Jornal francês evoca “sementes” de Marielle para falar do aumento de candidatas negras no Brasil

Com o título “Brasil: prefeituras confirmam avanço de candidatas negras e mulheres” , o jornal católico La Croix faz um balanço das eleições de 15 de novembro no Brasil para o público francês. O jornal, que tem uma correspondente em São Paulo, dá destaque também ao que chama de isolamento político de Bolsonaro.

La Croix abre a matéria dizendo que “os candidatos apoiados pelo presidente de extrema direita Jair Bolsonaro não conseguiram convencer os eleitores no primeiro turno das eleições municipais brasileiras em 15 de novembro. Por outro lado, candidatos negros e mulheres, herdeiros da ex-vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018, compareceram durante a votação”.

“Os resultados das urnas, que caíram tarde da noite devido a um ataque informático, refletem o isolamento político do presidente de extrema direita, Jair Bolsonaro. De outro lado, os partidos tradicionais de centro e de direita conservadora saem fortalecidos”, analisa La Croix.

O jornal fala ainda da perda de hegemonia do PT e das disputas no Rio e em São Paulo. “Apelidado de ‘bolo’, por um trocadilho inteligente, Guilherme Boulos eclipsou o candidato do PT a prefeito de São Paulo, assim como o do ‘filhote’ de Bolsonaro, o astro da televisão Celso Russomanno”, escreve La Croix.

“No Rio de Janeiro, o ex-pastor evangélico e prefeito em fim de mandato Marcelo Crivella estará presente no segundo turno, mas recebeu apenas 22% dos votos. Uma pontuação que não apaga o fato de a maioria dos candidatos apoiados pelo chefe de Estado ter perdido”, prossegue.

Mais e mais vozes negras
Outro destaque desta eleição municipal, constata o jornal, foi a forte presença de candidatos negros. Cerca de 277 mil candidatos se identificaram como negros, quase 50% do total. As mulheres afro-brasileiras se apresentaram 23% a mais este ano do que há quatro anos.

Economia

“Num país onde mais da metade dos habitantes se declara preto ou pardo, isso ainda é pouco”, escreve. Mas, relembra o La Croix, uma lei do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), aprovada em agosto, revisou para cima a distribuição de verbas de campanha a favor dos candidatos negros.

“Essa medida influenciou o debate público, mas não veremos realmente os efeitos até as próximas eleições”, acredita Marcelle Decothe, do Instituto Marielle Franco, criado em janeiro de 2020 para dar vida ao legado político desta vereadora e ativista dos direitos humanos e LGBT, assassinada em março de 2018 aos 38 anos, e que promove candidatos negros às eleições.

Sementes de Marielle Franco
A morte de Marielle Franco deu origem a candidaturas de mulheres negras, poeticamente chamadas aqui de “sementes” de Marielle.

“Acabamos de publicar o resultado de um estudo sobre a violência política no Brasil contra as mulheres negras”, acrescenta Marcelle Decothe, em entrevista ao La Croix.

A violência institucional é também a da falta de recursos para se candidatar, explica. Quando essas mulheres não podem pagar para fazer campanha, isso mantém a desigualdade, continua.

“No primeiro turno, Monica Bencio, que compartilhava a vida de Marielle Franco, foi eleita vereadora do Rio “por um mandato feminista e antifascista”, escreve, citando Decothe.

Por RFI

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