O golpe ainda está em curso

Enio Verri*

Ontem, fez quatro anos do golpe contra a democracia, na pessoa da presidenta Dilma Rousseff, uma mulher comprovadamente honesta, presa e torturada por dois anos, durante a ditadura civil-militar e que avisou, quando foi deposta: “não ficará pedra sobre pedra”. De fato, não há dúvidas de que esse é o objetivo da classe dominante, de se apossar e se desfazer das reservas energéticas e empresas estratégicas de propriedade de todos os brasileiros. Essa parte da população capitaneia o golpe, agora em fase aguda, cujas etapas são torturas, profundo sangramento e morte da nação, transformando-a num grande quintal mundial, para servir a outros povos.

A base do golpe foi a operação Lava Jato, que engendrou uma implacável perseguição ao Partido dos Trabalhadores e aos ex-presidentes Lula e Dilma. Por meio de uma série de espetaculosas operações da Polícia Federal, de manifestações ofensivas contra a presidenta e a insistente associação dos referidos nomes à corrupção, construiu-se as condições para enfraquecer politicamente o governo, a ponto de a mandatária ter sido deposta por um crime que não cometeu. A confirmação foi feita, em diversas oportunidades, pelos próprios golpistas. Quando confrontados com a realidade da ausência de malfeitos, respondiam que Dilma havia perdido o apoio político, considerando que isso está acima das leis. A largada para a consumação do golpe foi dada pelo resultado das eleições, de 2014, quando o candidato derrotado, Aécio Neves, aliou-se ao ex-deputado Eduardo Cunha para derrubar o governo que ele não conquistou no voto.

A primeira prova de que o impeachment nunca teve a corrupção na pauta foi a aprovação, em seguida ao golpe, da EC95 e da supressão da exclusividade da Petrobras sobre a exploração do pre-sal. O Congresso Nacional, majoritariamente ultraliberal, aprovou as reformas que suprimiram mais de 100 artigos da Consolidação das Leis do Trabalho, ao mesmo tempo que livrou Temer de impeachment, quando havia até cena de assessor correndo com mala na rua. A EC95, do teto de gastos, nada mais é que uma deliberada e irresponsável renúncia de um governo, por 20 anos, de investir no desenvolvimento do País. Somente no Brasil um governo decide atrasar a nação. Se Lula e Dilma instituíssem uma medida similar, não haveria transposição de água para 12 milhões de brasileiros, nem cinco milhões de filhos de pobres nas universidades, nem a construção de três milhões de moradias e o Brasil não teria passado da 16ª para a 6ª economia mundial.

O golpe seguiu solapando a soberania e os direitos dos trabalhadores. Os mais de seis milhões de empregos prometidos com a reforma da Previdência e os outros tantos que seriam gerados com o aprofundamento das reformas trabalhistas se transformaram em quase 20 milhões de desempregados. Os golpistas passaram empresas estratégicas de logística de gás à iniciativa privada, cuja função social não é outra senão o lucro e não o desenvolvimento da sociedade. Como parte do sucateamento da Petrobras, no governo Temer, o preço do gás de cozinha disparou. Em menos de um ano, mais de um milhão de brasileiros estavam cozinhando com lenha ou álcool, porque as famílias não conseguem acompanhar os constantes reajustes.

O ano de 2018 foi o de consolidação do golpe, quando o mercado financeiro e os interesses estrangeiros elegeram uma marionete com a qual colocaram em andamento o processo de total submissão dos recursos energéticos, humanos e tecnológicos deste país ao interesse de outros povos. Durante os anos 2019 e 2020, as farsas produzidas pela Lava Jato e pela eleição de Bolsonaro, já há muito denunciadas pelo Partido dos Trabalhadores, passaram a tomar proporções inescondíveis, pelo menos por parte da imprensa comprometida com a apuração dos fatos. Infelizmente não é possível dizer que o golpe foi superado com eleições ditas democráticas e que as instituições estão em pleno funcionamento. Depois de eleito por meio de uma campanha construída com mentiras, ofensas e calúnias, o governo Bolsonaro produziu dossiês de brasileiros que combatem o fascismo. No mesmo período, um juiz censurou a imprensa que investiga a venda de uma carteira de crédito do Banco do Brasil, que vale R$ 3 bilhões, por R$ 371 milhões, para o banco BTG, que tem entre os seus fundadores, o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ou seja, Bolsonaro persegue os antifascistas e a justiça censura quem investiga prejuízos causados aos interesses da sociedade.

