É importante deixar a hipocrisia de lado para discutir política de forma séria. Esqueça seu tio ou cunhado do WhatsApp por alguns instantes.
A direita não tem força para chegar sozinha ao 2º turno presidencial. Somando generosamente os seis nomes dela –Ciro Gomes, Henrique Mandetta, João Amoêdo, João Doria e Eduardo Leite— tem-se entre quinze e 20% das intenções de voto. Generosamente, frisa-se.
O presidente Jair Bolsonaro tem 30%, em segundo lugar, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera o certame com 34%, segundo o último levantamento do DataPoder.
A velha mídia tenta seduzir setores desavisados da esquerda –e do “verdadeiro centro”– a derem carona para a direita numa frente ampla, que, após a travessia do Rubicão, se reuniria [inclusive com o derrotado] contra o candidato do PT.
Os barões da mídia corporativa tentam uma espécie de ‘voluntarismo’ das forças vivas brasileiras, que estão cansadas, do negacionismo, da omissão, das mortes e do avanço da pandemia no País; os espertalhões dos jornalões buscam a legitimação pelo voto do aprofundamento do neoliberalismo, qual seja, para que meia dúzia continuem ganhando enquanto milhões padecem.
A fórmula eleitoral é manjadíssima. Remete à fábula do sapo com o escorpião, que precisa do anfíbio para cruzar o rio. Na margem oposta, pela sua natureza, o peçonhento sempre fulmina seu companheiro de viagem.
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Lula acha que derrota Bolsonaro no segundo turno de 2022. O inverso é verdadeiro, na opinião de Bolsonaro, que acredita ser mais fácil ganhar do petista no ano que vem.
Sem voto, a direita tenta fórmulas falcatruas do tipo ‘nem genocida, nem corrupto’ como se ela fosse a paladina da moral e dos bons costumes. [Aqui, lembre-se de Nelson Rodrigues: “Por trás de todo paladino da moral, vive um canalha.”]
Portanto, o ex-presidente Lula e o ex-senador Roberto Requião –por caminhos diferentes— se opõem à frente ampla em 2022.
Lula rejeita à ideia porque sabe que ela irá se virar eleitoralmente contra ele, mas sonha em agrupar parte de suas propostas –como a privatização da Caixa, Eletrobras e Furnas [vide a entrevista do petista a Reinaldo Azevedo, na BandNew].
Já Requião aceita a frente ampla desde que em cima de propostas, programas, com referendos revogatórios, para então só depois amoldar o nome ao arco de alianças.
Como se vê, o confronto Bolsonaro x Lula, em 2022, interessa a ambos, enquanto a frente ampla interessa somente à direita [leia-se à velha mídia golpista e aos bancos, que se disfarçam de “mercado” tal qual o diabo aparece por aí em forma de “bom moço” para enganar o distinto público].
Se a velha mídia golpista se interessasse em tirar Bolsonaro, de verdade, concordaria com o impeachment já. No entanto, desde o ano passado, quando se formou as condições políticas e jurídicas para o impedimento no Congresso, banqueiros e donos da mídia, que agora advogam pela frente ampla, não quiseram arriscar seus fabulosos lucros –a despeito do desemprego, da fome e do empobrecimento de milhões de brasileiros.
Jornalista e Advogado. Desde 2009 é autor do Blog do Esmael.