Deltan Dallagnol avaliou que ‘seria facilmente eleito’ para o Senado em 2022, revelam mensagens vazadas

Há dois anos o site The Intercept Brasil, na série de reportagens da Vaza Jato, trouxe um inusitado diálogo do então procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa Lava Jato, que travava consigo mesmo [sic] no aplicativo do Telegram: “Tenho apenas 37 anos. A terceira tentação de Jesus no deserto foi um atalho para o reinado. Apesar de em 2022 ter renovação de só 1 vaga e de ser Álvaro Dias, se for para ser, será. Posso traçar plano focado em fazer mudanças e que pode acabar tendo como efeito manter essa porta aberta”, escreveu, em 29 de janeiro de 2018, numa longa mensagem enviada para ele mesmo, anotaram na época os jornalistas Rafael Moro Martins e Rafael Neves.

Sabendo da armação, Alvaro Dias (Podemos-PR) desde então trabalhou diuturnamente para cooptar a turma da Lava Jato –e obteve 100% de êxito. O parlamentar paranaense está prestes a filiar no próximo dia 10 de novembro o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol no Podemos.

“Sempre, desde o primeiro momento, quando eles eram semideuses e com o apoio da grande mídia, eu já os desmascarava. E qual era o pano de fundo? Eles eram um partido político, com objetivos político-partidários e visavam ao poder. Simples assim”, registrou nesta sexta-feira (05/11) no Blog do Esmael o advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Os escritos de Deltan para ele mesmo ocorreram há quase quatro anos. Desde priscas eras, como mostram as mensagens vazadas, o ex-chefe da Lava Jato já estudava deixar o cargo no Ministério Público para se aventurar na carreira política. Ou seja, sua decisão pela exoneração foi milimetricamente premeditada.

“Lutar pela renovação enquanto cidadão, pedindo exoneração: esta seria a solução ideal pela perspectiva da credibilidade (não seria político, mas ativista) e de intensidade (“Não vote em Fulano). Perderia um pouco de credibilidade e visibilidade, por deixar a posição pública de coordenador da operação. Não teria riscos de corregedoria. Poderia me dedicar integralmente às 10+”, escreveu Deltan Dallagnol, sempre para ele mesmo.

A ideia de concorrer ao Senado surgiu pela primeira vez em 2016. A proposta foi ventilada pelo também procurador Vladimir Aras, primo do atual procurador-geral da República Augusto Aras.

Economia

“Vc tem de pensar no Senado”, disse Aras a Deltan. Segundo avaliação do primo do atual PGR, o então procurador da Lava Jato se elegeria “fácil” e impediria um dos inimigos da força-tarefa no Senado — Roberto Requião ou Gleisi Hoffmann— se reelegessem. Não permaneceram no Senado Requião nem Gleisi, que se elegeu deputada federal pelo Paraná e preside o PT nacional.

Em fevereiro de 2018, Deltan disse em grupo no Telegram que “pelas pesquisas, estaria eleito ao Senado”.

Deltan Dallagnol pediu exoneração do Ministério Público, cargo vitalício com salário de R$ 37 mil por mês, para tentar a sorte na política. Como você viu no início deste texto, o ex-procurador da Lava Jato já planejava essa reviravolta na carreira desde 2018, ou seja, nada tem a ver com altruísmo e combate à corrupção como ele e Moro tentam fazer crer. Aliás, acredita quem quer nesses vendedores de óleo de capivara.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL), pelo Twitter, comentou a oficialização da “entrada” do ex-coordenador da Lava Jato na política. “’Dallagnol vai entrar na política’ é modo de dizer. Ele não fez outra coisa na Lava Jato, só politica. Por isso foi denunciado e punido pelo CNMP, por isso foi apanhado em flagrante na Vaza Jato e na Spoofing, por isso eu o processei, ganhei a causa e o condenei duas vezes.”

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