Elisane Fank: Sobre democracia representativa, “eleições” de direção de escolas e o caso do CEP

A professora e pedagoga Elisane Fank, do Colégio Estadual do Paraná (CEP), em artigo especial, contesta a denúncia da chapa oposicionista sobre supostas irregularidades na consulta para escolha do novo diretor do maior estabelecimento de ensino do estado. “Segue meu lamento pela informação falaciosa passada em nota no dia de ontem e minha vergonha como professora educadora e pesquisadora”, escreve.

O Blog do Esmael, democraticamente, garante o direito ao contraditório entre as partes envolvidas na disputa pela direção pedagógica do CEP.

Abaixo, leia a íntegra do texto:

SOBRE  DEMOCRACIA REPRESENTATIVA , “ELEIÇÕES” DE DIREÇÃO DE ESCOLAS E O CASO DO CEP.

Seria retórica reforçar que a gestão democrática passa ao largo da eleição de direção de escola?

Na prática, a eleição de diretor não existe. Trata-se de um cargo do executivo, cuja função é submetida à consulta pública pela comunidade escolar. Neste sentido, temos que lamentar que não conquistamos ainda a eleição de diretores, mas a concessão em escolher nosso representante.

Economia

No entanto, seja por eleição ou consulta pública, o fato é que decididamente a democracia, no âmbito da gestão escolar, não se reduz, não se efetiva e não se garante neste processo.

Ademais poderíamos começar analisando o esgotamento da própria democracia representativa.

Quiçá a política estaria   residindo nos espaços acadêmicos, bem fundamentados, incorporados pelos debates teóricos, sejam históricos, culturais, sociais, enfim políticos.

Bem sabemos que o afastamento da presidenta eleita em 2016 representou a despolitização da política. Ela sai dos livros, dos espaços intelectuais  ou mesmo da arte e da boemia e ocupa a cozinha, o banheiro, o hall de consultórios  e o leaving dos pequenos burgueses incomodados em dividir espaços com  as “maiorias” excluídas do processo social.

Incomodados em compartilhar aeroportos e cruzeiros, vagas em universidades públicas,   bem como a pagar FGTS para a doméstica, a classe média, signatária de rendas, resolve debater política de forma absolutamente apolítica.

De lá pra cá, a democracia representativa perde seu referencial republicano;  passa a incorporar o clientelismo e o corporativismo com aparelhamentos e coalizões inimagináveis.

A questão é que do ponto de vista da representatividade, conselhos escolares fortalecidos, grêmios estudantis atuantes, APMFs representativas, em tese, expressam a democracia de forma mais efetiva que a eleição propriamente dita.

Na prática, no entanto,  a gestão autoritária pós Requião no governo do estado se espelhou  nas escolas e, de certa forma, se refez no papel  dos capitães do mato. Perseguições, atas, assédios moral, delação premiada passaram a representar o  modus operandi de direções que, inclusive, foram eleitas com o apoio da entidade de classe.

Enfim, o cotidiano escolar demonstra que a disputa entre chapas deixa de ser de pautas programáticas, mas uma disputa fratricida no âmbito da escola.

Os capitães do mato se unem aos seus perseguidos de outrora; a entidade de classe se reveste de manuseios maquiavélicos, cujos meios possam ser justificados pelos fins, visando a disputa eleitoral do sindicato; por fim o oprimido aceita apoio do opressor.

Se em algum momento a democracia representativa foi efetivamente republicana, a despolitização da política cria factoides, fake News e argumentos, senão  falaciosos, minimante equivocados.

A matéria publicada pelo Blog do Esmael em 28 de junho  – através da suposta denúncia da chapa oposicionista do Colégio Estadual do Paraná –  senão expressa má fé então revela um  absoluto equívoco do ponto de vista do processo dessa democracia representativa em seu mais alto grau de esgotamento.

Em nota a chapa oposicionista denuncia que, em tese,  a comissão  eleitoral local  não possibilitou “equiparação de armas”.

Esse parece ser um discurso bem atual no contexto de disputas fratricidas:  se é necessário criar armas entre pares, a desinformação foi uma delas.

Ou quiçá a democracia representativa mostre novamente seu declínio, em considerando que cada comissão local foi eleita por seus pares e em si ela não decide nada sozinha. Ela passa pela comissão regional que, por sua vez, passa pela comissão estadual. Todas as decisões tomadas não são locais.

O que se questiona então?

Qual a intencionalidade?

Colocar em cheque as decisões da comissão central para atingir seus opositores ou o contrário?

Ademais, vale esclarecer que a denúncia não revela que o plano de ação da chapa oposicionista não havia sido aprovado e que o que a comissão deliberou foi pela divulgação de pautas que estivessem no plano de ação.

Qual a intencionalidade de sonegar essa informação e forjar amordaçamento?

Quem ganha com tudo isso?

A quem interessa essa disputa entre pares?

Sobretudo, que nome teria uma direção que veio interinamente gestar após o pedido de exoneração de toda uma gestão como foi o caso em 2020 no CEP?

A quem caberia a legitimidade desta gestão interina considerando que “as escolas da rede estadual estão sob intervenção desde 2020 quando o governador aproveitou para passar a boiada antidemocrática” como afirma Esmael em mesma matéria?

Importa destacar que, para além dos quatro anos de gestão,  todos os demais diretores estão na condição de interinos  ou interventores.

Enquanto o governo congela PDE, plano de carreira, reposição salarial e faz do período remoto espaço privatista, o maior colégio do estado despolitiza a política com informações e alegações apelativas que nada mais indicam o esgotamento da democracia representativa.

Se isso não é o esfacelamento da política então é o da própria categoria, bem mais que isso, da classe trabalhadora, lamentavelmente.  Se a democracia não passa ao largo na disputa entre pares,  passa então a consciência  de classe.

Aprendamos com nossos estudantes em 2016 nas ocupações das escolas estaduais: democracia é horizontalidade, é participativa, ocorre através de comissões, assembleias, coletivos,  debates, formação política e pautas programáticas. Celebremos a aula de democracia que as ocupas de 2016 nos deram e aprendamos política com quem não está contaminado pela sociedade opulenta  que disputa poder pessoal  sem disputar pautas e projetos coletivos.

Segue meu lamento pela informação falaciosa passada em nota no dia de ontem e minha vergonha como professora educadora e pesquisadora.

Respeitemos nossos jovens e aprendamos com eles!

Elisane Fank

Professora-pedagoga do CEP