Depois do NYT e da Time, Felipe Neto e sua luta contra Bolsonaro são destaque no jornal Le Monde

O site do jornal Le Monde desta segunda-feira (22) traz um perfil do Youtuber brasileiro Felipe Neto, desconhecido na França, mas que integrou a prestigiosa lista das cem personalidades mais influentes do mundo em 2020 da revista americana Time. Felipe Neto, que está na lista junto com seu maior adversário dos últimos tempos, o presidente Jair Bolsonaro, passou do desprezo dos intelectuais para virar o queridinho dos que lutam contra o governo vigente nos últimos dois anos.

“No Brasil, Felipe Neto, um Youtuber em cruzada contra Jair Bolsonaro” é o título da matéria, que o descreve como um jovem de 33 anos, “desconhecido internacionalmente, mas uma das personalidades mais populares do país”. Com mais de 41 milhões de assinantes no seu canal, 13 milhões de seguidores no Twitter e outros tantos no Instagram, Felipe Neto é em todos os rankings um dos dez Youtubers mais seguidos e influentes do planeta.

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Tendo chegado há cerca de dois anos na arena política, o jovem agora aumenta o número de entrevistas e posições tomadas contra aquele que é o seu maior alvo, a quem chama de “fascista”, explica Le Monde. O correspondente do jornal no Brasil lembra que Neto foi convidado pelo programa político Roda Viva, em maio de 2020, e publicou também, em julho do mesmo ano, um vídeo de opinião no site do New York Times, gravado em inglês.

Com uma grande força de ataque online, o jovem internauta agora a dirige inteiramente contra Jair Bolsonaro, uma “figura nefasta e violenta” segundo ele.

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Tomada de posição

A destruição do meio ambiente, a inércia diante da Covid-19, a homofobia, denúncias de corrupção, a apologia à tortura … motivos de sobra para impor oposição, lista o jornal. “Eu poderia continuar esta lista até 2035, mas isso não caberia no seu artigo”, explica o Youtuber, que optou por responder às perguntas do jornal por escrito.

Em novembro, o Youtuber deu um novo passo em seu compromisso político, convocando seus seguidores nas redes sociais para votarem em vários candidatos da esquerda alternativa. “Eu sou um social-democrata. Eu defendo o capitalismo. Acredito na iniciativa privada mas, ao mesmo tempo, defendo a ação do Estado para reduzir as desigualdades ”, explica Felipe Neto ao jornal francês.

“Tudo isso, às vezes, pode parecer um pouco leve no fundo, até mesmo oco. Não importa: Felipe Neto fala simples e é verdadeiro, seduz e convence, principalmente entre os mais novos”, escreve o Monde. Para muitos, ele ainda é hoje o melhor adversário de Jair Bolsonaro, “um dos mais efetivos” até, segundo o deputado do PSOL do Rio de Janeiro, David Miranda, que assinou sua biografia na Time.

O lado ruim de seu sucesso: o influenciador digital recebe dezenas de ameaças de morte todos os dias, destaca o jornal.

Desprezado pelos intelectuais

Le Monde relembra a trajetória do Youtuber: “Felipe Neto era tudo menos predestinado para a política e menos ainda para a esquerda. Durante anos, o jovem foi visto como um ‘fantoche online’ no Brasil, desprezado pelas elites intelectuais”.

Nascido em um bairro popular do Rio, ele começou a postar vídeos no YouTube em 2010, em seu canal “Não faz sentindo”. Em tom de colegial, combinando caretas e ironia mordaz, o internauta, com os cabelos tingidos de rosa, azul ou amarelo neon, zombava das tendências do momento entre crianças e adolescentes.

O sucesso foi imediato: Felipe Neto virou estrela entre os adolescentes. Em 2012, sua conta ultrapassou 1 milhão de assinantes, a primeira no Brasil a alcançar o feito. Rapidamente, o jovem millennial, vegetariano e torcedor do Botafogo se transformou em um empresário astuto. Além da receita publicitária de seu canal no YouTube, Felipe Neto também é, segundo a imprensa, acionista de nada menos do que cinco empresas especializadas em conteúdo digital, que empregam mais de 300 pessoas.

“Internauta de carreira”

 “O segredo do Felipe Neto? Ele é um internauta de carreira. Ele tem muita experiência e conhece perfeitamente os internautas, sabe do que gostam, o que procuram, sua língua, seus gostos”, explica Rodrigo Carreiro, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Democracia digital.

No passado, isso não evitou polêmica: em diversas ocasiões, Felipe Neto foi acusado de fazer comentários machistas. Ele agora enfrenta processos judiciais, é acusado de disseminar conteúdo de “linguagem imprópria” online para o público jovem.

São “falsas acusações”, segundo o Youtuber. “Eu levo a responsabilidade do influenciador muito a sério e faço o meu melhor para tornar essa influência o mais positiva possível”, diz Neto.

Felipe Neto é apontado como um contraponto aos “trolls” e influenciadores da extrema direita, que permitiram a vitória de Bolsonaro em 2018. “Cada comunicador que se cala sobre o que estamos vivendo é cúmplice”, decreta o Youtuber na entrevista.

E qual será sua ação na eleição presidencial de 2022, para a qual Bolsonaro já faz campanha? “Sua influência é real. Tem toda uma geração que acredita nele e tem confiança nas suas escolhas”, insiste o pesquisador Rodrigo Carreiro.

Alguns já veem o Youtuber como um candidato contra a extrema direita, diz Le Monde. Felipe Neto nega “qualquer projeto de poder” e diz estar pronto para apoiar qualquer alternativa a Bolsonaro. Otimista, ele promete lutar com suas melhores armas, tuíte contra tuíte, vídeo contra vídeo: “Trump já caiu. Agora temos o nosso para derrubar”; finaliza o influencer digital.

Por RFI