‘Pronunciamento de Bolsonaro viola direitos de Lula’, diz nota da defesa

Os advogados de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgaram nota nesta noite de terça-feira (24) em que classificam como descabida a declaração do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL),  na abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, sobre a sentença e a condição judicial do líder petista.

A defesa de Lula encaminhará notificação para o processo em curso no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas.

A defesa de Lula alerta também para as grosseiras violações e demanda as medidas necessárias para assegurar que Lula goze e exerça seus plenos direitos de ampla defesa e o princípio da presunção de inocência até a conclusão dos processos judiciais.

LEIA TAMBÉM:

As mentiras de Bolsonaro em seu discurso na ONU

URGENTE: Lula pode ir para o regime aberto

Economia

Lula sobre relação de Bolsonaro com os EUA: Ninguém gosta de lambe-botas

Confira a íntegra da nota assinada pelos advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska T.Z. Martins:

É incompatível com a Constituição da República, sobretudo com a disposição que assegura que a presunção de inocência somente pode ser afastada por decisão condenatória transitada em julgado (CF/88, art. 5º, LVII), a alusão feita hoje (24) pelo atual presidente da República ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU. Não há qualquer decisão judicial condenatória definitiva contra Lula que permita afastar essa garantia constitucional da presunção de inocência por qualquer órgão do Estado Brasileiro.

O mesmo pronunciamento se mostra incompatível com decisão emitida em 22/05/2018 pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU que determinou ao Brasil — vinculando todos os Poderes da República — que se abstenha de realizar “qualquer ação que impeça ou frustre a apreciação de um comunicado pelo Comitê alegando violação do Tratado”.

Isso porque uma das grosseiras violações que o Comitê da ONU deverá julgar diz respeito justamente ao fato de o Brasil não ter assegurado a Lula o direito a um julgamento justo, imparcial e independente (art. 25, do “Pacto de Direitos Civis e Políticos” da ONU) — não podendo qualquer órgão da República praticar atos que coloquem em risco a eficácia do futuro julgamento daquele Órgão Internacional a que o país voluntariamente se vinculou e se obrigou a seguir suas determinações.

O pronunciamento do atual presidente da República ocorre também no momento em que o Brasil completa um ano de descumprimento de outra decisão do Comitê de Direitos Humanos da ONU, emitida em 17/09/2018, que determinou ao país a adoção de “todas as medidas necessárias para assegurar que o autor [Lula] goze e exerça seus direitos políticos enquanto estiver na prisão como candidato às eleições presidenciais de 2018”, até que fossem concluídos “processos judiciais justos”. O descumprimento dessa decisão afrontou os direitos políticos de Lula e também dos milhões cidadãos brasileiros que deixaram de ter a opção de votar no ex-presidente.

Levaremos ao Comitê de Direitos Humanos da ONU o teor desse pronunciamento, juntamente com outros fatos novos, para que o comunicado que protocolamos em julho de 2016 esteja completo e pronto para ser julgado a qualquer momento a critério dos membros daquela Corte Internacional.

Cristiano Zanin Martins e Valeska T. Z. Martins