Autoridade se conquista, não se impõe

Enio Verri*

O governador do Paraná, Ratinho Júnior, é o fiel reflexo do presidente da República, Jair Bolsonaro. A diferença é que não é falastrão como o mandatário do País. Porém, é tão autoritário quanto. O governador decidiu, unilateral e autoritariamente, militarizar as escolas estaduais do Paraná. Infelizmente, a população elegeu deputados estaduais que pensam da mesma maneira que o governador. A maioria dos parlamentares aprovou o absurdo projeto de lei encaminhado pelo Executivo estadual. O processo que pretende militarizar, este ano, 215 escolas, é imposto sem consultar a parte da população mais interessada, os pais ou responsáveis pelos estudantes. Uma decisão arbitrária, típica de quem não tolera o debate democrático.

Diretores não serão escolhidos pela comunidade, em processo democrático eleitoral. . Esses profissionais não têm formação pedagógica, que é fundamental para o processo ensino aprendizagem. A formação da categoria das forças de repressão vem de uma cultura na qual uma ordem é obedecida sem reflexão ou questionamento. Isso é justamente o oposto de uma escola, onde a dúvida e a crítica são matérias-primas da construção do aprendizado. Um ambiente escolar onde a autoridade é imposta e não conquistada, perde sua razão de existir para o propósito da aprendizagem. Já disse o educador e patrono da educação brasileira, Paulo Freire: “Quando a educação não libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Que tipo de cidadão formará escolas onde a única opção é ouvir e obedecer? Pela característica dos governos estadual e federal, pelo conteúdo do projeto e pela forma como ele é imposto, talvez seja a intenção formar pessoas sem senso crítico, que não questionem a realidade.

Segundo a proposta do governador, será entregue apenas uma farda para cada estudante. Porém, apenas uma não é o suficiente para se apresentar com dignidade, em todos os dias da semana. Nesse caso, os pais ou os responsáveis serão obrigados de comprar a segunda ou a terceira farda, cujo preço varia entre R$ 700 e R$ 1.000. Como se não bastasse impor um modelo autoritário de educação, Ratinho obriga a sociedade a aceitar um modelo excludente, que vai provocar evasão escolar, uma vez que a maioria das famílias não tem condições de arcar com esse investimento. O modo de Ratinho propor a desastrosa política é a mesma de Bolsonaro: amadora, improvisada, covarde e sub-reptícia. Ela é colocada em prática no momento em que a sociedade tenta sobreviver a uma pandemia, que obriga ao isolamento e impede um amplo e esclarecedor debate. A lista das escolas passíveis de militarização foram apresentadas na tarde ontem, para a comunidade escolar decidir, hoje, dia 27, se querem ou não a militarização. Se o projeto do governo é tão bom, por que esconder da população e pegá-la de surpresa?

A Finlândia possui um modelo de educação almejado por todos os países, desenvolvidos ou não. A cada três anos, os estudantes daquele país figuram entre os melhores do mundo, na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Lá, a educação é pública. O filho do garçom e o do industrial frequentam os bancos escolares, desde à pré-escola à universidade. Os professores são muito valorizados e exigidos em constantes aprimoramentos da formação. As escolas são espaços de liberdade, ócio, questionamentos e críticas. É desse tipo de educação que os educandos e os professores brasileiros merecem e precisam para construir uma sociedade madura, civilizada, democrática e plural. A intempestividade da proposta revela todo autoritarismo escondido no projeto. Sem apresentar um único argumento verificável que a legitime, o governador diz que a medida colocará o Paraná em melhores níveis educacionais. Bravatas de um governador autoritário, que considera a sociedade alienada e cumpridora de suas vontades políticas. A população do Paraná não pode aceitar essa imposição, como se ela não tivesse senso crítico e interesse pela formação escolar dos paranaenses. Diga não à militarização das escolas.

*Enio Verri é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores da Câmara dos Deputados.

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