Os perigos e os traumas de uma intervenção, por Enio Verri

O líder do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), escreve neste artigo as seguintes questões:

  • o Brasil caminha para mais um impeachment
  • omissão e negligência de Bolsonaro acerca da pandemia de coronavírus
  • a novela Lava Jato continua destilando ódio contra o PT
  • reformas foram contra o povo e os serviços públicos essenciais
  • as fake news ajudaram eleger Bolsonaro em 2018
  • investigações necessárias: rachadinha, Queiroz, quem mandou matar Marielle, interferência na PF, impessoalidade, etc.
  • toma-lá-dá-cá com o Centrão para evitar o impeachment

Enio Verri denuncia ainda que a classe dominante pode se proteger da pandemia e não tem escrúpulo algum de aprofundar a instabilidade política para manter seus privilégios, nem que para isso lance mão das Forças Armadas, como faz desde 1889.

Leia a íntegra do artigo:

Os perigos e os traumas de uma intervenção

Enio Verri*

É desolador, mas o Brasil caminha para mais um impeachment, em apenas quatro anos desde o último. O fato, por si só, aterrador. Porém, torna-se ainda mais grave quando sob uma pandemia cujas expectativas das estatísticas médicas, levando em conta as omissão e negligência de Bolsonaro, são de mais de um milhão de mortos. Uma catástrofe sem precedentes na história do Brasil, onde o presidente terá papel destacado, como o grande genocida. A pouca distância entre os impedimentos fica apenas no aspecto cronológico, o que já demais, pois expõem toda a fragilidade da democracia brasileira. Sob qualquer outro aspecto, os processos de Dilma e de Bolsonaro são absolutamente distantes um do outro.

Economia

Os motivos pelos quais Bolsonaro deve ser impedido são vastos e concretos. Porém, hoje, não se encontra um único parlamentar ou um jornalista honesto com coragem de dizer que Dilma Rousseff pedalou. Ela foi absolvida de todas as acusações, depois de o STF referendar o carnaval mais dantesco de toda a história do Parlamento brasileiro, no dia 17 de abril, de 2016. Nunca o verde e o amarelo foram tão emporcalhados. Uma presidenta honesta foi apeada do governo porque a classe dominante brasileira não tolera democracia e era preciso avançar sobre as riquezas naturais e as empresas estratégicas, como o pré-sal e a Petrobras, ente outras.

A novela Lava Jato, regularmente transmitida pelos maiores veículos de comunicação, inoculava, diariamente, mais ódio contra o Partido dos Trabalhadores e as esquerdas de um modo geral. Devido ao baixíssimo nível de politização da sociedade brasileira houve gente que vibrou, civicamente, com aquele carnaval. Às vésperas de ter o cargo roubado pelo golpe, Dilma profetizou, “não vai ficar pedra sobre pedra”. Imediatamente à posse de Temer, foi editada a EC95, que asfixia o Estado, impedindo-o de investir, por 20 anos, para dar dinheiro a banqueiro. Em seguida, as compras de votos de Temer para não ser cassado e as reformas trabalhistas que precarizaram ainda mais as condições da força de trabalho, em favor dos donos dos meios de produção.

Em 2018, uma eleição conquistada a partir de uma indústria de disparos de mentiras e detratações, colocou o improvável Bolsonaro na Presidência da República. Desde então, ele coleciona motivos para ser investigado. Esquema de apropriação de salários de servidores dos gabinetes dos parlamentares da família, sob administração do sumido Queiroz; íntima relação com os executores da vereadora do PSOL, Marielle Franco; interferência política na Polícia Federal, coisa que nunca houve nos governos do Partido dos Trabalhadores; fazer uma série de acusações contra pessoas, instituições e processos, sem apresentar provas, ser o mais destacado vetor de transmissão do coronavírus e cometer, abertamente, o crime de pregar o fechamento dos Poderes Legislativo e Judiciário. Porém, até o momento em que Bolsonaro leva ao extremo, a negligência, a antiética e o crime constitucional, o Congresso Nacional parece não ter visto, ainda, motivos tão fortes quanto uma pedalada fiscal para abrir processo de investigação contra o presidente.

