A cruzada de Lula contra o preço abusivo da gasolina e contra o desmonte da Petrobras

O ex-presidente Lula abriu uma nova cruzada na quinta-feira (03/02), durante entrevista à RDR – Rede de Rádios Paraná, contra o abusivo preço cobrado pelos combustíveis hoje no Brasil. O petista explicou que a gasolina já passa de R$ 8 em alguns estados porque o governo Bolsonaro insiste na política de dolarização de preços na Petrobras, que é uma empresa pública, que deveria cuidar dos interesses nacionais e da nossa população. Na oportunidade, Lula ainda anunciou apoio à pré-candidatura de Roberto Requião (sem partido) ao governo do Paraná.

“Veja que coisa absurda: o preço do petróleo está internacionalizado. A gente está pagando gasolina e óleo diesel a preço em dólar. Isso seria compreensível se o Brasil não fosse autossuficiente, se o Brasil estivesse importando (gasolina e diesel) porque não tem petróleo. Mas o Brasil tem petróleo e é autossuficiente”, disse Lula.

E há dois motivos para a Petrobras praticar preços em dólar para combustíveis que são produzidos aqui no Brasil, observou Lula. O primeiro é garantir mais lucro aos acionistas da empresa, em grande parte gente rica de outros países. Vale lembrar que, no ano passado, a empresa pagou a esses acionistas nada menos que R$ 63,4 bilhões.

A outra razão é ajudar as empresas norte-americanas a vender sua gasolina no Brasil. Se não fossem os preços em dólar da Petrobras, o combustível importado seria muito mais caro, e ninguém, em sã consciência, o compraria no Brasil. Então o que o governo Bolsonaro faz? Aumenta o preço da gasolina brasileira para que a americana também tenha espaço.

“Hoje, nós temos no Brasil mais de 400 empresas privadas importando gasolina dos Estados Unidos”, informou Lula. “A responsabilidade de quem está dirigindo este país é entregar para a iniciativa privada, que vai comprar gasolina dos Estados Unidos e vender para a gente a preço de dólar. Os coitados dos motoristas de caminhão, por essas estradas, não conseguem ganhar dinheiro porque gastam tudo com óleo diesel”, completou.

Governo Bolsonaro confirma

A prova de que Lula fala a verdade vem do próprio governo. Também na quinta-feira, o general que Bolsonaro colocou para comandar a Petrobras, Joaquim Silva e Luna, disse, em um evento organizado por um banco internacional, que “o abastecimento do mercado tem que ser uma oportunidade para todos” (todos, leia-se, empresas estrangeiras). Ele também deixou claro que a estatal brasileira, sob sua gestão, não se preocupa com a população, ao dizer que “a Petrobras tem responsabilidade social, mas não pode fazer política pública”.

Economia

Por que não pode se é uma empresa pública, criada pelo povo brasileiro e que pertence ao povo brasileiro? Que durante os governos Lula e Dilma não só manteve o preço dos combustíveis estáveis como também investiu no país, gerando novas tecnologias e milhões de empregos?

Por isso, Lula tem denunciado que uma das razões do impeachment fraudulento contra Dilma Rousseff foi a decisão dos governos do PT de usar a Petrobras e o petróleo do pré-sal como ferramentas de desenvolvimento do Brasil.

“Essa é uma das razões por que deram o golpe na Dilma. Como nós fizemos uma nova lei do petróleo, que garantia que o petróleo fosse do povo brasileiro, que garantia a criação de um fundo de desenvolvimento com o dinheiro do petróleo para a educação, a saúde e a ciência e tecnologia, e tinha uma empresa criada para administrar as riquezas do pré-sal, como é feito na Noruega, então eles não se aquietaram até mudar”, disse o ex-presidente à RDR.

Soberania x interesses estrangeiros

O fato de que, após o golpe, toda a política relacionada ao petróleo mudou para favorecer os acionistas e produtores de combustível norte-americanos é mais uma fortíssima evidência de que todo o processo iniciado pela Lava-Jato para tirar Dilma e prender Lula atendia a interesses estrangeiros.

Não por acaso, como mostraram mensagens de celular vazadas, autoridades americanas e europeias deram todo tipo de apoio aos procuradores de Curitiba e ao ex-juiz Sergio Moro, que, após concluir o serviço sujo, acabou indo “trabalhar” em Washington para a empresa Alvarez & Marsal, onde ganhou, em apenas 10 meses, R$ 3,5 milhões. Um episódio, por sinal, que ainda precisa ser explicado e que levou o deputado federal Rui Falcão (PT-SP) a pedir investigação à Procuradoria-Geral da República (PGR).

Agora, de volta ao país como presidenciável, Moro é um dos que defendem a privatização definitiva da Petrobras, o que representaria um duro golpe na soberania do país e o fim das chances de o Brasil utilizar a riqueza do pré-sal para se desenvolver e melhorar as condições de vida da população.

Por um governo que goste do Brasil

Na entrevista à RDR, Lula lembrou que, após o golpe, toda a política que garantiria o uso do pré-sal para desenvolver o país e garantir gasolina barata aos brasileiros começou a ser desmontada. “Quando eu estava no governo, estávamos fazendo o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e as refinarias em Pernambuco, Ceará, Maranhão e Rio Grande do Norte”, recordou.

Com um conjunto de refinarias, o Brasil poderia retirar o petróleo do pré-sal e transformar em gasolina e óleo diesel, produzindo o suficiente para vender a um bom preço para os brasileiros e ainda exportar para outros países, não o petróleo bruto, mas derivados, que são muito mais valiosos e, logo, trariam mais dinheiro para o país.

Mas o que tem sido feito? Não só a construção de outras refinarias foi interrompida como as feitas por Lula e Dilma estão sendo vendidas a grupos internacionais, que já começam a praticar no Brasil preços mais altos, dolarizados (veja a série de vídeos sobre o desmonte da Petrobras ao fim desta matéria). E, para fingir que não tem culpa no cartório, Bolsonaro se finge de indignado e culpa os impostos pelo alto preço. Puro teatro.

É por tudo isso que Lula tem dito que, se for candidato e venha a ser eleito, vai interromper o processo de desmonte e venda da Petrobras e não vai mais dolarizar os combustíveis produzidos aqui.

“Não é possível que este país não goste de si. Que a gente não tenha um governo que não goste do Brasil”, lamentou Lula. “Os acionistas de Nova York, os acionistas do Brasil têm direito de receber dividendos dos lucros da Petrobras. Mas a Petrobras tem que cuidar do povo brasileiro. Eu não posso enriquecer o acionista americano e empobrecer a dona de casa que vai comprar um quilo de feijão e paga um preço mais caro por conta do preço da gasolina”, argumentou.