Bolsonaro tic-tac, tic-tac, diz jornal americano The Washington Post

O jornal americano The Washington Post afirma nesta sexta-feira, 1º de Maio, que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro está sentado em uma bomba-relógio de coronavírus prestes a explodir.

A publicação dos Estados Unidos recupera que nesta quinta-feira, 30, Bolsonaro continuou seu fluxo constante de fake news sobre o coronavírus no Facebook, desta vez violando as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), sugerindo estranhamente que a agência de saúde das Nações Unidas incentiva a masturbação e a homossexualidade entre crianças.

O post, que foi removido, se encaixa na resposta desconcertante de coronavírus de Bolsonaro – uma marcada pela negação da escala da ameaça, raiva pelos bloqueios impostos pelos governadores estaduais, brigas profundas com alguns de seus funcionários do gabinete, a devastação ecológica acelerada da Amazônia e a disseminação constante do vírus na maior e mais populosa nação da América Latina.

O jornal relata que o presidente só conseguiu dar de ombros irritado na terça-feira, quando confrontado por repórteres sobre as mais de 5.500 mortes confirmadas de coronavírus do país. “E daí?” ele disse. “Eu sinto Muito. O que você quer que eu faça?”

O Brasil tem cerca de 80.000 casos confirmados de coronavírus, mas especialistas dizem que o número real é muito maior, potencialmente acima de 1 milhão. Os órgãos estão se acumulando nas principais cidades, já que as autoridades locais antecipam uma onda de casos, com o provável pico do surto ainda a algumas semanas de distância. A incerteza não é ajudada pelo fato de o governo Bolsonaro não testar a população.

“Desde a noite passada, os corpos deixaram o hospital na Barra da Tijuca, no Rio, porque o necrotério estava cheio. Hospital com falta de médicos. Situação no Rio piorando”, diz um tuíte de Dom Phillips, correspondente internacional no Rio.

Economia

O Brasil “testa 12 vezes menos pessoas que o Irã e 32 vezes menos que os Estados Unidos”, relataram jornalistas americanos, cita a matéria, uma métrica sombria, uma vez que os Estados Unidos ainda precisam intensificar seus próprios esforços de teste. “Pacientes hospitalizados não estão sendo testados. Alguns profissionais médicos não estão sendo testados. As pessoas estão morrendo em suas casas sem serem testadas.”

O resto do mundo está anotando. Os vizinhos do Brasil estão cada vez mais cautelosos com a abordagem negligente do país e temem que ele se torne um super espalhador continental. “Muito tráfego vem de São Paulo, onde a taxa de infecção é extremamente alta e não me parece que o governo brasileiro a esteja levando com a seriedade necessária”, disse o presidente argentino Alberto Fernández no fim de semana passado. “Isso me preocupa muito, para o povo brasileiro e também porque pode ser transportado para a Argentina.”

A Associated Press informa que as autoridades argentinas nas províncias limítrofes do Brasil estão trabalhando para montar corredores seguros para que os caminhoneiros brasileiros possam entrar no país e entregar suas mercadorias sem entrar em contato com os argentinos. Existem planos semelhantes em andamento no Uruguai.

O Paraguai fechou suas fronteiras e pelo menos em um caso cavou uma trincheira entre duas cidades fronteiriças para impedir travessias. O presidente venezuelano Nicolás Maduro – um inimigo de Bolsonaro encarregado de um país devastado pela crise – prometeu garantir “uma barreira epidemiológica e militar” ao longo da fronteira de sua nação com o Brasil.

Nos Estados Unidos, o governador da Flórida, o republicano Ron DeSantis, alertou para os riscos que os viajantes brasileiros vão para o seu estado, que abriga uma grande diáspora brasileira. “O Brasil tem grande capacidade científica e econômica, mas claramente sua liderança tem uma posição não científica no combate ao coronavírus”, disse DeSantis.

