Desemprego subnotificado, a exemplo do coronavírus

O governo de Jair Bolsonaro afirma que a taxa de desemprego no país subiu para 12,6% no trimestre encerrado em abril deste ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada hoje (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é superior aos 11,2% do trimestre encerrado em janeiro.

Em relação ao trimestre encerrado em abril de 2019, a taxa ficou estatisticamente estável, já que o índice de desemprego daquele período era de 12,5%. Foram fechados quase 5 milhões de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior.

O diabo é que esses números negativos podem ser maiores ainda, pois, de acordo com entidades sindicais, pode ter havido subnotificação de desemprego –assim como tem acontecido com o número de infectados e mortos pelo coronavírus no Brasil.

A falta de número reais pode dar a falsa sensação de que demissões não têm ocorrido e que o problema tem sido contornado e amenizado por meio do auxílio emergencial, por exemplo.

O Ministério da Economia havia divulgado ontem (27) que foram fechados 860 mil postos de empregos no mês de abril. Pior resultado desde 1992.

Segundo dados oficiais, o nível da ocupação (percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar) caiu para 51,6%, o menor da série histórica iniciada em 2012. Há 1 ano, estava em 54,2%.

Economia

A informalidade já vinha disparando antes mesmo da pandemia, com a uberização, e redução de pessoas com carteira assinada. Agora a situação parece ter sido agravada com o coronavírus.

A população fora da força de trabalho somou 70,9 milhões de pessoas no trimestre encerrado em abril, representando também um novo recorde na série iniciada em 2012, com alta de 7,9% (mais 5,2 milhões de pessoas) em 3 meses e salto de 9,2% (mais 6 milhões) na comparação a igual período de 2019.

Os dados oficiais são esses:

  • 89,2 milhões de brasileiros “ocupados” (população atual de 210 milhões);
  • 32,2 milhões de pessoas com carteira assinada;
  • 23,4 milhões de pessoas trabalham por conta própria;
  • 34,6 milhões de pessoas estão na informalidade (taxa de 38,8%);
  • 28,7 milhões de pessoas subutilizadas (recorde com taxa de 25,6%); e
  • 5 milhões de pessoas estão desalentadas.

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PT denuncia na Justiça Federal “apagão de dados” no Caged

Publicado em 28 maio, 2020

O PT entrou na 20ª Vara Cível da Justiça Federal com a Ação Popular 1030285-75.2020.4.01.3400, denunciando a ausência de divulgação dos dados sobre o mercado de trabalho registrados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), suspenso desde 30 de março. A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e os líderes da legenda na Câmara, deputado Enio Verri (PR), e no Senado, Rogério Carvalho (SE), apontam ofensa à moralidade administrativa diante da omissão do Ministério da Economia.

O governo alegou, no final de março, que as empresas deixaram de informar ao Caged os dados sobre emprego após a mudança das operações de registro para a plataforma eSocial, justificando ainda a pandemia do coronavírus. Na quarta-feira, 27, o Ministério da Economia anunciou os resultados de março e abril do novo Caged: 1.245.071 de desempregados, de acordo com dados oficiais. Nesta quinta, 28, saiu a taxa de desemprego no país: 12,8% da força de trabalho, de acordo com o IBGE. São 12,8 milhões de desempregados. O PT desconfia que as estatísticas estejam disfarçadas e que o quadro real é pior.

Em entrevista coletiva, ontem, o secretário de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, considerou o resultado do novo Caged razoável. “O copo está meio cheio”, disse, comparando o mercado de trabalho brasileiro ao dos Estados Unidos, onde o desemprego atingiu 40,8 milhões de norte-americanos, desde o início da pandemia, de acordo com dados oficiais. Bianco só esqueceu de dizer que o Brasil vive um apagão de dados desde o final do ano passado, quando houve mudanças na metodologia de estatísticas.

Em liminar, o PT pede na ação que o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o secretário de Previdência e Trabalho sejam obrigados a divulgar a projeção de dados do Caged sobre o ano de 2020, ainda que parcialmente. A legenda também cobra a divulgação de levantamento integral dos dados definitivos, referentes desde janeiro a maio de 2020.

No mérito, Gleisi e os líderes do partido na Câmara e no Senado requerem do governo a adoção de medidas para o adequado levantamento das informações e normalização da situação, com a retomada da divulgação das estatísticas, a fim de restabelecer um calendário regular dos dados registrados pelo Caged.

O Caged é a principal fonte de dados estatísticos sobre o cenário de emprego e desemprego no país e foi criado em 1965. Mas, desde dezembro de 2019, a Secretaria da Previdência e Trabalho não vinha divulgando com regularidade as informações levantadas.