Em artigo, Fernando Haddad tenta mesurar o “Custo Bolsonaro”

O principal adversário de Jair Bolsonaro na eleição de 2018, o ex-ministro Fernando Haddad (PT), publicou um artigo neste sábado (11), na Folha de São Paulo falando do “Custo Bolsonaro” ao Brasil.

Haddad afirma que Bolsonaro trará um “inestimável o custo civilizatório” que não entra no cálculo do PIB. Segundo o petista, a gestão do adversário é lenta e errática, além de ser constante a geração de conflitos e desavenças.

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Estamos na mão de um tenente, expulso do Exército, humilhado nos bastidores até pelo seu ministro mais medíocre.” Escreveu o ex-ministro da Educação.

Leia a íntegra:

Economia

Custo Bolsonaro
Presidente não passa um dia sem provocar desavenças

É inestimável o custo civilizatório da Presidência de Jair Bolsonaro, um ser que não passa um dia sem provocar desavença. Esse custo não entra necessariamente no cálculo do PIB, embora provoque mal-estar para a maioria da população. O custo da má gestão da crise, entretanto, torna-se cada vez mais palpável com o passar do tempo.

Observa-se na gestão da economia a mesma lentidão e falta de clareza que se observa na saúde. Esse governo não toma decisão de forma resoluta. Tudo é mais ou menos; é, mas pode não ser. O apelo às ditas canetadas encobre a fraqueza do dono da caneta.

Há muitas diferenças entre uma pandemia e uma guerra, mas dois fatores as aproximam. Em primeiro lugar, luta-se contra um inimigo externo. Isso dá condições aos homens públicos de crescer aos olhos da nação; basta que tenham estatura. Bolsonaro é dos poucos governantes que perdem popularidade na crise e o único tratado com ironia e desrespeito pela comunidade internacional.

Um segundo fator é o tempo. Um dia de atraso pode decidir o desfecho de uma batalha. O desfecho de uma batalha pode decidir uma guerra. Que o digam Alexandre, Júlio Cesar, Napoleão ou Churchill.

Estamos na mão de um tenente, expulso do Exército, humilhado nos bastidores até pelo seu ministro mais medíocre.

As vacilações do comando são notáveis no campo da saúde. Ninguém sabe ao certo quais são as diretrizes sanitárias do governo Bolsonaro. Famílias exigem a prescrição de cloroquina aos entes enfermos. É cada vez mais nítido o desrespeito ao isolamento social. Testagem em massa, ampliação de leitos de UTI e aquisição de EPI são temas que o Ministério da Saúde custa a tratar com diligência.

Na economia, o homem que em Davos, no ano passado, prometeu zerar o déficit primário e, recentemente, afirmou que o Brasil estava a um milímetro do paraíso demora a sair do estado catatônico. Guedes chegou a afirmar, feito um parvo, que “com R$ 5 bilhões a gente aniquila o coronavírus”. Diante da tarefa que lhe cabe no momento —apoiar as famílias, empresas e entes federados pelo prazo do isolamento social—, discute-se no Brasil (e só aqui) se essas ações consensuais em tempo de “guerra” são ou não aderentes ao ideário liberal. Perde-se tempo precioso.

A demora em tomar resolutamente decisões coerentes, tanto na área da saúde quanto na área econômica, aumenta o custo da crise. E as disfunções de uma área agravam as disfunções da outra.

O país está sem comando para lidar com um problema dessa dimensão. Se nada for feito, o custo Bolsonaro não será nada desprezível e ele já está contratado.

O artigo foi publicado originalmente na Folha de São Paulo.