Chamado de “gripezinha” por Bolsonaro, coronavírus já matou 51 mil pessoas

O Brasil tem 51.407 mortes por coronavírus e 1.111.348 casos confirmados nesta segunda-feira (22), segundo consórcio de veículos de imprensa. No início, a pandemia foi chamada de “gripezinha” pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Os números paralelos do consórcio da velha mídia são bastantes próximos dos do Ministério da Saúde, que anotou hoje no “Painel do Coronavírus” 51.271 mortes e 1.106.470 casos de covid-19 no boletim divulgado às 17h15.

De acordo com os dados consolidados pelo consórcio midiático às 20h, o Brasil teve 748 novas mortes registradas em razão do novo coronavírus em 24 horas. O levantamento foi relaizado pelos veículos de imprensa junto às secretarias estaduais de Saúde.

O país só fica atrás dos Estados Unidos em número de doentes – e também mortos. Em seguida estão a Rússia e a Índia.

Veja a cronologia das falas de Bolsonaro sobre a Covid-19:

15 de março: “Não podemos entrar numa neurose” – 200 casos;

Economia

17 de março: “Vírus trouxe histeria” – 291 casos e 1 morte;

20 de março: “Gripezinha não vai me derrubar” – 904 casos e 11 mortes;

27 de março: “Não estou acreditando nesses números” – 3.417 casos e 92 mortes;

29 de março: “Todos nós iremos morrer um dia” – 4.256 casos e 136 mortes;

12 de abril: “Vírus está indo embora” – 22.169 casos e 1.223 mortes;

20 de abril: “Eu não sou coveiro, tá?” – 40.581 casos e 2.575 mortes;

28 de abril: “E daí? Quer que eu faça o quê?” – 71.886 casos e 5.017 mortes;

19 de maio: “Esquerda toma tubaína” – 241.080 casos e 17.971 mortes;

01 de junho: “70% da população vai pegar Covid-19” – 526.447 casos e 29.937 mortes.

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Velha direita quer Bolsonaro ‘pato manco’ e salvar agenda de Guedes, por Milton Alves

O ativista social Milton Alves, em artigo especial, afirma que o establishment pretende o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como ‘pato manco’ visando salvar a agenda neoliberal do ministro Paulo Guedes (Economia).

Segundo o articulista, o arranjo da velha direita teria a companhia do “Centrão”, dos generais palacianos, do empresariado rentista e a da Rede Globo.

Milton Alves aponta o rumo para esquerda, que, na opinião dele, deve apostar na retomada das ruas, acumular mais e mais forças na luta pelo “Fora Bolsonaro”, construindo um bloco político e social capaz de se constituir como alternativa de governo no bojo do combate ao neoliberalismo, ao autoritarismo e aos truques e manobras das velhas elites do país.

Leia a íntegra do artigo:

Velha direita quer Bolsonaro ‘pato manco’ e salvar agenda de Guedes

Por Milton Alves*

A decisão do PSDB de rejeitar a fórmula política do impeachment, acompanhada pelo DEM, aponta que os partidos da velha direita, em companhia do bloco parlamentar conhecido como “Centrão”, dos generais palacianos, do empresariado rentista e a Rede Globo operam pelo caminho político do desgaste continuado do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, o establishment prefere ter um Bolsonaro sangrando de forma gradual e segura para garantir a aplicação da agenda neoliberal do ministro da Economia Paulo Guedes -, de privatizações e do esmagamento da renda e das condições de vida da classe trabalhadora.

A operação em curso para salvar a agenda de Guedes foi potencializada nos últimos dias pelos sucessivos golpes desferidos pelo STF contra os impulsos bonapartistas e delinquentes de Bolsonaro – e fortalecida com o aprisionamento de Fabrício Queiroz, tesoureiro do clã, e pela fuga desesperada do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub.

O movimento das forças políticas da velha direita busca três objetivos: 1º. Enfraquecer Bolsonaro, mas não derrubá-lo; 2º. Preservar a agenda neoliberal de Paulo Guedes. 3º. Isolar a oposição de esquerda, em particular o PT e Lula.

Um efeito colateral dessa operação do establishment foi o esvaziamento da tática de “Frente Ampla”, uma tentativa de articulação entre as velhas legendas direitistas e os partidos da centro-esquerda. É verdade que o ex-presidente Fernando Henrique até se esforçou para juntar numa mesma mesa Rodrigo Maia (DEM), Marina (Rede), Flávio Dino (PCdoB) e Luciano Huck (Cidadania-Globo), porém a combustão do atual momento político empurrou os partidos da velha direita – PSDB, DEM, MDB e o Centrão – para uma linha de contenção de Bolsonaro, com o objetivo de blindar a agenda neoliberal de desmonte do país.

O Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) – controlados pelas forças políticas conservadoras e da velha direita – já operam como diques de contenção do bolsonarismo.

O presidente Bolsonaro já sentiu o bafo quente na nuca e manda mensagens apaziguadoras, ganhando tempo para retomar o fôlego. Se é verdade que o governo perdeu a iniciativa política nas últimas duas semanas, no entanto, ele ainda conta com apoio social de cerca de 30% da população e cultiva fortes laços de solidariedade nas Forças Armadas. A tensão entre o governo da extrema-direita e as forças da direita tradicional continuarão existindo no próximo período, um equilíbrio precário, mas necessário para impedir um cenário de emergência da mobilização popular por uma alternativa sem Bolsonaro e a direita neoliberal.

Neste sentido, a oposição de esquerda, em particular o Partido dos Trabalhadores (PT), tem o imenso e duplo desafio de unificar o conjunto das forças do campo popular e democrático e, ao mesmo tempo, demarcar com a velha direita, atuando com nitidez na defesa de uma saída pela esquerda da crise política, econômica e sanitária em curso.

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, em recente artigo publicado na Folha de São Paulo, apontou que “o Brasil não suportará uma saída ‘por cima’, para manter a agenda de Guedes com ou sem Bolsonaro. Nem voltará à normalidade sem reparar a injustiça e restaurar os direitos do ex-presidente Lula. Mais que o impeachment, o PT defende novas eleições com participação de todas as forças políticas. Ou enfrentamos a crise com o povo ou ela só vai se aprofundar”.

A chave política sugerida pela líder petista significa a rejeição de qualquer “frente ou pacto” que conduza para uma solução pelo alto, sem luta e mobilização popular para derrotar Bolsonaro, o que abriria espaços para saídas que preservem o atual modelo econômico neoliberal de espoliação dos trabalhadores e dos mais pobres.

Portanto, a esquerda deve apostar na retomada das ruas, acumulando mais e mais forças na luta pelo “Fora Bolsonaro”, construindo um bloco político e social capaz de se constituir como alternativa de governo no bojo do combate ao neoliberalismo, ao autoritarismo e aos truques e manobras das velhas elites do país.

*Milton Alves é ativista político e social. Autor do livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’.