Estadão dá tiro no pé com editorial hipócrita

O editorialista do Estado e S. Paulo, o Estadão, só pode ter fumado coisa estragada. Senão, vejamos.

O Estadão participou ao menos de dois golpes de Estado: o de 1964, com os militares, e o de 2006, com a derrubada da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT).

Nem entraremos na participação do jornalão na contrarrevolução ao movimento de Getúlio Vargas, em 1932.

Em hipócrita editorial, o Estadão tenta igualar o estadista Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o miliciano Jair Bolsonaro (sem partido). Aliás, presidente para quem a publicação torceu contra a solução petista Fernando Haddad.

Nas redes sociais, o jornalão paulistano apanha com razão a estibordo e a bombordo devido à falta de coerência e anacronismo histórico.

O Estadão é sinônimo de patrimonialismo, golpismo, mamatas e do despreparo da burguesia paulistana. Rezemos para que esse não seja o nível intelectual da elite que a publicação se arvora representante.

Economia

O Estadão repete os demais veículos da velha mídia –Folha, Globo, Veja, et caterva– e não é capaz de formular uma saída política, econômica e social do País. Por quê? Porque esteve na linha de frente do golpe e da eleição de Bolsonaro, visando garantir privilégios para bancos e rentistas.

Diferente como imagina o editorialista, Bolsonaro e os donos do Estadão é que são farinha do mesmo saco.

Em outubro do ano passado, em visita à sede do jornal, em São Paulo, Bolsonaro revelou que tem ligações antigas com o Estadão. Contou que vendia exemplares de jornais entre 1971 a 1976. Foi recebido com festa pelo diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco Mesquita Neto.

Na verdade, Estadão e Bolsonaro foram nascidos um para o outro.

Aliás, o Estadão tem um fetiche com a farda verde-oliva. E, quem diz isso é a história…

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Leia a íntegra do editorial do Estadão: 

Nascidos um para o outro

Tanto o presidente Jair Bolsonaro como o chefão petista Lula da Silva se associam na mais absoluta falta de escrúpulos, em níveis que fariam até Maquiavel corar

Não há dúvidas. Jair Bolsonaro e Lula da Silva nasceram um para o outro.

Tanto o presidente da República como o chefão petista se associam na mais absoluta falta de escrúpulos, em níveis que fariam até Maquiavel corar. Pois o diplomata florentino que viveu entre os séculos 15 e 16, malgrado tenha descartado a retidão moral absoluta como fator essencial para o bom governo, formulou uma ideia de ética específica para a política, segundo a qual, entre outras regras, o governante jamais deve colocar seus interesses pessoais acima dos interesses do Estado nem agir como se seu poder fosse ilimitado: “O príncipe que pode fazer o que quiser é um louco”, escreveu em sua obra mais conhecida, O Príncipe (1532).

Jair Bolsonaro e Lula da Silva unem-se como siameses. Enxergam o mundo e seu papel nele da mesmíssima perspectiva. Tudo o que fazem diz respeito exclusivamente a seus projetos de poder, nos quais o Estado e o povo deixam de ser o fim último da atividade política e passam a ser meros veículos de suas aspirações totalitárias.

Ambos, Bolsonaro e Lula, só se importam com o sofrimento e a ansiedade da população na exata medida de seus objetivos eleitorais. O petista, por exemplo, declarou recentemente que “ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus para que as pessoas percebam que apenas o Estado é capaz de dar a solução, somente o Estado pode resolver isso”.

Tão certo de sua inimputabilidade, Lula da Silva nem se preocupou em ao menos aparentar retidão moral, como recomendava Maquiavel aos príncipes de seu tempo, entregando-se à mais vil exploração política do sofrimento causado pela pandemia de covid-19. Lula da Silva é, assim, o anti-Maquiavel: enquanto o florentino elogiou seus conterrâneos por preferirem salvar sua cidade em vez de salvar suas almas, Lula saúda a morte de seus compatriotas como uma espécie de sacrifício religioso em oferenda à estatolatria lulopetista.

Já Bolsonaro, bem a seu estilo, continua a menosprezar os milhares de brasileiros mortos na pandemia, agora com requintes de crueldade. Depois do infame “e daí?”, expressão que usou ao reagir à informação sobre a escalada do número de mortos no Brasil, o presidente da República não viu nenhum problema em fazer piada com a desgraça do país que ele foi eleito para governar. “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma Tubaína”, brincou Bolsonaro.

Nem se deve perder tempo procurando graça onde, definitivamente, não há. Diante das dramáticas circunstâncias, só riu da blague bolsonarista quem não nutre nenhuma empatia ou respeito pelo sofrimento dos outros. Para o presidente da República, só os direitistas são dignos de salvação – por meio da cloroquina, que Bolsonaro, baseado em estudos fajutos, quer que os brasileiros tomem para que o País supere rapidamente a pandemia e “volte ao normal”. Já os “esquerdistas” – isto é, todos os que não são bolsonaristas –, que bebam refrigerante.

Bolsonaro e Lula são o resultado mais vistoso da degradação violenta da atividade política, aquela que, na concepção de Maquiavel, deveria almejar a todo custo o bem coletivo. Cada um à sua maneira, um mais truculento, o outro mais dissimulado, o presidente e o petista se consideram fora do alcance das considerações éticas que deveriam moderar o poder e que estão no coração das sociedades democráticas.

Lula trabalha desde sempre para cindir o País – e sua recente celebração do coronavírus pode ser vista como uma espécie de corolário macabro da concepção doentia segundo a qual os brasileiros recalcitrantes, que ainda não aceitam o projeto de Estado autoritário idealizado pelo lulopetismo, devem ser castigados pela natureza para que aprendam de uma vez por todas que Lula sempre tem razão. Bolsonaro faz exatamente o mesmo, e ainda enxovalha publicamente quem se recusa a aceitá-lo como salvador.

O bolsonarismo é um monstrengo antidemocrático que só ganhou vida e ribalta por obra e graça do lulopetismo. A uni-los, a sede de poder absoluto. Mas, como já ensinou Maquiavel, não há poder que dure para sempre.