Essa é uma opinião compartilhada pelo ex-ministro da Saúde de Bolsonaro, que deixou seu cargo no mês passado em circunstâncias cruéis. Bolsonaro “começou a ter atitudes anti-saúde, incitando multidões, saudando um medicamento que não tinha nenhuma base científica”, disse Luiz Henrique Mandetta ao The Washington Post, referindo-se à dispensa do presidente da necessidade de bloqueios e sua obsessão por divulgar o propriedades curativas da hidroxicloroquina. “Acho que ele não me demitiu”, acrescentou Mandetta. “Ele despediu a ciência.”

Mas, para a sorte de Bolsonaro, a demissão de Mandetta é menos importante do que a saída de Sérgio Moro, o ministro da Justiça que deixou seu cargo em 24 de abril, mas não antes de denunciar Bolsonaro por tentar nomear um diretor-geral da Polícia Federal mais flexível, que teoricamente poderia impedir as investigações em andamento no país, inclusive os filhos do presidente.

As acusações contra seus familiares são condenatórias e, se comprovadas, podem levar ao possível impeachment do presidente, que já perdeu apoio considerável de aliados conservadores e centristas ao lidar com o surto do coronavírus. Nesta semana, o Procurador-Geral da República do país autorizou uma investigação sobre a suposta corrupção e obstrução da justiça do presidente.

LEIA TAMBÉM
OMS quer participar de investigação sobre origem do coronavírus na China

Trump se diz confiante de que coronavírus pode ter se originado em laboratório chinês

Bolsonaro diz que ‘talvez’ tenha sido contaminado pelo coronavírus

Bolsonaro se encontrará quando com famílias de mortos e infectados pelo coronavírus?

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenta a todo custo se desvencilhar da responsabilidade das mais de 6 mil mortes por coronavírus e 87 mil casos de infecção confirmados.

Há especialistas afirmando que o Brasil está subnotificando a Covid-19 e os casos e mortes seriam até 10 vezes maiores.

É nesse contexto da “necropolítica” –a política da morte do governo federal brasileiro– que surge a pergunta desconcertante: Quando Bolsonaro se encontrará com famílias de mortos e infectados pelo coronavírus?

O governador de São Paulo, João Doria, possível candidato do PSDB à Presidência da República, em 2022, acusou nesta quarta (29) Bolsonaro de viver numa bolha e cobrou que o presidente visitasse hospitais que estão tratando pacientes de coronavírus.

No entanto, Bolsonaro continua apático e minimizando a letalidade do vírus. Nas redes sociais, seus seguidores espalham fake news dizendo que os caixões sepultados em covas coletivas estariam vazios e que as imagens seriam obras de comunistas para derrubar o “Messias”.

O desprezo de Bolsonaro pela realidade não sensibilizou seu aliado Donald Trump, presidente dos EUA, que também sofre desgastes com mortes, crise econômica e casos de coronavírus.

“No Brasil, [o número de mortes] está muito alto, se você olha o que está acontecendo, para os gráficos. É muito, muito alto. Quase vertical”, observou o presidente americano, que esta semana cogitou proibir voos para o Brasil.

“Eles [o Brasil] estão passando por um momento difícil, eles estão chegando [no modelo de imunidade de] rebanho. A Suécia chegou no rebanho”, disse Trump.

“O povo da Suécia é muito inteligente, eles estão ficando em casa, eles não estão saindo. Algumas pessoas, sim, eu acho, mas eles perderam muitas pessoas”, comparou o presidente dos Estados Unidos.

Donald Trump dirige uma nação cujo número de mortos pelo coronavírus em oito semanas ultrapassa o total de baixas militares americanas em oito anos de grande combate no Vietnã.

A exemplo de seu fã Bolsonaro, o presidente americano também é acusado pela mídia de ser pouco empático e frio em relação ao sofrimento das famílias. Mas há uma explicação crível para isso: eles são atendidos pelo mesmo marqueteiro, Steve Bannon.

Dito isso, podemos responder à pergunta grafa no título deste post com um provavelmente Bolsonaro “não” irá se reunir com as famílias de mortos e infectados pelo coronavírus.