Ludhmila Hajjar foi alvo do ódio bolsonarista, diz Gleisi Hoffmann

A cardiologista Ludhmila Hajjar recebeu manifestações de solidariedade após ela revelar à que sofreu ataques e ameaças de morte depois de ser convidada para assumir o Ministério da Saúde pelo presidente Jair Bolsonaro. Ela recusou a oferta, nesta segunda-feira (15), por ‘motivos técnicos’.

“Recebi ataques, ameaças de morte que duraram a noite, tentativas de invasão em hotel que eu estava, fui agredida, [enviaram] áudio e vídeo falsos com perfis, mas estou firme aqui e vou voltar para São Paulo para continuar minha missão, que é ser médica”, disse Hajjar, em entrevista.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), presidenta nacional do PT, disse que a máquina de ódio bolsonarista atacou a médica Ludmilla Hajjar, que havia sido cotada para assumir o Ministério da Saúde. “Além de denunciar as ameaças, ela falou sobre a situação caótica da epidemia no país. Solidariedade à doutora Ludmilla Hajjar”, manifestou-se a parlamentar.

“Vou continuar atendendo pessoas de esquerda e de direita. Isso, talvez, para algumas pessoas muito radicais – e que estão defendendo o discurso da polarização – é algo que me diminui. Pelo contrário. Se eu fizesse isso, não seria médica, não estaria exercendo a profissão, negaria o juramento que fiz no dia que me formei na universidade de Brasília.”

Ela disse que teve que deixar o hotel onde estava hospedada, em Brasília, com cuidado porque tinha sofrido ameaças de morte, mas negou que isso tenha afetado seus planos.

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“Essa polarização, esse radicalismo, essa maldade utilizada em redes sociais, isso hoje é um atraso para o Brasil e vidas estão indo embora por causa disso, porque se criou uma narrativa baseada em algo que não tem lógica, não tem fundamento.”

Ao ser questionada novamente pelos ataques, ela afirmou ter ficado um pouco assustada, mas disse que não foi isso que teve mais peso em sua decisão de não assumir a vaga.

“Sei que isso passa, que são pessoas que não tem fundamento, que são radicais, que estão polarizando o país (…) Realmente fiquei assustada, tive meu celular publicado em vários grupos de WhatsApp, duas tentativas de entrada no meu quarto do hotel durante a noite – coisas absurdas, indescritíveis, inimagináveis”, afirmou.

A médica afirmou que comentou sobre esses episódios com o presidente Bolsonaro e que ele também relatou ter recebido o que chamou de “quantidade infinita de informações” e de “coisas irreais”.

“Digamos que, para alguns, esse nosso encontro não fosse tão agradável e essas pessoas fizeram de tudo para que não houvesse uma convergência entre nós.”

Gleisi Hoffmann, atenta à entrevista da cardiologista, disse ainda que tanto faz se Pazuello sai ou fica. “Nenhum médico sério vai aceitar as condições de Bolsonaro. Enquanto o presidente for um genocida negacionista, o ministro da saúde será sempre seu espelho. E o povo continuará à mercê da necropolítica bolsonarista”, escreveu a petista.

Falta de convergência
Ao falar sobre o que faltou para que pudesse aceitar o convite para a pasta, Hajjar falou em “falta de linhas de convergência”.

“Acho que o presidente ficou muito preocupado de a minha gestão não agradar alguns grupos ao mesmo tempo de eu sofrer muitos ataques de outros por, realmente, pensar um pouco diferente de algumas linhas”, disse.

“Acho que foi, realmente, [falta de] convergência de ideias. Acho que o ministro tem que vir para ajudar o presidente, para deixar o ambiente tranquilo e acho que isso, esse ambiente, não foi possível de ser criado entre nós e, de uma maneira muito honrosa, digo que que fiquei muito honrada pela lembrança do meu nome e acho que saio com esse convite muito grata”, completou.

“Foi muito bom ter podido conversar com ele [Bolsonaro], ter exposto minhas ideias e desejo ao Brasil muita sorte na condução da pandemia.”

Assista ao vídeo: