Especialistas defendem medidas restritivas para reduzir propagação do coronavírus

Avenida Paulista vazia. Foto: Reprodução Internet
Para a professora do mestrado em Saúde Coletiva da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria Filomena Vilela, o Brasil ainda tem condições de adotar medidas “restritivas” e de “contenção” para reduzir o crescimento da pandemia de coronavírus. “Temos que fazer de tudo para ter o mínimo possível de pessoas nas ruas. É uma questão lógica. Quanto menos gente doente, ou potencialmente doente circulando, menor a chance de exposição ao contágio”, afirmou a especialista.

Maria Filomena e outros professores participaram nesta segunda-feira (16) de debate promovido pela Associação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp), sobre medidas para conter o avanço da doença. Segundo ela, não é possível minimizar os efeitos do coronavírus, que já contaminou 142 mil pessoas em todo o mundo, com mais de 5 mil mortes.

“É um problema sério de saúde pública. Não vamos banalizar, achar que é tranquilo, que é só uma gripe, ou porque não tem casos aqui ou acolá não deveríamos tomar todas as medidas. Defendo a precaução, e até pecar pelo excesso. As coisas mudam muito rapidamente”, afirmou. Depois da China e de parte Europa, ela acredita que a América Latina pode virar o novo epicentro da pandemia, juntamente com os Estados Unidos.

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A mestra destaca que as medidas de contenção, como a suspensão de aulas e o trabalho remoto, devem ser aplicadas agora porque o coronavírus tem altíssima capacidade de transmissão. “No Brasil, ainda se tem condições de adotar medidas para diminuir o crescimento rápido. Qualquer pessoa com sintomas leves, num quadro parecido com resfriado comum: fique em casa, não vá trabalhar. É uma medida importantíssima”, afirmou.

Ela disse também que apenas os casos mais graves, quando os pacientes apresentarem febre alta ou dificuldades para respirar, devem ser encaminhados ao atendimento médico. Os números registrados pelos demais países indicam que cerca de 5% dos infectados poderão evoluir para casos graves, necessitando leitos de UTI, com equipamentos de ventilação mecânica.

Cuidados individuais
A professora Silvia Gatti, do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular, explicou que o coronavírus possui uma “membrana lipoproteica”. É sobre essa membrana – semelhante a das próprias células humanas – que atuam os sabões, detergentes, desinfetantes e outros produtos, como álcool em gel, desarranjando-as e levando à anulação do vírus.

Ela afirmou que o álcool em gel deve ser utilizado somente nas pessoas, e chama a atenção para a concentração do produto, que deve ser de 70%. Se tiver 68%, a eficácia cai 40%, segundo ela. Acima de 70%, perde totalmente a eficácia, pois evapora muito rapidamente. “Não é uma gotinha, mas uma quantidade suficiente para cobrir completamente as mãos, e de preferência até os cotovelos, com tempo suficiente de cantar duas vezes ‘Parabéns pra Você’ até secar. Esse é o tempo para conseguir eliminar os vírus envelopados”, explicou.

Em casa
Ainda assim, o álcool em gel só deve ser utilizado quando não for possível lavar as mãos com água e sabão. Já nas superfícies – mesas, cadeiras, maçanetas e corrimãos – devem ser aplicados desinfetantes, como água sanitária. Ela também recomenda desinfetar os celulares, evitando a exposição desnecessária. Outra forma de “neutralizar” o coronavírus é a partir dos raios solares. “A radiação solar neutraliza o vírus. Abram suas casas, deixem o sol entrar. É bom para diminuir a carga viral e a possibilidade de transmissão.

SUS
O médico e professor de Saúde Coletiva Gustavo Cunha destacou que a pandemia mostra que países com sistemas públicos de saúde integrados têm resistido melhor do que aqueles com sistemas fragmentados ou inexistentes, como é o caso dos Estados Unidos. Ele lamentou que, no Brasil, o SUS tenha sofrido cortes de R$ 9 bilhões em 2019, e de cerca de R$ 13 bilhões no ano anterior.

“A gente vive um momento em que um conjunto de políticas tem diminuído a capacidade da sociedade de defender a vida. O SUS é uma dessas políticas. Perdemos o Mais Médicos, reduzimos a capacidade de vacinação. É uma oportunidade de pensar o que estamos fazendo com nossas políticas públicas, com a nossa capacidade de pesquisa”, afirmou Cunha.

Ele também destacou que os idosos são o principal grupo de risco da pandemia de coronavírus, e que os mesmos tem sido vítimas de cortes nos valores das aposentadorias e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), por conta das reformas da Previdência realizada pelo governo federal e pelos estados.

por RBA