Banqueiros felizes: Banco Central teve lucro recorde de R$ 469,6 bilhões em 2020

  • R$ 325 bilhões foram transferidos ao Tesouro para recompor o “colchão da dívida pública”

Os poucos banqueiros privados estão muitos felizes com a notícia a seguir. Antes, uma rápida recapitulação.

Na virada de 2020 para 2021, o Senado aprovou uma lei que obriga o Banco Central a remunerar sobra de caixa de bancos. Com isso, ao final do dia, as instituições financeiras privadas poderá acionar um botão e no dia seguinte sair com mais dinheiro sem ter produzido nada. Mas quem remunera essa “sobra” é o tesouro nacional, o contribuinte, você.

Some-se a isso, 70% do lucro do Banco Central foi confiscado na boca do caixa para recompor o tal “colchão da dívida pública”, ou seja, a maior parte do dinheiro vai para os banqueiros.

Dito isso, a forte alta do dólar no ano passado fez o Banco Central (BC) fechar 2020 com lucro recorde de R$ 469,61 bilhões. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta sexta-feira (26) o balanço com as contas da instituição financeira no ano passado.

Do lucro total, R$ 61,97 bilhões correspondem ao lucro operacional (ganhos com o exercício da atividade) e R$ 407,64 bilhões ao lucro com reservas internacionais e derivativos cambiais (como os swaps, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro).

A moeda norte-americana, que subiu 29,3% ano passado, multiplica o valor em reais das reservas internacionais, que fecharam 2020 em US$ 355,6 bilhões, praticamente estável em relação a 2019 (US$ 359,4 bilhões). Isso ampliou os ganhos da autoridade monetária, mesmo com a venda de cerca de US$ 25 bilhões das reservas externas pelo BC para segurar a alta do dólar.

Economia

Outra parte do lucro cambial vem do resultado das operações de swap cambial, que funcionam como venda de dólares no mercado futuro.

Desde 2008, o banco registra os resultados operacionais e cambiais de forma separada. No primeiro semestre do ano passado, quando o dólar passou a disparar, o BC teve lucro operacional de R$ 24,75 bilhões e ganhos de R$ 478,47 bilhões com as operações cambiais. Desse total, R$ 325 bilhões foram transferidos ao Tesouro para recompor o “colchão da dívida pública”, reserva financeira usada em momentos de turbulência, como a pandemia de covid-19.

No segundo semestre, quando o dólar se estabilizou e passou a cair, o BC teve lucro operacional de R$ 37,22 bilhões e prejuízo de R$ 70,83 bilhões com as operações cambiais. No total, a autoridade monetária teve perda de R$ 33,61 bilhões no segundo semestre.

Por causa da nova legislação que regulamenta a relação entre o Banco Central e o Tesouro, a destinação dos lucros da autoridade monetária mudou. Os lucros vão para uma reserva interna do BC que aumentará o patrimônio líquido do banco e será usada para abater prejuízos futuros com as operações cambiais.

Essa reserva financeira saltou de R$ 45,05 bilhões em 2019 para R$ 164,91 bilhões em 2020. A diferença deve-se à incorporação do lucro cambial de R$ 478,47 bilhões no primeiro semestre.

Resumo da ópera: a totalidade do lucro do Banco Central foi confiscada pelos bancos privados enquanto um presidente da República banana sonega auxílio emergencial para milhões de vulneráveis.