No fim de semana, a Índia se tornará o centro das atenções globais ao sediar a cúpula do G20, um evento que exibirá seu crescente poder econômico e influência diplomática.
Entretanto, por trás dessa fachada de prosperidade e diplomacia, o país enfrenta uma ameaça interna: a crescente polarização religiosa promovida pelo líder indiano, o Primeiro-Ministro Narendra Modi.
Essa história é contada pelo jornal americano The New York Times, que se ressente pelo fato de a Índia ser um dos pilares do BRICs e torcer o nariz para a guerra na Ucrânia.
A cúpula global está sendo realizada em um luxuoso resort de golfe ao sul de Nova Déli, onde diplomatas de todo o mundo se preparam para o evento.
No entanto, a apenas alguns quilômetros de distância, as cicatrizes da violência religiosa ainda estão visíveis.
Recentemente, o distrito de Nuh, onde o resort está localizado, foi palco de violentos confrontos religiosos que resultaram em perdas humanas, veículos incendiados e lojas e casas destruídas.
Essa situação exemplifica as contradições da Índia, que busca um papel maior em um mundo caótico.
Por um lado, o país é a nação mais populosa do mundo e a economia que mais cresce entre as grandes potências, com uma população jovem e ávida por oportunidades.
Por outro lado, Modi está aprofundando as divisões religiosas no país, que é mantido unido por uma constituição secular, ao buscar transformá-lo em um estado hindu.
A campanha de Modi para promover o hinduísmo como parte central da identidade indiana tem marginalizado centenas de milhões de muçulmanos e outras minorias religiosas, relegando-os a cidadãos de segunda classe.
Isso levanta a questão de até que ponto a instabilidade gerada pelo nacionalismo religioso de Modi prejudicará suas ambições econômicas, já que ele busca estender seu governo em uma eleição prevista para o próximo ano.
Os confrontos sectários em Nuh foram desencadeados por uma marcha religiosa organizada por um grupo hindu de extrema-direita, que faz parte da mesma coalizão nacionalista hindu do partido de Modi.
No entanto, essa não foi uma ocorrência isolada.
Grupos vigilantes de extrema-direita e a retórica agressivamente hindu do partido de Modi têm deixado muçulmanos e cristãos do país em constante estado de medo e alienação.
Em outras regiões do país, como Manipur, conflitos étnicos inflamados pelas políticas majoritárias do BJP têm causado derramamento de sangue e divisões étnicas.
No restante de Caxemira, uma região de maioria muçulmana, a democracia foi suspensa por quatro anos, e qualquer reclamação é recebida com uma repressão implacável.
Modi afirma que não há discriminação religiosa na Índia, mas a retórica divisória de seu partido persiste mesmo quando ele está em cena global.
Durante um evento em 2020, enquanto ele e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, discursavam em Gujarat, Nova Déli estava envolta em violentos distúrbios incitados em parte por líderes do BJP.
Muitos, como Gurcharan Das, que apoiou Modi em seu primeiro mandato por suas promessas de desenvolvimento, estão agora desencantados com o dano causado pelo nacionalismo hindu do partido.
Das reconhece as reformas econômicas empreendidas pelo governo, mas alerta que a Índia está seguindo um caminho perigoso, rumo ao fundamentalismo religioso semelhante ao que afligiu o vizinho Paquistão.
Apesar do crescimento econômico, a grande maioria da população indiana ainda aguarda a prometida prosperidade.
Embora a Índia seja a quinta maior economia do mundo, a renda média permanece entre as mais baixas, ao lado de países como o Congo.
Em uma recente entrevista, Modi afirmou que a Índia será uma nação desenvolvida quando celebrar seu centenário de independência em 2047.
No entanto, enquanto essa promessa ainda está distante, ele preenche a lacuna com uma política de polarização.
O diretor do Instituto de Gestão de Conflitos de Nova Déli, Ajai Sahni, destaca que o governo de Modi se diferencia de seus antecessores pelo apoio explícito a posições extremistas.
A violência, embora episódica, é agora amplificada pela viralidade das redes sociais, espalhando episódios locais para todo o país.
À medida que a Índia enfrenta a encruzilhada entre seu crescimento econômico e a polarização religiosa, o mundo observa atentamente como o país equilibrará essas forças opostas durante sua hospedagem na cúpula do G20.
O futuro da Índia como potência global dependerá, em última análise, da capacidade de seu líder de reconciliar essas divisões internas e promover uma sociedade mais inclusiva e harmoniosa.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voou para Nova Déli, após celebrações 7 setembro, para assumir a presidência rotativa do G20.
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