Bolsonaro entra na lista de “predadores da liberdade de imprensa” da Repórteres Sem Fronteiras

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) revelou nesta segunda-feira (5) a edição 2021 do relatório “predadores da liberdade de imprensa”. O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, integra pela primeira vez a lista composta por 37 chefes de Estado ou de governo que “impõem uma repressão em massa da liberdade de imprensa no mundo”, diz a ONG internacional. Além de “tiranos veteranos”, a edição 2021 tem a particularidade de citar pela primeira vez duas mulheres e um europeu.

A última lista dos “predadores da liberdade de imprensa” da RSF foi publicada em 2016. Nesta edição 2021, quase a metade (17) dos citados entrou para a lista pela primeira vez.

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Todos os 37 chefes de Estado ou de governo restringem a liberdade do exercício do jornalismo com a “criação de estruturas de censura, a detenção arbitrária de profissionais da mídia, a incitação à violência contra os jornalistas”, escreve a ONG. Há, inclusive, predadores que estão diretamente ligados a assassinatos de profissionais da mídia, como o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, envolvido na morte atroz do jornalista saudita Jamal Khashoggi.

Economia

Entre os chefes de Estado ou de governo citados, 16 representam países que integram a pior posição do relatório anual da RSF sobre a liberdade de imprensa e 19 vêm de países que figuram na lista vermelha, como o Brasil, onde o exercício do jornalismo é considerado difícil. A média de idade dos predadores é de 66 anos, e mais de um terço deles (13) são provenientes da região Ásia-Pacífico.

“Cada um desses predadores tem um método particular. Alguns impõem o terror com ordens irracionais e paranoicas. Outros, criam estratégias baseadas em leis restritivas. Temos de impedir que suas formas de impor a repressão se tornem o ‘novo normal’”, declarou o secretário-geral da organização, Christophe Deloire.

Novos predadores
Para cada predador, a RSF publica um perfil, revelando seus métodos de repressão e censura. Sobre o Jair Bolsonaro, a organização diz que o presidente brasileiro alimenta um clima de ódio e desconfiança.

“Ameaças, agressões, assassinatos… O Brasil continua sendo um país particularmente violento para a imprensa, em que muitos jornalistas são mortos em conexão com seu trabalho”, principalmente em cidades de pequeno e médio porte, indica a RSF. Segundo a ONG, “o trabalho da imprensa brasileira se tornou especialmente complexo desde que Jair Bolsonaro foi eleito presidente, em 2018. Insultos, difamação, estigmatização e humilhação de jornalistas passaram a ser a marca registrada do presidente brasileiro”, afirma o texto.

A crise provocada pela Covid-19 piorou ainda mais a situação. “A pandemia de coronavírus expôs sérias dificuldades de acesso à informação no país e deu origem a novos ataques do presidente contra a imprensa, que ele rotula como responsável pela crise e que tenta transformar em verdadeiro bode expiatório.”

A RSF lembra que “a mídia brasileira ainda é bastante concentrada, principalmente nas mãos de grandes famílias, com frequência próximas da classe política. O sigilo das fontes é regularmente prejudicado e muitos jornalistas investigativos são alvo de processos judiciais abusivos”.

Velhos tiranos
Além de Bolsonaro e Mohammed bin Salman, também entraram na galeria dos tiranos da liberdade de imprensa o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, defensor autoproclamado da democracia “iliberal”. As duas mulheres que entraram para o rol são Carrie Lam, que dirige Hong Kong e reprime a mando de Pequim o movimento pró-democracia do território semiautônomo chinês, e a primeira-ministra de Bangladesh, Sheikh Hasina, que comanda o país desde 2009.

Entre os “predadores históricos”, que figuram na “sinistra lista” da RSF há mais de 20 anos, estão o presidente sírio, Bachar al-Assad, o guia supremo do Irã, Ali Khamenei, e os presidentes russo, Vladimir Putin, e bielorusso, Alexandre Lukashenko, sem esquecer os africanos Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, da Guiné Equatorial, Paul Kagamé, de Ruanda, e Issaias Afwerki, presidente da Eritreia.

Por RFI