Embaixador do Brasil na França ataca governadores e o jornal Le Monde

O embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, escreveu ao jornal Le Monde respondendo a um editorial que criticou o presidente Bolsonaro.

No editorial, o jornal francês afirmou que Bolsonaro faz “cálculo político insensato” ao defender a manutenção da atividade econômica a qualquer custo.

O texto destaca que o presidente brasileiro participa de aglomerações e clama as autoridades locais a abandonar restrições impostas para evitar o contágio pelo vírus, enquanto “os cemitérios do país registram um número recorde de enterros”.

Para o Le Monde, Bolsonaro provoca “caos na saúde e semeia a morte” com seu comportamento.

A publicação cita ainda a saída do cargo do ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, por divergências com Bolsonaro menos de um mês após assumir, no dia em que os mortos pela Covid-19 chegaram a 16 mil, bem como os delírios do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que se referiu ao coronavírus como “comunavírus”.

LEIA TAMBÉM:
Lula acusa Globo de agir de má-fé em frase sobre coronavírus; assista

Economia

Sem ministro da Saúde, Bolsonaro reforça o uso da Cloroquina

Recorde de mortes por Coronavírus no Brasil é destaque na mídia inglesa

Já em sua carta, o embaixador Luís Fernando Serra se queixa de que o texto é “profundamente ofensivo” para o Brasil e para a “biografia” de Bolsonaro. Diz ainda que Bolsonaro nunca negou a existência do novo vírus, chamado pelo presidente da República de “fantasia” e de “gripezinha”.

De acordo com Serra, Jair Bolsonaro queria evitar “histeria” e evitar a “fome” causada pelo confinamento, que “mata mais rápido que a pandemia”. O embaixador cita ainda o isolamento vertical defendido por Bolsonaro, ou seja, que apenas pessoas do grupo de risco fossem isoladas – medida com sérios problemas de viabilização e que não foi adotada por nenhum país. Na carta, o embaixador acusa um dos jornais com maior credibilidade no mundo de “enganar os fatos”.

O diplomata também ataca os governadores brasileiros, que estão se esforçando para manter as políticas de isolamento e desafogar o sistema de saúde sob constante boicote do presidente da República.

Serra afirma que dizer que Bolsonaro politiza a crise é uma “imprecisão extraordinária”. Para ele, “a politização da pandemia foi liderada pelos governadores opostos ao presidente brasileiro e que viram no estrito confinamento, às vezes brutalmente imposto, a oportunidade de derrubar os excelentes indicadores econômicos apresentados pelo governo em 2019”.

Na verdade, o Produto Interno Bruto do Brasil teve um crescimento nanico em 2019, de 1,1% – inferior ao registrado nos dois anos do governo de Michel Temer.

“O cálculo político desses governadores é óbvio: a única chance de Bolsonaro não ser reeleito em 2022 é precisamente desestabilizá-lo para evitar que seu sucesso em 2019 não se repetiu nos anos seguintes”, escreve o embaixador, evidenciando quem na verdade está preocupado com as eleições de 2022. Temendo não ser reeleito, Bolsonaro procura um bode expiatório para a crise econômica.

Confira a íntegra da nota enviada por Luís Fernando Serra ao Le Monde:

EMBAIXADA DO BRASIL
Sr. Luc Bronner, Diretor Editorial Le Monde Paris, 19 de maio de 2020

Senhor Diretor,

Como leitor regular de seu jornal, li, indignado, mas não surpreendentemente, o editorial intitulado “Brasil: o voo perigoso de Bolsonaro”. O artigo inteiro é profundamente ofensivo, tanto para o Brasil, onde se montou um “teatro do absurdo”, quanto para a biografia e crenças de um presidente eleito por quase 58 milhões de brasileiros. Permitam-me que analise as muitas imprecisões deste texto.

