com 50 mil mortos, crimes de responsabilidade e ameaças de golpe.

“O centrão está sustentando Bolsonaro com 50 mil mortos nas costas, dúzias de crimes de responsabilidade e diversas ameaças de golpe. Por muito menos, incomparavelmente menos, derrubou uma presidente de esquerda”, escreve Rocha de Barros, recordando do golpe contra Dilma Rousseff (PT).

A coluna de Celso Rocha de Barros, nesta segunda-feira (22), é uma resposta ao artigo deputado Arthur Lira (PP-AL) publicado pela Folha na semana passada.

Leia a íntegra do artigo:

A instabilidade atual também é obra do centrão

Em artigo, o deputado Arthur Lira, fiel à tradição, só liberou recursos para os fatos que o apoiavam

Na semana passada o deputado Arthur Lira (PP-AL) escreveu um artigo nesta Folha defendendo o centrão. É um texto muito bem argumentado. Lira lembrou que o centrão votou a favor de diversas reformas da Previdência, que foi um fator de estabilidade em diferentes governos, que moderou as propostas e organizou os acordos.

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Lembrou que Bolsonaro foi do PP por muitos anos e que hoje o PP vota com o governo em 90% das votações. Criticou a Lava Jato por criminalizar a política, mas proclamou que a corrupção sistêmica está morta e enterrada. Defendeu a legitimidade do casamento entre centrão e Bolsonaro, e viu nisso uma reconciliação entre Bolsonaro, as instituições, e, se entendi direito, a democracia.

Muita coisa no manifesto de Lira é verdade. A criminalização da política nos últimos anos foi mesmo um problema. Partidos aliados que votam medidas impopulares têm mesmo o direito de participar do governo e beneficiar-se de sua eventual popularidade.

De fato, faltou conservadorismo, no sentido estrito, ao Brasil nos últimos anos, faltou lembrar que instituições e partidos são fáceis de destruir, difíceis de reconstruir. Isso tudo é verdade, o centrão tem razão nisso.

Por outro lado, o deputado Arthur Lira, fiel à tradição, só liberou recursos para os fatos que o apoiavam.

O centrão pode ter moderado extremismos ideológicos, mas sempre teve lado: os governos de direita sempre conseguiram aprovar medidas razoáveis de caráter liberal, mas os governos de esquerda não conseguiram sequer aprovar um impostozinho sobre rico que fosse.

O centrão está sustentando Bolsonaro com 50 mil mortos nas costas, dúzias de crimes de responsabilidade e diversas ameaças de golpe. Por muito menos, incomparavelmente menos, derrubou uma presidente de esquerda.

E se, por um lado, o centrão favorece a estabilidade completando as maiorias parlamentares, vários dos escândalos da Nova República nasceram nas negociações que resultaram nessa adesão. Esses escândalos geraram grandes turbulências. O senhor se lembra de algum sem o PP?

A propósito, a instabilidade atual também é obra dos senhores. Em 2018, apertaram 17 até doer o dedo, já no primeiro turno, apesar do apoio que haviam declarado a outros candidatos.

Quanto ao fim da corrupção sistêmica, a ideia é ótima. Desde o início da Lava Jato a prioridade deveria ter sido consolidar avanços institucionais contra a corrupção, mais do que prender este ou aquele político. Se houver boas propostas nesse sentido, acho excelente.

Mas sejamos honestos, deputado: quando os senhores aí no centrão viram Bolsonaro intervindo na Polícia Federal, um “oba!” nasceu em seus corações.

Quanto à reconciliação de Bolsonaro com a democracia, parece ótimo, também. Bolsonaro ameaçou golpe para se livrar das investigações, não deu certo (ainda, pelo menos), correu para os senhores. Podia ser pior, eu sei.

Mas resta saber se os senhores pretendem mesmo garantir impunidade ao movimento político responsável pela maior mortandade de brasileiros desde a guerra do Paraguai, por dúzias de crimes de responsabilidade, pelas piores ameaças autoritárias à Nova República. Se for o caso, os senhores podem até estar contribuindo para que as instituições brasileiras sobrevivam, mas estão impedindo que elas funcionem.

Celso Rocha de Barros
Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

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Pesquisa da Quaest Consultoria mostra que o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro é hoje o principal adversário do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na corrida presidencial de 2022.

De acordo com o levantamento, feito entre os dias 14 e 17 de junho, com 1000 entrevistados distribuídos pelas 27 unidades da federação, Moro aparece com 19% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro tem 22%.

O ex-ministro supera seu antigo chefe em alguns segmentos, como entre pessoas com mais de 60 anos (24% a 22%) e com renda mensal superior a cinco salários mínimos (24% a 15%). Moro também está à frente de Bolsonaro nas regiões sudeste (24% a 21%) e sul (20% a 18%).

Na terceira e na quarta colocações, estão nomes da esquerda. Derrotado no segundo turno em 2018, Fernando Haddad, do PT, tem 13%. Já Ciro Gomes, do PDT, registra 12%. Em quinto e sexto lugares aparecem o apresentador Luciano Huck (5%) e Guilherme Boulos (3%), do Psol. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), registra apenas 2%. 23% dos ouvidos pela pesquisa dizem não ter candidato.

A Quaest terminou o levantamento um dia antes da prisão de Fabrício Queiroz, miliciano e operador de um esquema de “rachadinha” no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Não mediu, portanto, o impacto dessa notícia.

Já os efeitos da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 50 000 pessoas no Brasil, foi devidamente registrado. Os dados não são nada bons para Bolsonaro, que desdenhou da doença. De acordo com a pesquisa, a desaprovação ao trabalho do presidente no combate ao novo coronavírus subiu de 47%, em abril, para 59%, em junho.

Entre os que votaram em Bolsonaro em 2018, cresceu de 19% para 31% os brasileiros que rejeitam a forma como o presidente conduz a crise.

A sondagem também mostra que o auxílio emergencial não melhorou a imagem de Bolsonaro. Entre os brasileiros que associam o benefício ao presidente, 37% avaliam mal a forma como ele enfrenta a pandemia de coronavírus e 35% avaliam bem. Para os entrevistados, o Congresso (50%), e não o presidente (37%), é o principal responsável pelo auxilio emergencial.

Com informações da Veja.