Enio Verri: “É a soberania, classe trabalhadora”

Enio Verri*

O mundo se agita em mais uma guerra pelo poder de influenciar no valor do petróleo e joga o preço do barril a US$ 30, com ameaça da OPEP+ de baixar para US$ 20. Apesar da disputa entre Rússia e Arábia Saudita, que defende os interesses do óleo de xisto dos EUA, a redução do valor do óleo está ligada, também, aos efeitos do coronavírus na economia mundial. A Organização Mundial da Saúde chegou a dizer que não descarta a possibilidade de uma pandemia, depois de identificar mais de 100 mil casos, em pelo menos 100 países. O Dólar segue se valorizando perante ao Real. Bolsonaro e Paulo Guedes enfrentam torrando mais US$ 30 bilhões das reservas internacionais acumuladas durante os 13 anos dos governos do Partido dos Trabalhadores.

Em meio a esse caos mundial, existe o Brasil, onde há 13 milhões de desempregados e 40 milhões vivendo na informalidade. Um país onde há 1,5 milhão de famílias na fila do programa Bolsa Família para receber um valor inferior a um salário mínimo, mas, também, onde há um brasileiro cuja fortuna aumentou R$ 19 bilhões, em um ano. A cada R$ 1,00 investido no Bolsa Famíla, R$ 1,78 é revertido para a formação do PIB, com o suor do trabalho de quem agrega valor ao benefício. Ao contrário, o parasita financeiro multiplica sua fortuna emprestando dinheiro e se apossando do Estado pela compra de sua dívida, na qual ele embute o juro que determinar, pois ele é o mercado. Nesse sentido, o sistema financeiro suga do PIB, pois o pagamento de serviços da dívida, ou simplesmente juros, retira mais de 45% do Orçamento da União, que vão para as mãos dos financistas. Simples assim.

Até o momento, desde os primeiros soluços do mercado financeiro, em 2019, a única atitude de Bolsonaro e Guedes foi a de vender parte dos US$ 380 bilhões das reservas. A parte vendida não foi para investir no desenvolvimento econômico e gerar empregos, mas para conter a alta do Dólar. Ontem, foi a mesma coisa, a vertiginosa queda na Bolsa de Valores fez o Banco Central cometer essa cômoda e inútil sandice. A moeda americana vai continuar a se valorizar porque o governo não consegue entregar ao mercado financeiro o que prometeu. Esse é o motivo da fuga de capitais. É um governo dúbio e aventureiro, no qual não se pode confiar. A grande fuga de capitais é o reflexo.

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Para a estratégia do governo, suas táticas estão indo bem. Para Guedes, ao que parece, a conjuntura econômica mundial favorece o seu propósito, que é o caos. À guerra do petróleo e ao coronavírus, soma-se uma rumorosa bolha financeira que está prestes a estourar, segundo artigo do jornalista John Plender, no “Financial Times”. Segundo o autor, a contaminação do mercado com dívidas podres é tão grande quanto em 2008. Quanto mais o caos se prolongar, mais o Bolsonaro e Guedes terão motivos para dilapidar as reservas, bem como as empresas estratégicas e reservas energéticas, que não é de nenhum governo temporário. Elas pertencem à nação, a cada brasileiro. O valor da reserva deveria ser investido para proteger o Brasil e os brasileiros de crises financeiras.

Fica obviamente claro que o governo não se interessa pelo Brasil, a não ser naquilo que ele pode dar de lucro a seus membros. A política está na cara de toda a sociedade. Essa riqueza deve ser defendida pela classe trabalhadora, que não pode permitir esse crime de lesa-pátria. Estamos falando da soberania nacional, que está sendo toda ela transferida para o mercado financeiro. Bolsonaro e Guedes só compreenderão quando as ruas forem tomadas da classe trabalhadora. Porém, enquanto isso não acontecer, o desmonte e a destruição de um futuro digno para este País estão garantidos. Às ruas, urgente, pela soberania do Brasil.

*Enio Verri é economista e professor aposentado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal e líder da bancada do Partido dos Trabalhadores, na Câmara dos Deputados.