PT, ano 40: Uma invenção do povo brasileiro; por Milton Alves

Milton Alves: PT nasceu no chão das fábricas e dos bairros populares.

Por Milton Alves*

O Partido dos Trabalhadores (PT) comemora nesta segunda-feira (10) quarenta anos de fundação, marcado por uma trajetória de êxitos, derrotas, perseguições e resistência. O PT ainda segue embalando o coração e a esperança de milhões de brasileiros.

O PT nasceu no bojo de intensa mobilização popular pelo fim da ditadura e expressou também a necessidade da construção de uma nova ferramenta política que enfrentasse as mesmices do atraso das elites políticas dominantes. As vertentes iniciais da formação do partido reuniram o emergente e renovado sindicalismo do ABC e de outros centros urbanos, os militantes com origem na tradição marxista, intelectuais, ativistas dos nascentes movimentos populares e setores da base progressista da Igreja Católica. Toda essa rica diversidade contribuiu para a originalidade da nova formação política. Uma autêntica invenção do povo brasileiro, que rejeitou as velhas fórmulas burocráticas e os “faróis imaginários” na sua concepção programática e organizativa.

Além da origem singular, o PT em pouco tempo se consolidou como uma corrente política fundamental no país, resultado do compromisso e de sua luta por transformações e mudanças na sociedade brasileira. Nos anos 80 e 90, foi uma força basicamente de resistência, enfrentando a ofensiva do capital com as privatizações e as tentativas de redução de direitos econômicos e sociais dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, foi expandindo a sua força eleitoral e institucional. Vale lembrar a histórica campanha presidencial de Lula em 1989, que abalou as elites e encheu de esperança vastos segmentos do povo brasileiro.

O PT, com erros e acertos, conseguiu representar e despertar a consciência de milhões de brasileiros que pretendem avanços econômicos-sociais, melhores padrões de vida e uma nova cultura de inclusão e protagonismo popular. O partido foi identificado e plasmado por esses valores. Um patrimônio em permanente tensionamento e prova.

Com a eleição do presidente Lula em 2002: O grande desafio de governar o Brasil, um continente de potencialidades e encruzilhadas. O despertar da esperança de milhões de brasileiros excluídos. Os dilemas das imensas e acumuladas chagas sociais. Desafios para governar, formar e assegurar alianças, promover o desenvolvimento econômico, a distribuição de renda, de vencer os preconceitos contra os pobres, de conter o ranço conservador e reacionário das classes dominantes contra o partido.

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O PT enfrentou as dificuldades da opção de governar para a maioria, implantou programas sociais e de inclusão da população mais pobre, porém não realizou as reformas estruturais. Mesmo quando Lula gozava de imenso prestígio e popularidade, o PT deixou de fazer as reformas necessárias: política, tributária, agrária, urbana e dos meios de comunicação.

No terreno da ação política, ao promover sucessivas alianças com partidos da direita e se adaptar às estruturas eleitorais e institucionais baseadas nos financiamentos empresariais milionários de campanhas, aos olhos do povo, o PT foi se confundindo com os demais partidos que sempre criticou.

O aprofundamento dos efeitos no Brasil da crise capitalista, com desinvestimento privado, desemprego e aumento do déficit público, afetou fortemente o segundo mandato do governo Dilma, que foi incapaz de sustentar um programa em contraposição ao falso consenso imposto pelo mercado, contrariando o conteúdo da campanha eleitoral de sua reeleição e aceitando o discurso da necessidade do ajuste fiscal. O que enfraqueceu os nossos vínculos com a classe trabalhadora, com a juventude e setores da intelectualidade. Tudo isso combinado com as ações da Operação Lava Jato, que atingiram fortemente a imagem do PT.

Além disso, o coletivo dirigente do PT demorou para reagir e denunciar o caráter da operação, voltada unicamente para estrangular o partido, e criar as condições para a prisão e posterior proscrição política do companheiro Lula. O que facilitou o caminho para o golpe de 2016 e a vitória da extrema-direita nas eleições presidenciais de 2018.

No atual cenário do Brasil, mais do que nunca é necessário um PT coeso e com nitidez política para enfrentar e derrotar o governo Bolsonaro e sua agenda ultraliberal e autoritária, de desmonte do estado e dos direitos do povo brasileiro. O papel do PT também é fundamental para a construção de uma frente de caráter democrático-popular, reunindo a esquerda, os movimentos sociais e personalidades progressistas para disputar os rumos do país.

Chegamos aos 40 mais forjados para seguirmos na luta, voltando as nossas energias para a base da sociedade, para o povo trabalhador, fonte primária da nossa força e do nosso projeto emancipador.

Viva o PT!

*Milton Alves é ativista político e social. Autor do Livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’.