Povo na rua para derrotar intentona golpista de Bolsonaro, por Milton Alves

Por Milton Alves*

O presidente Jair Bolsonaro continua apostando no quanto pior, melhor — pra ele no caso: A decisão de realizar um desfile de tanques e de carros de combate nas cercanias da Praça dos Três Poderes tem um significado político claro e inequívoco. Na área estão localizados o Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo, o Supremo Tribunal Federal {STF] e o Congresso Nacional, sede do parlamento brasileiro.

A opinião de diversos analistas políticos aponta para um mais ato de provocação, é verdade — principalmente com a possibilidade de uma desmoralizante derrota da pantomima bolsonarista do voto impresso no plenário da Câmara dos Deputados nesta terça-feira [10].

No entanto, o atual ato de provocação do governo da extrema direita é diferente de todos os anteriores — que já foram graves e perturbadores. Dessa vez, Bolsonaro envolveu diretamente os comandantes militares das Forças Armadas. Os militares participam, conjuntamente, da provocação — uma aberta intimidação às instituições e aos opositores, sem precedentes, após o fim do regime militar em 1985.

O que pretendem Bolsonaro e os militares com o desfile de tanques e blindados nas ruas da capital do país? Somente intimidar os congressistas ou uma demonstração da unidade governo-FFAA? Ou ir mais adiante, preparando o terreno para uma investida maior. Ou como dizem os próprios militares: implementar ações de aproximações sucessivas e estrategicamente planejadas.

A reação das desgastadas instituições da República foi mais uma vez tíbia e omissa diante da “tanqueata” bolsonarista. Dias Toffoli, ministro do STF, com a covardia de sempre, empurrou a decisão do julgamento da ilegalidade do desfile de comboio militar para o Superior Tribunal de Justiça [STJ]. A ação foi protocolada pelo PSOL e a Rede — uma típica atitude parlamentar adotada em caso de normalidade democrática, portanto precária para o momento. Nada além disso — e nem assim o ministro do STF teve a coragem de tomar uma decisão.

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Por sua vez, a velha direita neoliberal — seus partidos e lideranças — hegemônicos no Congresso continuam com a nefasta política de “contenção” de Bolsonaro e não usam a força das instituições que controlam para apeá-lo da presidência. Afinal, a boiada neoliberal é um ótimo negócio. Até porque a vocação golpista é parte integrante do DNA da velha direita — foi o golpe contra a presidente Dilma Rousseff, em 2016, que abriu caminho para a chegada de Bolsonaro ao governo.

Só o povo na causa, ou melhor, na rua

A nota dos nove partidos da oposição – PT PSB, PCdoB, PDT, PT, REDE, PSOL, PSTU, Solidariedade e UP – foi fraca, tímida, e não convocou para uma urgente mobilização popular contra a provocação à lá general Kornilov do governo bolsonarista. Um sinal de fraqueza. É o momento da oposição de esquerda subir o tom e deixar de lado o reboquismo e as ilusões com os podres poderes.

A provocação golpista de Bolsonaro e do comando das Forças Armadas é gravíssima e exige uma pronta resposta da esquerda e do conjunto das forças democráticas da sociedade. É a hora de convocar uma resistência ativa nas ruas para barrar o tour de force da extrema direita. Uma grande jornada nacional em defesa das liberdades democráticas, mobilizando as entidades da sociedade civil, os movimentos sociais e, sobretudo, a população trabalhadora.

Não há atalhos e não há uma varinha mágica para derrotar o governo Bolsonaro e seus impulsos autoritários. Em particular para o PT e a “Campanha Fora” resta o árduo caminho da resistência ativa e de massas, sustentada a partir das bases sociais dos trabalhadores e do povo mais pobre, os mais afetados pela política genocida e de exclusão social.

*Milton Alves é ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial. Escreve semanalmente em diversas mídias progressistas e de esquerda.