Enio Verri: A questão vai muito além de esquerda ou direita

O novo líder do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), acusa o governador Ratinho Junior de desmantelar o estado para entregá-lo ao mercado privado.

“O mercado para quem Ratinho e o presidente Jair Bolsonaro trabalham desejam a população brasileira e paranaense absolutamente despreparada, incapacitada e impedida de criticar”, aponta o líder petista.

Leia a íntegra do texto:

A questão vai muito além de esquerda ou direita

Enio Verri*

Depois de demonstrar a truculência de que foi capaz para empobrecer o estado do Paraná, resta perguntar aos paranaenses o que ainda falta o governador, Ratinho Júnior, fazer para que as ruas sejam tomadas em todos os 399 municípios contra o desmantelamento do estado para entregá-lo ao mercado privado. Depois de todo privatizado, em pouco tempo, todo lucro que os empresários puderem tirar, não será investido nos municípios mais pobres, como no caso da privatização da água. As empresas pegarão apenas os municípios onde há lucro, deixando ao Estado a oferta dos serviços aos que não têm estrutura. Porém, o Estado não terá mais a sua ferramenta para levar desenvolvimento ao interior do estado. Assim como, também, não terá mais universidades estaduais, que serão entregues aos interesses do avanço tecnológico do mercado, abandonando à míngua ciências que são a base do desenvolvimento tecnológico, as do pensamento crítico.

Economia

O mercado para quem Ratinho e Bolsonaro trabalham desejam a população brasileira e paranaense absolutamente despreparada, incapacitada e impedida de criticar. O brasileiro tem de compreender, com certa urgência, de que se trata de abrir mão da soberania, de deixar de produzir conhecimento, ciência e desenvolvimento tecnológico, em todas as áreas do pensamento. O que está em jogo não é esse ou aquele partido, ou campo político. Os paranaenses devem se perguntar o que será deles sem saúde e educação pública, gratuita e de qualidade. Há inúmeras críticas que cabem ao SUS, mas ele é uma referência mundial. O sistema educacional não está funcionando bem? Então, deve-se recuperá-lo. Mas, não, o governador Ratinho entende que é melhor fechar turmas e até escolas e, sem consulta à sociedade, como é do feitio dos truculentos e dos autoritários, impõe o formato de turma multiano, no qual são reunidos, numa sala, estudantes de várias séries. Essa é a atitude de um governador que deseja o pior para a população do seu estado Uma pessoa sem compromisso algum com os paranaenses. Aliás, age deliberadamente para o seu atraso. Uma vergonha.

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Estranho, de fato, é perceber que os paranaenses, ou ainda não entenderam que estão ficando sem saúde, educação, água e saneamento, por exemplo, ou realmente não importa a eles que todos esses direitos seja suprimidos. Parece que, para a classe trabalhadora não faz diferença se aposentar com 55/60, ou com até 70 anos, recebendo apenas 70% do que é hoje. Agora, trabalhadores na ativa, ou aposentados recolherão não mais 11%, mas 14% ao INSS. A sociedade também ainda não entendeu que a reforma do Ratinho rebaixou o valor da média do rendimento do trabalhador, ao considerar 100% e não 80% das contribuições ao longo da vida. Considerando todos os recolhimentos, entram no computo os rendimentos mais baixos da vida laboral, reduzindo estruturalmente o ganho da classe trabalhadora, uma vez que não tem como recuperar, ainda mais sob um governo recessivo e francamente contra os trabalhadores. O governador deixa claro que seu compromisso nunca foi com o Paraná e sua gente, mas com o mercado financeiro.

Ratinho Júnior sabe que suas políticas só são possíveis de se aplicar sob o manto da truculência. Haja vista o uso de 1400 policiais fortemente armados para cercar o Teatro Ópera de Arame e impedir qualquer cidadão de se aproximar e acompanhar a votação, ou de, democraticamente, protestar contra. É necessário dizer que o governador não teria êxito sem alguns comparsas, como parte da imprensa, o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano e mais 44 deputados estaduais que não serão esquecidos pela população, por roubarem dela o direito de se aposentar com um mínimo de dignidade e de ter acesso à saúde e educação públicas. E é dessa maneira que Ratinho imporá o ultraliberalismo. O AI-5 não é apenas uma possibilidade, ele já está entre nós. Representantes do Fórum das Entidades Sindicais, organização dos servidores públicos em ação, foram impedidos de ingressar na Casa do Povo do Paraná para participar da reunião da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Isso é muito grave. Entidades legalmente constituídas e representativas de diversas categorias profissionais são impedidas de debater na Praça reservada para isso, o Parlamento.

Esse é um dos traços do governo Ratinho Júnior, um títere do mercado que executa o plano de açambarcamento do Estado de Bem-Estar Social. Porém, ainda há a bárbara violência cometida conta o povo Avá-Guarani e os trabalhadores rurais sem terra, que não levam outra coisa para os municípios senão riqueza, paz e prosperidade. Ratinho age deliberadamente para causar o caos social, apenas para prevalecer interesses privados sobre os direitos dos paranaenses. A sociedade deve uma resposta a esse governador sem compromisso com o estado. Trabalhadores foram rechaçados, mas foi o enfrentamento deles que fez com que com a pantomima fosse transferida para conspurcar um respeitado teatro. A truculência do Estado se deu por falta de argumentos e medo da reação que, realmente, se produziu. Ou seja, a classe trabalhadora está no caminho certo. Governo servil à elite tem de medo de o povo nas ruas.

*Enio Verri é economista e professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do estado do Paraná. É o novo líder do PT na Câmara dos Deputados.