Economia

Quatro anos depois, o quadro político produzido pelo golpe é uma democracia dos mais poderosos, em que a economia do País é conduzida para satisfazer as necessidades e privilégios de 20% da população, em detrimento dos outros 80%. O Brasil tem um governo ostensivamente genocida, cujo presidente exclama “e daí” para os crescentes números de mortos e contaminados pela COVD-19, que já passam dos 120 mil e de quatro milhões, respectivamente. Ora, o período da história em que o Brasil mais cresceu e distribuiu renda e riqueza foi nos governos Lula e Dilma. A justiça tem imposto expressivas revisões nas decisões flagrantemente ilegais da Lava Jato.

Já no plano econômico, quando a democracia foi golpeada, Lula e Dilma deixaram US$ 380 bilhões de reservas cambiais e R$ 5,5 trilhões de PIB. Quem está destruindo tudo que foi construído pelos brasileiros são os golpistas, de 2016, com Bolsonaro à frente do processo. As políticas do atraso são em todos os sentidos. É difícil saber qual o retrocesso produzido pelo golpe, ainda em curso, que mais tempo tomará para se superar os prejuízos, o econômico ou o cultural. São quatro anos de atraso que se aprofunda com cada uma das medidas de um governo comandado pela classe dominante mais atrasada e truculenta do mundo, a brasileira.

*Enio Verri é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.

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Nassif é censurado pela justiça do Rio. Blog do Esmael se solidariza com jornalistas do Jornal GGN

O jornalista Luis Nassif, do Jornal GGN, teve uma reportagem sobre o banco BTG Pactual censurada pela 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro. Primeiramente, a solidariedade do Blog do Esmael com Nassif e equipe. Nós sabemos o que é ser censurado em pleno século XXI, pois, ao longo de sua existência, nossa página também foi alvo de censura.

Uma decisão da 32ª Vara Cível do Rio de Janeiro obrigou o Jornal GGN a tirar do ar uma série de reportagens sobre o banco BTG Pactual, sob pena de pagamento de multa diária de 10 mil reais em caso de descumprimento.

A decisão do juiz Leonardo Grandmasson Ferreira Chaves se baseia em uma série de reportagens realizadas pelos jornalistas Luis Nassif (que também é chefe de redação do GGN) e Patricia Faermann.

Elas abordam vários contratos suspeitos envolvendo o banco, a começar por um caso que o meio denunciou em março deste ano: uma licitação supostamente dirigida da Zona Azul da Prefeitura de São Paulo, vencida pelo banco através da empresa Allpark, que pertence ao grupo BTG.

A jornalista Patricia Faermann, autora de algumas das reportagens publicadas, afirmou que “o processo é um exemplo claro de pressão contra um jornal, que apesar de ‘pequeno’ – como é descrito pelo juiz no despacho – traz à luz pública esquemas de favorecimento, contratos milionários e com falta de transparência, que o banco, seguindo as mesmas regras do livre mercado pelas quais se beneficia, tem obrigação de prestar contas”.

As reportagens do Jornal GGN estão baseadas em investigações que trazem os detalhes da licitação vencida pela Allpark, com diversas restrições que impediam a concorrência de outros interessados.

Em outra matéria, a denúncia aponta a uma estranha venda de “créditos podres” do Banco do Brasil para o BTG Pactual – se tratam de títulos cujo lucro são difíceis de restituir até mesmo para um banco público como o Banco do Brasil, e é ainda mais estranho que um banco privado de menor capacidade, como o BTG, esteja interessado neles.

Outra reportagem que foi censurada fala do lucro obtido pelo BTG através de fundos ligados às empresas de previdência privada no Chile, que administram o modelo previdenciário que o ministro da economia Paulo Guedes (ligado ao mesmo BTG) vem tentando emular no Brasil.

No entanto, segundo o magistrado do Rio de Janeiro as matérias seriam parte de uma suposta “campanha desmoralizadora, para causar dano à honra objetiva do banco (…) e que transborda os limites da liberdade de expressão”.

O Jornal GGN, irá recorrer da decisão no STF (Supremo Tribunal Federal), com o apoio da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e do Instituto Vladimir Herzog.

