O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) se diz candidato a presidente da República, mas o vídeo de Michelle Bolsonaro (PL) em Fortaleza destravou a maior crise do PL desde a prisão de Jair Bolsonaro (PL). A gravação escancara o rompante da ex-primeira-dama, que atacou frontalmente Ciro Gomes (PSDB-CE), desautorizou o deputado federal André Fernandes (PL-CE) e implodiu um arranjo político secreto costurado pelo próprio Jair Bolsonaro.
A transcrição do discurso, obtida pelo Blog do Esmael, mostra que Michelle rompeu todos os avisos internos para não afrontar a aliança com Ciro. Ela resgatou mágoas da campanha de 2022, denunciou ataques de Ciro à família e mobilizou o auditório contra o acordo articulado no Ceará.
No vídeo, Michelle afirma que “Ciro Gomes se orgulha de redigir a inelegibilidade de Bolsonaro”, revelando ressentimentos antigos da cúpula bolsonarista. Em seguida, dispara:
“Fazer aliança com um homem que é contra o maior líder da direita? Isso não dá. A pessoa continua falando que a família é de ladrão, é de bandido. Compara o presidente Bolsonaro a ladrão de galinhas.”
O ataque derrubou o segredo que o PL mantinha sobre o tema. A transcrição revela que Michelle também respondeu aos líderes do estado, que tentavam acalmar o clima no palco. Em outro trecho, ela diz:
“Eu adoro o André, tenho orgulho de você, mas essa aliança vocês se precipitaram em fazer.”
André Fernandes disputou o segundo turno contra o PT nas eleições de 2024, quando foi derrotado por Evandro Leitão na corrida pela Prefeitura de Fortaleza.
O discurso desmonta publicamente o arranjo que tinha sido autorizado por Jair Bolsonaro em maio, em uma ligação telefônica em viva-voz, conforme confirmou André Fernandes, diante da cúpula partidária. O acordo previa apoio informal do PL a Ciro para enfrentar o governador Elmano de Freitas (PT-CE) em 2026, em troca da construção da candidatura ao Senado do pastor Alcides Fernandes (PL-CE), pai de André.
A fala de Michelle rompeu essa engenharia política e acendeu um conflito na família Bolsonaro. Flávio acusou a madrasta de “autoritarismo”. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carlos Bolsonaro (PL-RJ) endossaram a crítica, lembrando que o acordo com Ciro tinha aval explícito do pai. A divisão expôs a disputa por comando no bolsonarismo com Jair Bolsonaro preso e fora do jogo.
A ex-primeira-dama reforçou ainda sua recusa em negociar com quem considera adversário ideológico:
“Eu sou cristã, não vou negociar os meus valores custe o que custar.”
E defendeu Eduardo Girão (Novo-CE), que tenta se viabilizar ao governo:
“Nós vamos nos levantar e trabalhar para eleger o Girão. O improvável.”
Para dirigentes do PL, o trecho final do vídeo é o mais delicado, porque introduz um subtexto político e emocional ao acordo que havia sido firmado nos bastidores:
“O nosso maior líder está preso, mas ele tem alma livre, porque ele sabe que não é corrupto.”
Entre líderes do PL e do Centrão, a avaliação unânime é que Michelle sabotou um movimento considerado estratégico e respaldado pelo partido. Ciro, que trocou o PDT pelo PSDB, vinha se aproximando de setores conservadores para tentar romper a hegemonia petista no Ceará. Bolsonaro via nessa aliança uma oportunidade de enfraquecer o PT num dos seus redutos mais sólidos.
A crise, agora pública, desmonta a ponte Bolsonaro–Ciro e inaugura uma guerra interna no PL. A disputa não é apenas sobre a vaga ao Senado no estado. É sobre liderança, herança política e o futuro de um bolsonarismo sem Bolsonaro no comando diário.
A guerra não termina no Ceará. Ela apenas começou.
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Jornalista e Advogado. Especialista em política nacional e bastidores do poder. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.