Dois pesos e duas medidas. No processo de impeachment de Dilma, o centrão, que nada mais é que a direita ultraliberal, de onde vem Bolsonaro e com quem a presidenta se recusou a negociar para ser absolvida de um crime que não cometeu, será o grande apoio do presidente para se livrar da cassação por um dos 28 processos de impeachment apresentados ao Congresso Nacional. Para tanto, ele distribui cargos aos partidos desse campo político. De fato, é vital para o Brasil que Bolsonaro seja afastado para evitar um mal maior.

Porém, não é um rompimento que se fará sem traumas e consequências nefastas para a jovem e cambaleante democracia brasileira. A catástrofe já anunciada não pode ser palco de vaidosas disputas pelo poder político, sob pena de escrevermos o mais vergonhoso e desumano processo da nossa história. A classe dominante pode se proteger da pandemia e não tem escrúpulo algum de aprofundar a instabilidade política para manter seus privilégios, nem que para isso lance mão das Forças Armadas, como faz desde 1889.

*Enio Verri é economista e professor aposentado pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.

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PT diz que Bolsonaro arma nova farsa contra o partido e a democracia

Em nota divulgada na noite desta segunda-feira (11), a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) e os líderes do partido no Congresso, deputado Enio Verri (PR) e senador Rogério Carvalho (SE) denunciam a nova farsa do bolsonarismo para desviar atenção do País e do mundo sobre os crimes do presidente da República.

“Por meio de um advogado tão mentiroso quanto seu cliente, Bolsonaro lançou num programa de TV a acusação leviana, falsa e criminosa de que o homem que o esfaqueou em setembro de 2018 teria agido ‘a mando do PT’. Covarde como é, o atual presidente escondeu-se por trás do advogado Frederick Wassef, que será interpelado judicialmente e terá de responder pelo que fez”, afirmam.

“Alertamos a sociedade brasileira e a comunidade internacional para a gravidade da farsa que Bolsonaro prepara e para a qual já mobilizou sua milícia digital e seus apoiadores em parte da mídia”, advertem.

“A nova mentira de Bolsonaro atenta não só contra o PT, mas contra o Estado de Direito e a ordem jurídica”, dizem.

Leia a íntegra da nota:

NOTA DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

O Partido dos Trabalhadores denuncia que Jair Bolsonaro, principal responsável pelo agravamento da crise social, política e econômica e pela morte de milhares de vítimas do coronavírus, começou a armar hoje (11 de maio) uma farsa grotesca para desviar a atenção do país e do mundo sobre seus inúmeros crimes.

Por meio de um advogado tão mentiroso quanto seu cliente, Bolsonaro lançou num programa de TV a acusação leviana, falsa e criminosa de que o homem que o esfaqueou em setembro de 2018 teria agido “a mando do PT”. Covarde como é, o atual presidente escondeu-se por trás do advogado Frederick Wassef, que será interpelado judicialmente e terá de responder pelo que fez. Mas todos sabem quem é seu mandante.

Alertamos a sociedade brasileira e a comunidade internacional para a gravidade da farsa que Bolsonaro prepara e para a qual já mobilizou sua milícia digital e seus apoiadores em parte da mídia. Inconformado com o resultado do inquérito policial que concluiu pela ação isolada de um réu declarado incapaz pela Justiça, ele tenta reabrir o episódio acusando falsamente o maior partido da oposição.

A nova mentira de Bolsonaro atenta não só contra o PT, mas contra o Estado de Direito e a ordem jurídica. Atenta contra a democracia, com a qual ele e suas milícias fascistas são incapazes de conviver. É mais um lance na escalada autoritária com qual Bolsonaro desafia as instituições cada vez mais.

Como fez nas eleições, Bolsonaro tenta retomar a imagem de vítima, quando é ele o maior incentivador da violência política e da tragédia social e sanitária em que lançou o país. As verdadeiras vítimas são as mais de 10 mil pessoas que já morreram na pandemia e os milhões que sofrem com o abandono do governo em meio à crise.

É medo que Bolsonaro sente. Medo da verdade e das contas que terá de prestar ao povo e à Justiça pelos crimes que cometeu antes e depois de uma eleição viciada pelo financiamento ilegal e clandestino de uma indústria de mentiras nas redes sociais. Ele e sua família terão de responder por tudo que tentam esconder com novas mentiras.

Em defesa da verdade, da democracia e da vida, fora Bolsonaro e seu governo de violência e mentiras.

Brasília, 11 de maio de 2020

Deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidenta nacional do PT

Deputado Enio Verri (PR), líder do PT na Câmara dos Deputados

Senador Rogério Carvalho (SE), líder do PT no Senado Federal