Henry Sobel, um símbolo da luta pela liberdade no Brasil


Morreu na manhã desta sexta-feira (22), em Miami, o rabino Henry Sobel, 75. Rabino emérito da Congregação Israelita Paulista (CIP), Sobel teve forte atuação na defesa dos direitos humanos e na luta pelas liberdades democráticas durante o período da ditadura militar no Brasil. O sepultamento será neste domingo (24), em Nova York. Ele deixa a esposa e uma filha.

Quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado nas dependências do DOI-CODI do II Exército de São Paulo, em 25 de outubro de 1975, o jovem rabino Sobel não engoliu a versão oficial da ditadura de suicídio. Enfrentando pressões, realizou o enterro do jornalista no centro do cemitério israelita, se recusando a aceitar a alegação de suicídio -o que, segundo a religião judaica, o levaria a fazer o sepultamento nas margens do lugar.

Dias depois, Sobel liderou, junto com d. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, e Jaime Wright, pastor presbiteriano, um massivo ato ecumênico em homenagem a Herzog, desafiando abertamente o regime. A catedral da Sé ficou lotada e uma multidão tomou conta da praça, num silencioso e contundente protesto contra a ditadura.

Sobel também ficou marcado pelo episódio das gravatas -quando, em 2007, foi detido por causa do furto numa loja nos EUA. “Trinta e sete anos e puf! Fiz o impensável”, desabafou, trêmulo, em um filme sobre a sua trajetória lançado em 2014.

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À época, sofrendo de depressão e confuso com a medicação, o rabino encarou o precipício: foi afastado da direção da Congregação Israelita Paulista e passou a ser execrado e ridicularizado.

Segundo um dos depoimento no filme, setores conservadores do judaísmo, sempre insatisfeitos com a atuação aguerrida de Sobel, aproveitaram o episódio para tirá-lo de cena.

O rabino trocou São Paulo por Miami em 2013, após ter passado quase quatro décadas no país.