O outro lado da notícia, pelo viés da velha mídia

Nas manchetes dos jornalões nesta segunda-feira (14/6), assuntos distintos. Folha destaca que São Paulo antecipa em um mês calendário de vacinação. Estadão informa que o imposto sobre múltis pode render R$ 5,6 bi ao ano ao país, enquanto O Globo relata que governo Bolsonaro edita MP que amplia poder do governo, por conta do racionamento. O Valor vem de economia: Inflação e atividade dobram o resultado primário de estados e a edição brasileira do El País foca na situação da Região Norte: As crises simultâneas que engolem o Amazonas: cheia, violência e covid-19.

De todas as manchetes, a mais relevante é a do Globo, reportando que a MP tira poderes da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama na gestão dos reservatórios de usinas hidrelétricas, num momento em que os níveis das principais barragens do sistema estão em mínimos históricos. A MP também daria mais poder ao Ministério de Minas e Energia sobre concessionárias do setor elétrico e de petróleo e gás para adoção de medidas com vistas a garantir o abastecimento este ano. O governo pretende ainda ampliar os incentivos financeiros para que grandes consumidores de energia, especialmente a indústria, reduzam o consumo nos horários de pico. Tudo isso seria justificado pelo governo para evitar racionamento de energia.

Um tema que vale a pena ser explorado está no Valor: o Brasil registrou novos retrocessos em seu ambiente institucional no último ano e caiu da quarta para a sexta posição no Índice de Capacidade de Combate à Corrupção (CCC) de 2021. O país teve a maior queda entre os 15 casos analisados e sua pontuação geral caiu 8% em relação a 2020, ficando atrás de Uruguai, Chile, Costa Rica, Peru e Argentina. O Brasil segue em trajetória de queda no Índice CCC desde 2019.

Outro tema interessante que vale denúncia está na Folha: governo não paga auxílio a mais de 400 mil na fila do Bolsa Família. Beneficiários comprovaram situação de pobreza, mas não foram incluídas na nova rodada do programa. Eles estão na fila de espera do Bolsa Família e ficaram sem o auxílio emergencial neste ano, apesar de o governo Bolsonaro dizer que os recursos para o pagamento da assistência emergencial na pandemia estão sobrando.

No Estadão, o cientista político Francisco Weffort dá entrevista e acusa Bolsonaro de não obedecer às regras de um sistema democrático. “Não vejo Bolsonaro como agente da democratização, ele fala que é democrata e que a democracia está ameaçada, mas não o comparo a nenhum dos líderes autoritários democráticos que já tivemos”, opina. Na avaliação dele, é muito difícil um país com o espírito regional forte, como o Brasil, virar uma ditadura.

Na política, Folha informa que os ataques de Ciro Gomes a Lula incomodam alas do PDT como estratégia inútil e de risco para eleições locais. “Presidenciável sofre pressão de correligionários para mudar tom e se reaproximar do petista, mas ele resiste”, diz a linha fina. “A insatisfação de alas do PDT com a postura deixou os bastidores e começou a vir a público, com queixas de que a beligerância pode tirar de Ciro votos na esquerda, tem efeito limitado na tentativa de representar a terceira via e ainda prejudica a montagem de palanques locais da sigla”, reporta.

Economia

A má vontade da Folha, contudo, é patente. O jornal destaca no título de noticia que Lula fez comparação da máscara que estava usando no Rio a um cabresto, mas diz que a usa para se diferenciar de ‘genocida’. O lead da reportagem de Cátia Seabra informa que Lula acusou Bolsonaro de estar corrompendo ideologicamente militares com cargos em seu governo. “Levar o Pazuello para dentro o armário dele, para escondê-lo de uma punição das Forças Armadas, é uma afronta grave que o presidente da República não poderia fazer”, disse. Ele lamentou o que chamou de deformação do uso das Forças Armadas. “Bolsonaro está corrompendo ideologicamente os militares, enchendo de militares dentro do palácio, coisa que não precisa”, afirmou.

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Valor noticia que a CPI da Covid entrou em nova fase e vai “seguir o dinheiro” empenhado pelo governo na pandemia. O objetivo é apurar se a gestão de Bolsonaro atuou para favorecer empresas farmacêuticas ou intermediários próximos à família do presidente. A investigação mira, principalmente, na compra da vacina indiana Covaxin e no “lobby” que favoreceu produtores de cloroquina. Uma das finalidades é saber se integrantes do Executivo cometeram crimes como advocacia administrativa, tráfico de influência ou até desvio de recursos públicos.

Ainda sobre a CPI, Painel S/A da Folha informa que o senador Humberto Costa (PT-PE) anunciou que vai pedir que a Azul seja notificada por ter permitido a entrada de Bolsonaro em um avião com passageiros na sexta-feira. O presidente apareceu de surpresa em uma aeronave da companhia que estava parada no aeroporto de Vitória (ES). Foi vaiado por alguns passageiros e apoiado por outros com gritos de “genocida” e “mito”.

O Globo noticia que o General Santos Cruz classificou como esdrúxula conversa de ex-Secom sobre ‘mídia aliada’ e pede investigação. Mensagens reveladas pelo jornal mostram Fabio Wajngarten e o blogueiro Allan dos Santos preocupados com demora na liberação de verba da Caixa para “aliados”. Os diálogos foram obtidos pela PF e fazem parte do inquérito sobre os atos antidemocráticos.

TSE

Folha traz entrevista com a secretária-geral do TSE, Aline Osorio, coordenadora do enfrentamento à desinformação nas eleições, que defende ampliação de parcerias com plataformas. “Telegram é um grande desafio para 2022 e estamos buscando contato”, diz.

