Facada em Bolsonaro alimenta a teoria da conspiração há três anos; fato ou fake?

Daqui a 10 dias, exatamente em 6 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro deverá fazer um novo pronunciamento acerca da facada que ele levou, em Juiz de Fora (MG), durante a campanha no primeiro turno de 2018. A data lembrada coincidirá com uma manifestação de bolsonaristas, no Sete de Setembro, contra o STF, TSE, Congresso, voto eletrônica, esquerda, Papa, Nicolás Maduro, Alberto Fernandes, Foro de São Paulo, etc.

Independente da maluquice dos bolsonaristas que estarão nas ruas no 7 de setembro, com participação direta de Bolsonaro, o atentado perpetrado pelo “lobo solitário” Adélio Bispo de Oliveira ainda alimenta a teoria da conspiração três anos depois. Tanto a direita e a esquerda levantam teses sobre o fato que modificou o resulta das urnas em 2018.

  • Bolsonaro foi mesmo esfaqueado?
  • Então, porque Bolsonaro não sangrou?
  • Quem diz que o criminoso agiu sozinho?
  • São verdadeiros esses “problemas psíquicos” do Adélio?
  • Quem mandou matar Bolsonaro e por quê?
  • Por que o cirurgião era especialista em câncer?
  • Por que Adélio frequentou o mesmo clube de tiro de Carluxo?

Na metade deste mês de agosto, o ex-ministro José Dirceu fazia análise de conjuntura quando disse que “se a Dilma governasse até o final do governo dela e o Lula sendo candidato em 2018, nós venceríamos a eleição. Aliás, ele venceria em 2018 com tudo que aconteceu ou, em liberdade, elegeria o Haddad… A possibilidade era grande, podia acontecer qualquer fato como acontece às vezes que impedisse isso, ou erros nossos, como foi a facada ao Bolsonaro”.

Pois bem, parlamentares bolsonaristas distorceram a fala de Dirceu. Eles quiseram entender que “José Dirceu tem que ser investigado urgentemente por essa declaração de que foi um erro “nosso” a facada em Bolsonaro”. No entanto, o ex-ministro não se referia à facada como um “erro nosso”, mas sim como um fato imprevisível.

“Minha fala é uma lista de fatos imprevisíveis na política, que poderiam impedir a eleição do Lula ou do Haddad em 2018. Dentre eles, possíveis erros nossos E a facada em Bolsonaro. Coisas diferentes, compondo a mesma listagem de fatos imprevisíveis”, tuitou Dirceu.

A tese de que a “facada forjada” foi considerada pela polícia, mas não aprofundada porque a cena do ataque foi registada por câmaras. Além disso, havia vestígios do DNA de Bolsonaro na lâmina e os médicos que o atenderam confirmaram o ferimento. No entanto, isso não eximiu da deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), numa entrevista, lançar mais dúvidas sobre a existência da facada.

Economia

“Eu viajei algumas vezes com o presidente bem naquela época do quente da campanha e, numa daquelas viagens, a gente tava fazendo Rio Preto, Ribeirão, Araçatuba, aquela região ali, e em uma das cidades, eu acho que foi Araçatuba, eu tava no carro com ele, aquela multidão e tal e toda vez que eu estava com ele, eu fazia ele sair de colete. Então as vezes tava calor e ele tava de manga comprida por conta do colete. E aí, na volta a gente entrou no carro e ele olhou pra mim assim e eu falei: ‘olha, você tem que tomar cuidado, muita gente, questão de segurança’, ai ele falou assim: ‘olha, se eu tomasse uma facada, eu ganhava a eleição’. Ele usou essa frase acho que uns 10, 15 dias antes. E eu falei: ‘ah, fica quieto, vira essa boca pra lá’”, relatou no começo deste julho a deputada do PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito.

A deputada deu a entender que ou Bolsonaro é vidente ou planejou tudo aquilo –e facada não passou de um espetáculo.

Fato ou fake? Ainda há um longo caminho para descobrirmos o que realmente aconteceu naquele “verão passado” do senhor Jair Messias Bolsonaro e outros envolvidos no episódio da facada.

Adélio Bispo continua na prisão de segurança máxima de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde ficará detido, pelo menos, até junho de 2022. Ele se recusa reconhecer os diagnósticos de psicólogos e psiquiatras, que lhe descrevem como portador de “transtorno delirante persistente, alucinações, sensação de perseguição e desconexão com a realidade”.

Se a facada ajudou Bolsonaro vencer em 2018, teria sido melhor que esse atentado nunca tivesse ocorrido. O Brasil estaria melhor, por óbvio, com a vacinação mais avançado, com mais emprego, sem risco de apagão, combustíveis mais baratos, auxílio emergencial de um salário mínimo, tarifas de água e luz mais módicas, menos ódio, enfim, o Ibope do presidente não anda nada bom. Seu adversário, Lula, vence no primeiro turno, segundo todas as pesquisas de opinião. É por isso que Jair Bolsonaro tenta forçar a barra para um “autogolpe” –ou simplesmente golpe. É por isso que a Globo luta por uma “terceira via”, que não existe.