Quem é Luis Nassif, censurado pela Justiça do Rio

Luís Nassif (Poços de Caldas, 24 de maio de 1950) é um jornalista brasileiro. Foi colunista e membro do conselho editorial da Folha de S. Paulo, escrevendo por muitos anos sobre economia neste jornal. Nas composições que faz dos possíveis cenários econômicos, não deixa de analisar áreas correlatas que também são relevantes na economia, como o sistema de Ciência & Tecnologia.

Nassif também é compositor, bandolinista e pesquisador de choro.

Sua primeira experiência jornalística foi aos treze anos de idade, editando o jornal do Grupo Gente Nova, de Poços de Caldas. Aos quinze, fez estágio no Diário de Poços, durante o período de férias escolares.

Depois de se formar no segundo grau, em 1969, na cidade de São João da Boa Vista, passou no vestibular para a ECA e começou a trabalhar profissionalmente em 1º de setembro de 1970, como estagiário da revista Veja. Foi efetivado no início de janeiro de 1971. Em 1974 tornou-se repórter de economia da revista. No ano seguinte, ficou responsável pelo caderno de finanças.

Em 1979 transferiu-se para o Jornal da Tarde, na qualidade de pauteiro e chefe de reportagem de economia. Lá, criou a seção “Seu Dinheiro”, primeira experiência de economia pessoal da imprensa brasileira, e o caderno “Jornal do Carro”. Em 1983 mudou-se para a Folha de S. Paulo, onde no fim do ano criou a seção “Dinheiro Vivo” e participou do projeto de criação do Datafolha.

No início dos anos 1980 organizou com a Ordem dos Advogados do Brasil, seccional São Paulo, um seminário com todas as subseções da OAB, que resultou na primeira grande campanha pelos direitos do consumidor, a dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.

Nessa mesma década, foi um dos apresentadores do programa São Paulo na TV, ao lado de Paulo Markun e Sílvia Poppovic, umas das primeiras experiências de produção independente na TV aberta brasileira. Produzida pela Abril Vídeo, era veiculado na TV Gazeta.

Em 1985 criou o próprio programa na TV Gazeta, chamado Dinheiro Vivo. Em 1987, a partir do programa, nasceu a Agência Dinheiro Vivo, de informações de economia e negócios. Em 1986 ganhou o Prêmio Esso, categoria principal, com a série de reportagens sobre o Plano Cruzado.

Em 1987 saiu da Folha, retornando em 1991 como colunista de economia. Em 2006 o seu contrato não foi renovado. Luis Nassif foi, ainda, comentarista econômico da Rede Bandeirantes e da TV Cultura. Também atuou no rádio, como um dos apresentadores do Jornal Gente, na Rádio Bandeirantes de São Paulo, ao lado de José Paulo de Andrade e Salomão Ésper.

Apresentou o programa Brasilianas.org na TV Brasil, rede que faz parte da empresa estatal Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), criada em 2007 pelo governo Lula. O programa foi exibido até 2016.

Em abril de 2013, Nassif lançou o piloto do jornal eletrônico GGN, “o jornal de todos os Brasis”, um projeto jornalístico cujo propósito era aprofundar temas relevantes pouco abordados pela mídia convencional, tais como gestão, inovação, direitos sociais, justiça de transição etc., além de fazer uma cobertura comentada das notícias do dia. No mesmo ano, em outubro, fechou uma parceria de conteúdo do GGN com o iG, que por cinco anos hospedara o seu Blog do Nassif. Começou a também publicar no portal uma coluna com análises políticas e econômicas de temas apresentados e discutidos no GGN. Posteriormente, o GGN tornou-se um portal independente, dedicado à “produção de conteúdo crítico, a partir da construção coletiva de notícias ligadas a cidadania, política, economia, cultura e desenvolvimento”, com a participação efetiva dos especialistas no conteúdo. O portal adotou um modelo de jornalismo colaborativo, procurando, segundo Nassif, escapar da “dicotomia esquerda–direita que tem caracterizado o jornalismo online”. O portal tem, ainda, como um dos seus propósitos declarados, “a montagem de mini-redes sociais especializadas, com os principais grupos de discussão — do setor público e privado — para aprofundar os temas relevantes do Brasil do século XXI, cobrindo não apenas o factual, mas as visões estratégicas de país”.

Luís Nassif foi vencedor do Prêmio de Melhor Jornalista de Economia da Imprensa Escrita do site Comunique-se nos anos de 2003, 2005 e 2008, em eleição direta da categoria. Também recebeu o Prêmio iBest de Melhor Blog de Política, em eleição popular e da Academia iBest.

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