BRASIL NA GRINGA

Artigo de Michael Stott no Financial Times aborda o sucesso de López Obrador, do México, em manter estabilidade em meio à explosão de protestos na América Latina. “Por que o México de López Obrador é estável em uma América Latina propensa a protestos” – diz o título do artigo. “O presidente manteve-se popular durante a crise, enquanto protestos abalam os países vizinhos”.

“Enquanto os presidentes da América Latina lutam contra uma pandemia que atingiu seu povo e suas economias com mais força do que qualquer outra região, algo que os une é sua impopularidade. Sebastián Piñera do Chile e Iván Duque da Colômbia têm índices de aprovação de aproximadamente 18%. A avaliação de Jair Bolsonaro do Brasil está em 24% e Alberto Fernández da Argentina está em 32%”, compara. “O Peru passou por quatro presidentes em um ano. A agitação social está varrendo a região. Bloqueios longos, mas ineficazes, escândalos sobre vacinações precoces para os bem conectados e sobrecarregados serviços de saúde públicos e suporte inadequado para os mais vulneráveis alimentaram a ira popular. Mesmo antes da pandemia, a maioria dos latino-americanos tinha pouca fé em seus governos”.

“A exceção é o México. Aproximando-se da metade de seu mandato de seis anos no domingo da semana passada, o presidente Andrés Manuel López Obrador e seus aliados conquistaram uma série de governos estaduais e uma nova maioria no Congresso – vitórias que seus pares na região só podiam sonhar. Enquanto festejava seus sucessos eleitorais em uma entrevista coletiva na terça-feira, López Obrador ouviu seus ministros anunciarem que quase um em cada três da população adulta do México havia sido vacinado e as escolas estavam reabrindo. ‘Enquanto enfrentávamos a pandemia e havia uma crise econômica… o que eles me pediram para fazer?’, disse o presidente, referindo-se à elite mexicana. ‘Resgatar quem está de cima – e optamos por apoiar de baixo para cima, porque é assim que deve ser, pelo humanismo, pela justiça social e pela segurança'”.

Em sua edição dominical, o argentino Página 12 traz artigo de Eric Nepomuceno alertando que o Brasil está em um caminho para o autogolpe executado por Jair Bolsonaro. “O presidente deixou claro que exerce controle total sobre tudo, exceto a opinião pública. E se as projeções se confirmarem e Lula da Silva bater nas urnas, ele fará no Brasil o que seu ídolo Donald Trump tentou nos Estados Unidos: atropelar o eleitorado e ficar depositando sua humanidade na cadeira presidencial”, adverte. “A menos, é claro, que ele tente antecipar as eleições e dar um golpe a seu favor. Tudo é possível sob sua má gestão”.

O mesmo alerta está no português Diário de Notícias e parte do antropólogo Luiz Eduardo Soares: Bolsonaro vai recusar eventual derrota em 2022 e preparar golpe. O autor da obra “Dentro da noite feroz – O fascismo no Brasil”, Soares admite que Bolsonaro foi subestimado no passado e alerta para que “o mesmo erro não seja cometido”, de forma a evitar a reeleição do líder de extrema-direita no próximo ano. “Nós, democratas, progressistas e defensores dos direitos humanos, não podemos cometer o mesmo erro de novo, o erro de subestimá-lo. Bolsonaro continua a ser uma ameaça e um risco, seja de vitória eleitoral, em 2022, seja de golpe antes de 2022”, advertiu.

INTERNACIONAL

New York Times, Washington Post e Wall Street Journal destacam em manchete de primeira página a destituição de Benjamin Netanyahu do posto de primeiro-ministro de Israel depois de 12 anos no poder. Netanyahu abandonado enquanto o parlamento israelense vota no novo governo – destaca o NYT. “Uma coalizão improvável prevaleceu contra o líder mais antigo do país. Agora deve fazer com que suas facções díspares trabalhem juntas”, destaca. Israel aprova nova coalizão governamental, encerrando o mandato de 12 anos de Benjamin Netanyahu – relata o WP. Coalizão israelense derruba Netanyahu – informa o WSJ.

Financial Times dá como manchete principal o esforço de Joe Biden para conter a influência da China no mundo. Biden reúne aliados ocidentais em ‘competição’ global contra autocratas – destaca. “A China rebate que a cúpula do G7 expôs as ‘intenções sinistras’ dos Estados Unidos e seus parceiros”, relata. “O presidente dos Estados Unidos disse estar ‘satisfeito’ com o resultado da cúpula do G7 na Cornualha no domingo, mas pressionou os líderes europeus a serem mais ambiciosos ao apoiar uma alternativa à Iniciativa Belt and Road da China, oferecendo um amplo pacote de financiamento de infraestrutura aos países pobres. Os líderes europeus na cúpula, uma reunião das maiores economias avançadas do mundo, foram mais cautelosos quanto a antagonizar Pequim. Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido e anfitrião da cúpula, se recusou a mencionar o nome da China em sua entrevista coletiva de encerramento”.

Diário do Povo da China diz que o gigante asiático denuncia críticas do G7 sobre questões de assuntos internos. Um porta-voz da Embaixada da China no Reino Unido expressou forte oposição ao comunicado do G7, com críticas a Pequim por questões relacionadas à Região Administrativa Especial de Hong Kong da China, Xinjiang Uygur Região Autônoma e Taiwan. “Instamos os EUA e outros membros do G7 a respeitarem os fatos, reconhecerem a situação, parem de caluniar a China, parem de interferir nos assuntos internos da China, parem de prejudicar os interesses da China e façam mais coisas que conduzam à promoção da cooperação internacional em vez de artificialmente criando confrontos e atritos”, disse o porta-voz.

As informações são do “Deu na Imprensa” – 14/06/2021 – Fundação Perseu Abramo