Número de mortes de líderes indígenas em 2019 é o maior em 11 anos, diz CPT

O número de lideranças indígenas mortas em conflitos no campo em 2019 foi o maior em 11 anos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgados nesta segunda-feira (9). Foram sete mortes em 2019 e duas em 2018. Os dados são preliminares. O balanço final será feito em abril de 2020.

Só no último fim de semana, três ativistas indígenas foram assassinados e outros ficaram feridos. No sábado (7), em Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão, os indígenas Guajajara Firmino Prexede Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara foram assassinados quando voltavam de uma reunião com representantes da Eletronorte e da Fundação Nacional do Índio. Nelsi Olímpio Guajajara levou um tiro na perna, mas sobreviveu. O outro indígena ferido não foi identificado.

LEIA TAMBÉM:
Suplente de Flávio Bolsonaro afirma que Queiroz participou da campanha eleitoral

Dia da Consciência Negra “propaga vitimismo”, diz presidente da Fundação Palmares

Deltan Dallagnol responde por novo processo no Conselho Nacional do MP

Também no sábado, em Manaus, no Amazonas, o ativista da etnia Tuyuca Humberto Peixoto Lemos morreu no hospital após ser agredido a pauladas na segunda-feira (2).

Economia

Em nota publicada no site da CPT, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) afirma que “tais crimes têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal [comandado por Jair Bolsonaro], como o incentivo a invasões às terras indígenas”.

O Cimi denuncia e repudia mais este atentado e lembra que, em 1º de novembro, a liderança Paulo Paulino Guajajara foi assassinada dentro da Terra Indígena Araribóia, também no Maranhão, atacado por invasores durante emboscada. A nota lembra ainda que Laércio Souza Silva Guajajara foi alvejado no braço e nas costas, mas sobreviveu.

“Tais crimes, contanto ainda com atentados, ameaças, tortura e agressões ocorridas por todo país contra essas populações têm acontecido na esteira de discursos racistas e ações ditadas pelo governo federal contra os direitos indígenas. O presidente Jair Bolsonaro tem dito e repetido, em vários espaços de repercussão nacional e internacional, que nenhum milímetro de terra indígena será demarcado em seu governo, que os povos indígenas teriam muita terra e que atrapalham o ‘progresso’ no Brasil”, diz trecho da nota do Cimi.

E mais: “Os direitos dos povos indígenas têm sido negociados e entregues à bancada ruralista, que já tem o controle das ações da Funai em Brasília e nas regiões. Nestes últimos dias, o atual presidente da Funai, Marcelo Xavier, determinou que todos os servidores sejam obrigados a solicitar sua autorização para prestar assistência às comunidades indígenas, além de proibir o deslocamento de servidores a terras indígenas não homologadas e registradas”, diz a nota cuja íntegra pode ser lida aqui.

Veja a lista de lideranças indígenas mortas em 2019:

27/02/2019: Cacique Francisco de Souza Pereira, morto aos 53 anos no conflito da comunidade Urucaia, em Manaus (AM)

13/06/2019: Cacique Willames Machado Alencar, morto aos 42 anos no conflito da comunidade Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)

22/07/2019: Emyra Waiãpi, morto aos 69 anos no conflito da terra indígena Waiãpi/Aldeia Mariry, em Pedra Branca do Amapari (AP)

06/08/2019: Carlos Alberto Oliveira de Souza (“Mackpak”), morto aos 44 anos no conflito da comunidade Cemitério dos Índios, em Manaus (AM)

01/11/2019: Paulo Paulino Guajajara, morto aos 26 anos no conflito da terra indígena Arariboia/92 Aldeias/Etnias Guajajara, Gavião e Guajá, em Bom Jesus da Selva (MA)

07/12/2019: Cacique Firmino Prexede Guajajara, morto aos 45 anos no conflito da terra indígena Cana Brava/Aldeias Coquinho/Coquinho II/Ilha de São Pedro/Silvino/Mussun/NovaVitoriano, em Jenipapo dos Vieiras (MA)

07/12/2019: Raimundo Benício Guajajara, morto aos 38 anos no conflito da terra indígena Lagoa Comprida/Aldeias Leite/Decente, em Jenipapo dos Vieiras (MA).

por CUT