Enquanto o povo se atola em dívidas, taxa do cheque especial bate recorde

A taxa básica de juros do Banco Central (Selic) está em 6% ao ano, o menor percentual da história. Mesmo assim, a taxa cobrada pelos bancos para o cheque especial alcançou o patamar de 322,23& ao ano e é a maior já registrada na série estatística do BC, que tem 25 anos.

Ou seja, os banqueiros estão lucrando como nunca às custas dos clientes endividados.

LEIA TAMBÉM
Bolsonaro assina MP que transfere Coaf para o Banco Central

Igreja apela para orações para tentar salvar Dallagnol

Endividamento da população só cresce com Bolsonaro

É interessante notar como a evolução dos juros se revela sensível aos humores das conjunturas políticas. As taxas do cheque especial de pessoas físicas ficaram em 301,5% ao ano em média a partir de 2015. Esse percentual representa forte alta em relação ao que vigorou durante a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, que determinou a redução das taxas nos bancos públicos, o que forçou a redução também nas instituições privadas.

Economia

Esta “intervenção do Estado” despertou ódio no mercado financeiro, porém o custo médio do cheque especial no período ficou em 155,7% ao ano, com uma taxa mínima de 136,7% ao ano em março de 2013. E também supera a média de 159,9% ao ano dos cinco anos anteriores, de 2007 a 2011, conforme assinala reportagem do Valor.

Após o golpe de Estado de 2016, com a ascensão do governo Temer e agora com Jair Bolsonaro, os bancos públicos mudaram de orientação, voltando a se guiar pelos mesmos parâmetros da iniciativa privada. Estudo recente do Banco Central estima que o cheque especial foi responsável por aproximadamente 10% da margem de juros líquida gerada pelo crédito do sistema bancário.

Nadando em dinheiro, os banqueiros estão dando gargalhadas. No primeiro semestre de 2019 o lucro somado do Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander (os quatro maiores de capital aberto no país) chegou a R$ 42,9 bilhões, crescimento médio de 20,4% em doze meses.

No caso do Santander, a unidade brasileira foi responsável por 29% do resultado global do banco. Os brasileiros que apelam ao crédito bancário pagam o ônus. Estão sendo sufocados pelos débitos. A taxa de endividamento das famílias brasileiras em relação à renda acumulada em 12 meses subiu para 44,04% em maio, maior nível desde abril de 2016, quando alcançou 44,2%.

O ganho fabuloso contrasta com a estagnação econômica, o desemprego em massa, a redução dos salários e o crescimento da pobreza, da miséria e da fome no país desde o golpe que conduziu o corrompido Michel Temer ao Palácio do Planalto.

Não há uma razão econômica objetiva para este comportamento dos banqueiros, que transformaram o Brasil no paraíso da agiotagem e foram um dos maiores beneficiários do impeachment de Dilma Rousseff. As justificativas que apresentam para o disparatado spread são falsas e temperadas pelo cinismo.

As taxas de juros são fixadas de forma arbitrária pelo oligopólio que controla o ramo, importando em sua definição exclusivamente os interesses do capital, que por seu turno sempre coloca em primeiro plano a maximização dos lucros.

As instituições públicas poderiam fazer um contraponto à ganância insaciável da estirpe, reduzindo por conta própria os juros cobrados às pessoas físicas, mas isto não condiz com o credo neoliberal dos governos Temer e Bolsonaro, que colocou à frente do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, assim como da Petrobras e do BNDES, figuras que desprezam empresas públicas e defendem abertamente a agenda entreguista das privatizações.

As informações são da CTB.