Maioria dos franceses é favorável ao toque de recolher contra a Covid-19

O toque de recolher para frear a propagação da Covid-19 entra em vigor à meia-noite desta sexta-feira (16) na região metropolitana de Paris e em mais oito cidades da França. Uma pesquisa de opinião indica que 64% dos franceses são favoráveis à medida, mas o governo está na berlinda.

O tema está estampado na capa dos jornais de todo o país. Vinte milhões de franceses – quase um terço da população – serão afetados pela medida. Le Monde informa que o governo foi obrigado a decretar o toque de recolher porque a maioria dos canais de contaminação não é detectada no país. Em números, isso significa que 75% dos novos casos não têm relação com nenhum contaminado oficialmente registrado.

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Retraçar os “casos contato” passou a ser missão quase impossível e os números de infeções batem novos recordes diariamente. Na quinta-feira (15), foram mais de 30 mil casos. Salvar o dispositivo para encontrar pessoas que tiveram contato com contaminados, impor o isolamento social e diminuir a alta da epidemia é o objetivo do toque de recolher.

Economia

Cotidiano inédito
Le Parisien traz uma cartilha de como viver com a medida que entra em vigor à meia noite desta sexta-feira e deverá ser respeitada no mínimo por quatro semanas entre às 21h e 6h da manhã, quando “o barulho festivo noturno vai dar lugar ao silêncio”. O toque de recolher, relacionado historicamente aos momentos de guerra, passa a ser a partir de agora associado ao estado de emergência sanitária, diz o diário.

O jornal traz as principais regras desse cotidiano inédito: todos os espaços públicos coletivos deverão fechar às 21h, inclusive os supermercados. As festas – como casamentos e batismos – estão proibidas. Recomenda-se reunir no máximo seis pessoas em casa, de preferência com máscara. Até o beijo, mesmo com máscara, deve ser evitado.

Somente algumas exceções estão previstas. As pessoas poderão circular à noite por motivos profissionais, médicos, de viagem, para dar assistência a pessoas frágeis ou para passear animais de companhia.

Festa do pijama
Para evitar o baixo astral, um psiquiatra aconselha nas páginas do Le Parisien a fazer atividades divertidas. Franceses entrevistados pelo diário lembraram das antigas festas do pijama.

O setor cultural, já bastante afetado desde o início da pandemia, lançou uma campanha para fazer parte das exceções. Os profissionais do setor afirmam ao jornal Libération que o toque de recolher é “um atestado de morte” para as salas de teatro e cinema, que já operam com a capacidade reduzida em respeito às medidas sanitárias em vigor. O movimento tem o apoio da ministra da Cultura, Roselyne Bachelot.

Quem não respeitar o toque de recolher vai pagar inicialmente € 135 (cerca de R$ 950) de multa e € 1.500 em caso de reincidência, lembra Le Figaro.

Governo na berlinda
O jornal conservador indica que, segundo uma primeira pesquisa de opinião, 64% dos franceses são favoráveis à medida. No entanto, a atuação de Emmanuel Macron ainda não convenceu a população; 53% dos entrevistados acham que o presidente francês não diz a verdade. “Macron precisa ainda encontrar meios para provar sua capacidade de lutar contra essa crise sanitária”, escreve Le Figaro.

No mesmo momento em que o governo francês tenta controlar a nova propagação da Covid-19, o atual ministro da Saúde, Olivier Véran e ex-integrantes do gabinete do ex-primeiro-ministro Édouard Philippe são alvo de uma ação na justiça. Na quinta-feira (15), as casas e os escritórios de cinco responsáveis pela gestão da crise durante a primeira onda da pandemia na França foram alvo de busca e apreensão. Entre eles, está inclusive o ex-premiê Edouard Philippe, informa Libération. Acusados por várias associações, eles podem ser condenados por “abstenção de combate a uma calamidade”.

“O poder está sob vigilância”. A expressão “responsável, mas não culpado” poderia se aplicar ao escândalo da falta de máscaras no primeiro semestre, aos graves problemas enfrentados na campanha de testes, ao fracasso da estratégia para retraçar os casos contato e à insuficiência de vagas nas UTIs?, pergunta o editorial do Le Figaro. Independentemente da decisão da justiça, os franceses julgarão a ação do governo e, controlada ou não, “a epidemia do novo coronavírus estará no centro da eleição presidencial francesa de 2022”, conclui o texto.

Por RFI