Angelo Vanhoni: ​”Não rir nem chorar, mas compreender”

Angelo Vanhoni estreia nesta segunda-feira (20) coluna aqui no Blog do Esmael. Ele aborda a tragédia nazista que representa o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

“Limito-me a esboçar alguns elementos sobre a influência do governo Bolsonaro e o movimento que ele representa sobre a consciência social, e de como essa influência constitui a base ideológica para as medidas concretas do governo- e, em contrapartida, a urgência de resistir, de insistir na afirmação de certos valores hoje em risco de sufocamento”, explica o articulista.

Leia a íntegra do artigo:

​Não rir nem chorar, mas compreender*

Por Angelo Vanhoni

A Humanidade percorre um longo caminho, que não é linear, sendo sujeito a interrupções e retrocessos. Os valores predominantes num determinado país, numa determinada época, podem não ser os mesmos em diferentes momentos e regiões, sem contar o fato de que, mesmo hegemônicos, esses valores sempre enfrentam contestação. Uma sociedade dividida em classes não é o terreno da unanimidade, e sim do confronto de ideias, e muitas vezes esse confronto não se limita às ideias.

Economia

​Entender o que se passa no Brasil é uma necessidade inadiável. Não pretendo aqui fazer uma análise econômica, do que representam as medidas do governo para o aumento do sofrimento da população. Limito-me a esboçar alguns elementos sobre a influência do governo Bolsonaro e o movimento que ele representa sobre a consciência social, e de como essa influência constitui a base ideológica para as medidas concretas do governo- e, em contrapartida, a urgência de resistir, de insistir na afirmação de certos valores hoje em risco de sufocamento.

​É certo que uma parte da população, que acredito ser uma pequena minoria, se alinha ao que dizem e pensam Bolsonaro, Guedes, Weintraub, Damares, Moro e outros pilares do governo. É necessário que a outra parte, a grande maioria, tenha consciência para resistir.

​Durantes os governos Lula e Dilma, vivemos um avanço, não sem grandes dificuldades, na afirmação do público sobre o privado, do coletivo sobre o individual, da liberdade sobre a repressão, da tolerância religiosa, do direito à informação e à cultura, valores, como tantos outros, inscritos na Constituição Federal, mas nem sempre observados e muitas vezes esquecidos.

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​O retrocesso cultural e ideológico que se observa no Brasil reside exatamente aí. Bolsonaro, seus ministros e apoiadores não se pejam em negar publicamente os direitos das mulheres, dos negros, das comunidades indígenas, da população das favelas, dos LGBTI, dos artistas, dos jornalistas. Não se pejam em estimular a truculência, o direito da polícia matar sem restrições. Orgulham-se de defender a ditadura, a tortura e os torturadores.

​Porém, é necessário entender que as declarações escandalosas dos bolsonaristas não são fruto de simples ignorância. Elas emolduram um projeto de país, que não pode ser, e não é, o nosso projeto, mas de uma pequena e privilegiada parte da população.

​Este projeto encontra sua mais acabada expressão matemática no orçamento mutilado, despido quase completamente dos investimentos sociais. A grande maioria da população não cabe neste orçamento, não cabe no projeto dos privilegiados.

​Quando vemos uma pessoa que passa fome, que não tem emprego, espezinhada, humilhada, podemos reagir de formas diversas. Podemos considerar essa situação o resultado da preguiça, da incompetência ou um mero castigo de Deus (por quais pecados?). Ou podemos procurar entender as causas desta tragédia social e defender providências restauradoras da dignidade humana.

É neste conflito de posturas que estamos mergulhados hoje. Para nós, a opção é clara: defender o direito a uma existência plena, com homens e mulheres tendo integral a acesso a seus direitos e a todo conhecimento e riqueza acumulados pela Humanidade.

​*Não rir nem chorar, mas compreender – frase célebre do filósofo Baruch Espinoza

Angelo Vanhoni é presidente do Diretório Municipal do PT- Curitiba​