Datafolha sepultou as ilusões. Qual o caminho?

Se os chineses dizem que é dando o primeiro passo que se faz uma grande caminhada, o jornalista Ricardo Cappelli pergunta: mas qual é o caminho?

A indagação do jornalista se dá no contexto do último Datafolha que, segundo Cappelli, sepultou ilusões.

“Qual o caminho?”, insiste.

Em catorze pontos, didaticamente Cappelli explica que Bolsonaro não está para cair, a extrema-direita veio para ficar, há polarização política, a maioria da população é bolsonrista, etc.

“O manifesto da esquerda foi um acerto” disse. “A pesquisa indicou que 59% são contra a renúncia? Verdade, mas isso é chuva de verão, valeu o custo para ter Ciro e o PT assinando o mesmo documento depois de muito tempo”, comemorou.

“Sem a esquerda unida não iremos longe”, alerta Ricardo Cappelli.

Economia

Leia a íntegra do artigo:

Datafolha sepultou as ilusões. Qual o caminho?

Ricardo Cappelli*

1 – Bolsonaro não acabou e não está para cair. Não confunda realidade com panelaço de classe média com medo de morrer. A pesquisa indicou que 52% consideram que ele pode liderar o país. Ele possui cerca de 28% de ótimo e bom. Ninguém cai com esse nível de apoio. A pesquisa fez o presidente aumentar a fervura da frigideira de Mandetta.

2 – A extrema-direita veio para ficar. 80% apoiam o isolamento, mas 20% dizem que concordam em sacrificar idosos e pessoas com alguma doença pré-existente para a economia não parar. É pouco?

3 – Temos dois pólos. Numa ponta, uma turma da “direita orgulhosa” que votava no PSDB por falta de opção. Na outra estão os eleitores da esquerda. Ambos reúnem algo em torno de 25% cada, um pouco mais, um pouco menos. Não há sinal de derretimento no núcleo duro do Capitão.

4 – Quem decide eleição é o eleitor médio. Ele não sai de casa para eleger ninguém, seu objetivo é derrotar alguém. Todas as pesquisas indicam que se a eleição fosse hoje daria novamente Bolsonaro e PT no segundo turno. Que tal? Pode surgir algo novo? Sempre pode, hoje não passa de vontade.

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5 – A hora é de cuidar das pessoas, de solidariedade, de superação, de compaixão. Querer afirmar partido em cima de cadáveres é um erro grosseiro. Momento recomenda paciência, a ansiedade pode arrastar o afoito para dentro da cova também.

6 – A maioria da população apoia. O mundo inteiro apoia. Qual a linha política da esquerda? #FicaEmCasa. Quando o jogo complica fazer óbvio pode ajudar. Dialogar com a maioria parece ser um bom caminho.

7 – O principal líder da oposição ao Capitão tem nome e sobrenome: Jorge Mario Bergoglio. O Capitão teme o Papa Francisco. Para enfrentar um falso pastor, nada melhor que o próprio enviado de Deus. Jair está perdendo pontos importantes entre os católicos. Salve o Papa!

8 – Outro flanco é o eleitorado feminino. Mulheres leem sentimentos, possuem uma percepção sensorial aguçada. O discurso de que vale enterrar entes queridos para a economia não parar não tem a menor chance de colar com elas. Emoção, mulheres e católicos. Ele sentiu o golpe? Bata no fígado.

9 – Luta pelo poder no meio de uma crise humanitária é suicídio. É tudo que Bolsonaro deseja. Ele bate na tecla de que o vírus é uma invenção da oposição. Abrace as pessoas, reforce a solidariedade. A desumanidade dele vai gritar.

10 – A economia é um problema real? Muitas pessoas estão sofrendo? Sim! No mundo inteiro os governos estão garantindo a sobrevivência e até os salários das pessoas. #PagaLogoBolsonaro

11 – O manifesto da esquerda foi um acerto. A pesquisa indicou que 59% são contra a renúncia? Verdade, mas isso é chuva de verão, valeu o custo para ter Ciro e o PT assinando o mesmo documento depois de muito tempo. Sem a esquerda unida não iremos longe.

12 – O número de mortos pode mudar tudo? Sempre pode. Se acontecer, vai tragar só Bolsonaro? Vai radicalizar ainda mais o ambiente político? Na democracia, cadáveres costumam enterrar carreiras políticas, só na democracia. Depois da crise a economia vai reagir? Podemos ter um clima de retomada em 2022?

13 – Quem quer derrubar Bolsonaro? Quem tem força para enxotá-lo do Planalto?

14 – Todos os presidentes eleitos após a aprovação da reeleição se reelegeram. Não é fácil derrotar quem está com a caneta. Por mais louco que ele pareça. Quem critica a necessidade de uma Frente Ampla para enfrentá-lo está mal informado, sonhando acordado ou vendendo terreno na lua.

*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.