Uma das principais é certamente a tese da negação. O presidente Bolsonaro nunca negou a existência do COVID-19. O que ele fez desde o início da crise da saúde é tentar evitar histeria ou pânico dominar a população. Nesse contexto, o Presidente do Brasil sempre apoiou exatamente o que Dominique Moïsi, assessora do Instituto Montaigne, defende: nas economias em que a maioria da população vive “dia a dia”, a fome que o confinamento acaba causa mata mais rápido que a pandemia.

Ciente dessa peculiaridade socioeconômica, o Presidente Bolsonaro defendeu o retorno ao trabalho da população e que apenas as pessoas pertencentes a grupos de risco permanecem em quarentena, o que foi chamado de contenção seletiva ou vertical. Sonho, como brasileiro e embaixador, no dia em que seu jornal tratará um presidente do Brasil que não seja da esquerda com a consideração e o respeito que merece.

Acusar o presidente Bolsonaro de “politizar” a crise da saúde é outra imprecisão extraordinária da este editorial. O que é inegável é que a politização da pandemia foi liderada pelos governadores opostos ao presidente brasileiro e que viram no estrito confinamento, às vezes brutalmente imposto, a oportunidade de derrubar os excelentes indicadores econômicos apresentados pelo governo Bolsonaro em 2019, como inflação reduzida para 3%, contra 15% em 2015; taxa de juros de 5%, ante 14% em 2015; Crescimento do PIB de 0,8% em comparação com menos 3,8% em 2015; um risco país de 117 pontos contra 533 em 2015; e, finalmente, um índice da bolsa de valores de São Paulo em 108 mil pontos contra 38 mil em 2015.

O cálculo político desses governadores é óbvio: a única chance de Bolsonaro não ser reeleito em 2022 é precisamente desestabilizá-lo para evitar que seu sucesso em 2019 não se repetiu nos anos seguintes.

Cabe destacar que, diferentemente da Suécia, que não estabeleceu confinamento e tem menos mortes por milhão de habitantes do que outros países europeus que o estabeleceram, no Brasil, os Estados ter registrado o maior número de mortes são precisamente aqueles que aplicaram a contenção com o maior rigor.

Além disso, o Brasil, o quinto país mais populoso do mundo, registrou 61,86 mortes por milhão de habitantes em 14 de maio, doze vezes menos que a Bélgica, a primeira nesse ranking desastroso. Outro erro que merece ser corrigido: sustentar que o presidente do Brasil espera que “os efeitos devastadores da crise sejam atribuídos a seus oponentes”.

A lógica desta afirmação não se aplica. De fato, o presidente seria o maior perdedor se as vitórias reunidas em 2019, listadas acima, não se consolidassem e esse é precisamente o objetivo de seus oponentes. O fato de os governadores que se opõem abertamente ao chefe de Estado serem os maiores entusiastas do confinamento total não é mera coincidência, porque sabem que, como na França, quinze dias de confinamento no Brasil significam 1,5% Retração do PIB.

Um país que, graças às boas políticas adotadas por Bolsonaro, retomou o caminho do crescimento, com empregos criados (um milhão em 2019) e inflação controlada, é tudo o que os opositores do presidente temem.

Por fim, vou me concentrar na “tentação autoritária” que sua vida diária atribui ao Presidente Bolsonaro. A esse respeito, gostaria que você me mostrasse um único juiz ou político encarcerado, um único jornalista perseguido, um único jornal censurado para apoiar a hipótese da suposta inclinação do Presidente Bolsonaro à discrição.

Como diz seu editorial sobre populistas, “enganando os fatos”, o Le Monde acabará acreditando nas ficções que inventa. Como símbolo da imprensa livre, o Le Monde sempre reconheceu o direito de resposta como um dos pilares da democracia. Além disso, agradeceria se você honrasse essa tradição gloriosa publicando essa resposta às imprecisões e imprecisões que abundam em seu editorial. Por favor, aceite, senhor, a garantia da minha mais alta consideração.

Luís Fernando Serra
Embaixador do Brasil

Via Vermelho.