Resistência ou morte civilizacional

O resultado de uma pesquisa capitaneada pela economista doutora Augusta Pelinski Raiher coloca a sociedade diante de um vexatório incômodo. Não se trata de contingenciamento, mas sim de optar pelo tipo de desenvolvimento que se deseja e que se tem coragem de construir para o Paraná e para o Brasil. Segundo Raiher, as universidades estaduais têm papel fundamental e estratégico no desenvolvimento regional, principalmente, mas também, em menor escala, no nacional. A presença das universidades estaduais eleva o nível técnico/intelectual da região. As pessoas passam a ser mais bem instruídas e a exigência na qualificação profissional aumenta o poder aquisitivo local, que passa a oferecer uma complexidade maior de produção econômica, com o incremento de novas tecnologias e de muitos serviços. Ainda de acordo com a pesquisa, a cada 1 real investido nas universidades estaduais R$ 4 retornam para a comunidade onde elas estão inseridas.

São instituições onde a dúvida é incansavelmente perscrutada pela razão, onde a divergência não é senão um argumento válido e lógico. A capacidade de ter o debate como meio de construção de soluções para toda a sociedade não está na ordem do dia de Bolsonaro, que vê na educação pública um estorvo e não uma ferramenta que fornece a chaves que abrem determinados códigos usados em espaços de decisão política. Pelas portas de acesso, cridas pelos governos do Partido dos Trabalhadores, como FIES, Sisu, ENEM, entre outras, passaram mais de cinco milhões de filhos de pobres e isso é inconcebível pela casa-grande. O que Bolsonaro e Ratinho fazem contra a educação demonstra a visão míope de governantes que não acreditam na capacidade criativa e criadora da nação. Infelizmente estão a serviço dos interesses do mercado financeiro.

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As Universidades Federal do Paraná e a Tecnológica Federal do Paraná perderam R$ 48 e R$ 37 milhões em um contingenciamento desnecessário, regressivo e submisso a um ciclo agudo da produção econômica que não se vence desinvestindo. Porém, o governador Ratinho Júnior segue no mesmo caminho do presidente que odeia a educação. Iniciou o seu governo contingenciando 20% do orçamento das universidades e mais 30% por meio da Desvinculação da Receita de Estados e Municípios (DREM). A visão do presidente e a do governador é a do colonizador. A Finlândia é referência mundial em Educação e considerado um dos países mais inovadores do mundo. Até a década de 1960, era um país agrário e um dos mais pobres da Europa. A sociedade finlandesa fez justamente o caminho contrário de Bolsonaro e Ratinho. Investiu na Educação para sair da pobreza. Com certeza os governos federal e estadual do Brasil estão com a razão.

O que importa, nesse caso, não é o governo da vez, mas saber do que é feito o brio da sociedade que é governada por agentes públicos que produzem cortes a esmo. Desta vez, os dois governos mexeram com nada menos que o futuro da nação. Quem já teve acesso não vai admitir ficar sem, por causa de governos que desejam um país-fazenda e subdesenvolvido. Os estudantes se levantaram, sincronizados, em todo o Brasil, contra essas ignominias humilhantes e não vão desistir de verem estabelecidos os mínimos avanços alcançados na história recente do País. Aliás, fosse o Brasil um país mais maduro, não estaria se debatendo com um governo para que este não desinvista na Educação. As pessoas não têm o direito, sob pena de pagarem muito caro por isso, de passarem despercebidas desse momento delicado da história. Não podem fingir que o

hospital universitário que atende a sua região não será afetado pelos cortes promovidos pelo governador. Não pode ignorar que há um projeto contra o patrimônio intelectual do seu município. Reação ou incivilidade.

Economia

O que está em curso nada mais é do que a aplicação do receituário liberal, de sucatear o público para vender a consórcios de diplomas, que produzem muitos formandos, mas nada de pesquisa, de inserção na sociedade e de desenvolvimento tecnológico. É contra isso que é a luta de todas as pessoas que dizem desejar uma nação desenvolvida, próspera e justa. A demolição da Educação é do interesse de nações que estão prestes a se apropriar das reservas energéticas brasileiras, desde a água ao petróleo e, como colonizadores, preferem a população desinformada e confusa. Assim é mais fácil de dividir e de dominar para manter a tranquila exploração. Defender as universidades estaduais e federais é uma questão de sobrevivência como civilização.

*Enio Verri é economista, professor licenciado do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá e está deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores do Paraná.