Somos todos antifascistas

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres” (Rosa de Luxemburgo)

Luiz Claudio Romanelli*

Um amigo jornalista qualificou o ato como um absurdo, outro ficou estupefato e uma amiga, professora, se disse “mais uma vez, indignada”. Minha reação vai um pouco além. Lembrei do personagem Coronel Kurtz, em Apocalipse Now, que em voz alta resumiu toda situação que viu e viveu com quatro palavras: “o horror, o horror”, citando Joseph Conrad no livro Coração das Trevas.

Falo da admissão, pelo general Augusto Heleno, ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, de que a Agência Brasileira de Inteligência monitorou “maus brasileiros” participantes da Cúpula do Clima das Nações Unidas, em dezembro passado, em Madri. “Maus brasileiros”, obviamente, para este (des)governo são todos aqueles que não concordam com a política de “passar a boiada” do ministro Ricardo Salles.

Em julho, a revelação de que o Ministério da Justiça monitorava servidores públicos federais antifascistas já havia causado perplexidade. Tanto que por 9 a 1 o Supremo Tribunal Federal proibiu o levantamento de dados pessoais e escolhas políticas exercidas por opositores ao governo.

Vivemos em época de perplexidades. Não bastassem a pandemia do coronavírus que nos toma vidas preciosas, as tragédias diárias que acontecem pelo mundo afora, temos que enfrentar a polícia política de um governo que faz dossiê de grupos antifascistas, que tem um gabinete do ódio que fabrica e espalha fake news, entre outras barbaridades que tomaram conta do cotidiano brasileiro.

Lembra os piores momentos da história, do marcathismo nos EUA nos anos 50, da Gestapo e a política de ódio de Hitler da primeira metade dos anos 40 e da ditadura militar brasileira que teve seu pico de crueldade e brutalidade em meados nos anos 70. Foram tempos ímpios em que parte da sociedade rebelou-se. E é isso que temos que fazer novamente.

Economia

O Brasil e o mundo passam por uma grande transformação, em todos os sentidos. E é na política que as transformações mais afetam o cidadão. Se olharmos com atenção para as duas grandes potências do continente americano, temos duas personas que não podem mais consideradas como tipos nonsense: o Bolsonaro no Brasil e o Trump nos EUA. Mais do que políticos curiosos, estapafúrdios, são perigosos.

Movimentos antifascistas têm crescido e ganhado as ruas nos últimos tempos. Nos EUA, as manifestações contra o assassinato de George Floyd – morto pela polícia de Minneapolis, em 25 de maio, desencadeou uma reação que terminou em tom de ameaça pelo presidente norte-americano. Trump classificou as manifestações como atos antifascistas e que pessoas que praticam tais atos devem ser criminalizadas como terroristas.

No Brasil, os bolsominions aplaudiram Trump e querem fortalecer ações de repressão às manifestações. O deputado Daniel Silveira (PSL-SP) protocolou um projeto de lei enquadrando os grupos antifascistas como terroristas e na lei antiterrorismo.

Manifestações pró-Bolsonaro pregam o fechamento do Congresso Nacional e do STF, defendem abertamente a volta da ditadura, são contra as medidas de isolamento social na pandemia e indicam o uso de medicamentos sem comprovação científica de eficácia.

Identificam-se com setores do governo que colocam em risco a liberdade de expressão e julgam como necessário o cerceamento à imprensa. Essas afrontas à democracia e ao Estado de Direito Democrático são cada vez mais comum no Brasil.

Lutamos – e muito – pela democracia e pela ampliação dos direitos políticos de todos os brasileiros. Uma das prerrogativas do fascismo é fortalecer os grupos de extrema direita, em detrimento do enfraquecimento de ideologias de centro- esquerda. Quem não seguir as diatribes de tipos como Bolsonaro, Trump, Olavo de Carvalho, entre outros mentecaptos, tem sua vida pessoal enxovalhada e a reputação política assassinada.

Muitas das manifestações públicas que ocorreram no Brasil nos últimos anos, começaram de forma pacífica e acabaram em repressão. Pela liberdade de imprensa e contra a censura, somos todos antifascistas, não podemos permitir nem aceitar que anos de luta pela retomada da democracia sejam reprimidos por grupos que querem se estabelecer no poder, custe o que custar.

Somos todos antifascistas. Defendemos a liberdade de expressão e da imprensa e repudiamos alguns grupos que praticam a violência, o negacionismo da ciência e o demonismo político para alcançar e se manter no poder.

O Brasil e o Paraná querem liberdade para se expressar e escolher aqueles que os representam. E nossa luta, será sempre na defesa deste direito.

*Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.