Notícias ao vivo do coronavírus: “Bolsonaro é a tragédia”

O líder do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), não tem dúvidas de que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é a própria tragédia na pandemia do coronavírus.

Ao analisar o comportamento do “Capitão Corona” e seu “Incrível Exército de Brancaleone”, o parlamentar petista afirma que o Brasil está nas mãos se uma gente fanática, que se julga líder de uma suposta libertação da nação sabe-se lá do quê.

“Estamos no limite de um desastre sanitário sem precedentes, no qual poderá morrer centenas de milhares de pessoas, e o presidente sabota toda iniciativa de combate”, denuncia Verri no artigo.

Leia a íntegra:

Bolsonaro é a tragédia

Enio Verri*

Economia

O governo Bolsonaro é a ópera fajuta da grande obra de Mario Monicelli, o Incrível Exército de Brancaleone, cuja personagem principal é um capitão de um exército improvável e mambembe. O período que o filme retrata é a Idade Média que, simbolicamente, localiza no imaginário o atual governo em seus atrasos políticos, culturais e econômicos. Quando um presidente se ajoelha, em frente ao Palácio da Alvorada, para orar com fieis de uma determinada linha cristã que o admiram e o idolatram, além de reduzir e diminuir o significado da espiritualidade, estimula a realização de cultos não apenas desta, mas de outras religiões, o que elevará a contaminação pela COVID-19 à progressão geométrica.

Essa foi a última afronta desferida por Bolsonaro contra a ciência, antes de bravatear que demitiria o ministro da Saúde, Henrique Mandetta. Segundo o iluminado presidente, argumentos científicos e a adoção dos protocolos internacionais de saúde, não podem sobrepujar as adivinhações de um guru desde os EUA, que são os alicerces que norteiam as políticas públicas desse governo de combate e redução de danos da pandemia de coronavírus. Diferentemente de Mandetta, Bolsonaro acredita que a pandemia não é uma coisa com a qual se deva preocupar tanto, a ponto de impedir que os trabalhadores voltem a seus postos para o bem da gloriosa economia brasileira. Porém, o retorno ao trabalho é bom apenas para os patrões, que se manterão protegidos, enquanto a substituível força de trabalho se expõe à contaminação.

O Brasil está nas mãos se uma gente fanática, que se julga líder de uma suposta libertação da nação sabe-se lá do quê. Nesse cenário, onde Bolsonaro encena o seu teatrinho macabro, não se pode deixar de observar as cordas presas a ele, que sobem até uma cruzeta por onde Trump maneja sua marionete. O mais recente crime de lesa-pátria foi o de bancar o rompimento das relações diplomáticas com a China, que podem custar as relações culturais e econômicas. O silêncio sobre as atitudes infantis e incendiárias de seu filho, Eduardo Bolsonaro, e do ministro da Educação, é uma declaração de rompimento com um país que nunca ameaçou o Brasil, nem antes e nem depois do estabelecimento de relações diplomáticas, em 1974, sendo, hoje, nosso maior parceiro comercial.

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Nem o deputado e nem Weintraub pediram desculpas publicamente à China. Promove-se o rompimento com mais de três mil anos de cultura e a segunda maior economia do mundo. Apenas no primeiro trimestre, deste ano, a China importou do Brasil US$ 14 bilhões. Em 2019, o saldo da balança comercial com os chineses foi de US$ 21,4 bilhões, quando os EUA importaram do Brasil, apenas US$ 5,2 bilhões. As inaceitáveis ofensas racistas contra os chineses foram respaldadas pelo presidente, na medida em que se calou e o tiro no pé já começa a ser sentido. A China decidiu comprar soja dos EUA. Os patriotas patetas se deixaram levar por uma manobra comercial e perdemos mercado, num momento em que a economia do Brasil respira por aparelhos. O sanatório geral que governa o País nega a pandemia do coronavírus e incendeia as relações diplomáticas e comerciais do Brasil.

Esse é o contexto em que se encontra o País. O presidente não tem condições de governar, nem em situação de normalidade, que dirá sob as crises que assolam a nação. Na verdade, nunca houve uma Presidência, de onde se emanasse não apenas a execução, mas também a proposição da defesa e da proteção dos 210 milhões de brasileiros e dos interesses do Brasil, como global player que é. Porém, este País é muito maior do que o puxadinho que uma família de lunáticos tenta fazer dele para si, como se fosse o quintal de sua casa.

Estamos no limite de um desastre sanitário sem precedentes, no qual poderá morrer centenas de milhares de pessoas, e o presidente sabota toda iniciativa de combate. Segundo Bolsonaro, é mais importante para o Brasil a opinião do achismo fanático dele, do que a opinião de um ministro que é médico e está, ou deveria estar, cercado da opinião da comunidade científica do mundo. A não demissão de Mandetta, por um lado, é sinal de que nem tudo está perdido, por enquanto. Por outro, fica claro que Bolsonaro já não governa, pois a capitulação da demissão foi proposta por uma junta de gente esclarecida, coisa que o presidente não tem condições de adquirir. Nesse sentido, a bem da democracia e da segurança nacional, é importante que o País saiba quem o está conduzindo.

*Enio Verri é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara dos Deputados.