Gleisi: Bolsonaro, as corporações e as fragilidades das instituições

A presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, nesta quinta (22), analisa o governo Jair Bolsonaro (PSL), as corporações e as fragilidades das instituições. A dirigente petista denuncia o uso do aparelho estatal para blindar os filhos e amigos do presidente da República.

Leia a íntegra:

Bolsonaro, as corporações e as fragilidades das instituições

Gleisi Hoffmann*

Estamos diante de um presidente da República que intervém, sem cerimônias, na Polícia Federal, na Receita Federal e também no Ministério Público Federal. Bolsonaro quer proteger os seus e ter o controle sobre tudo. Nem nos governos FHC, que tinha no comando da Procuradoria-Geral da República um engavetador-geral que não apurava denúncias e uma PF controlada por tucanos, vimos algo tão escancarado. Republicanos que são, Lula e Dilma fizeram o contrário: fortaleceram essas instituições não só do ponto de vista de recursos e equipamentos, mas respeitaram a independência atuação. Aí, as corporações sequestraram as instituições.

Bolsonaro mandou às favas a lista tríplice em que os procuradores elegem os indicados para a nomeação pelo presidente. A última condição imposta por ele foi alguém que não faça a defesa dos Direitos Humanos e, para escolher um procurador ideal aos seus olhos, colocou nada menos do que seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, que é alvo de investigações no Rio de Janeiro, para indicar um nome. Na Receita, a ideia é desmontar tudo o que há hoje por lá, a começar pelo secretário que deseja criar nova CPMF, o que ele jurou que não faria.

Economia

E é justamente sobre investigações sem o devido processo legal que trata a matéria da Vaza Jato publicada no fim de semana. Deixam a descoberto uma balbúrdia, para usar um termo na moda, onde a Receita Federal atua como força auxiliar do MPF, bisbilhotando dados bancários e fiscais de maneira informal, ou seja: ilegal, sem ofício ou autorização. E, é claro, vazando de acordo com seus interesses politicos. Soma-se a isso o conflito no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), presidido hoje justamente por quem atendia os pedidos de consultas informais da Lava Jato, de Sergio Moro e Deltan Dallagnol.

Na PF, a intervenção de Bolsonaro é ainda mais escancarada. Ele passou por cima do diretor-geral e mandou demitir o chefe da superintendência do Rio de Janeiro, por desconfiar dele em relação às investigações que envolvem seu filho mais velho e o ex-assessor Fabrício Queiroz, acusado de integrar o esquema de rachadinha na Assembleia Legislativa fluminense e de proximidade com as milícias. Apesar da resistência da corporação, Bolsonaro mostra disposição de brigar para proteger os seus. Mas, como será para essa gente ter de abafar investigações sem nenhum disfarce e ficar dizendo amém a um presidente que não tem medidas? Certamente isso iria afetar a imagem da PF na opinião pública, assim como aconteceu com Moro, quando foi pego comandando e orientando a Lava Jato. E lembrem-se que na Lava Jato a PF já fez papel de polícia política.

LEIA TAMBÉM
Frota critica Bolsonaro e pergunta: “Aonde está enterrado Queiroz”?

Senado derruba trabalho nos domingos e feriados

Lula recebe ex-presidente da FAO e geólogo que descobriu o pré-sal nesta quinta

Nesse cenário conturbado, delegados ameaçam pedir exoneração dos cargos, auditores fiscais e procuradores se rebelam contra as decisões de Bolsonaro – para quem fizeram campanha aberta nas eleições de 2018. Ao se tornarem protagonistas da armação midiática contra o PT, esses servidores, que são de carreiras de Estado e deveriam primar pela correção, viraram as costas para o dever institucional e se imiscuíram com o poder e a fama. De repente, estão vendo que pariram um monstro. Como diz o provérbio espanhol: cria corvos e eles te arrancarão os olhos!

E aí cresce o papel do Judiciário, que no passado recente optou por lavar as mãos e corroborou com os abusos de autoridade, calando-se diante do uso do Direto para a perseguição política. Caberá ao guardião da Constituição Brasileira, o Supremo Tribunal Federal (STF), colocar um freio nesses descalabros ou sua própria autoridade ficará questionada e fragilizada. O certo é que Bolsonaro vai contar com suporte nesse cenário de enfrentamento às supercorporações, as mais poderosas do Estado brasileiro. Apoio dos mesmos que querem fechar o Congresso e o STF, que desdenham de instituições construídas a duras penas e de extrema importância para o povo brasileiro se queremos fazer uma país melhor, mais democrático, mais avançado.

Enquanto aprecia o fogo que ateou no circo, Bolsonaro espalha mais caos com declarações escabrosas, vai ocupando ideologicamente os organismos de Estado, tornando-o cada dia mais retrógrado, governando para poucos e tratando o Brasil como quintal de sua casa, onde faz o que bem quer. A quebra de decoro e o abuso de poder já são visíveis, mas o que vai medir até onde Bolsonaro pode chegar é também a economia. O desempenho pífio do PIB, o desemprego alto, a renda cada vez mais baixa, a produção industrial parada e empresas sem vender… Tudo isso são fatores que contam para definir os humores nacionais sobre o governo.

*Gleisi Hoffmann é presidenta nacional do PT e deputada federal pelo Paraná. Site oficial: www.gleisi.com.br.