O presidente Jair Bolsonaro (PSL) apelou às ruas para enquadrar o “Centrão”, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e, ao mesmo tempo, intimidar a oposição de esquerda ao seu governo. A tentativa de demonstração de forças ficou aquém do esperado pelo bolsonarismo, que saiu menor e dividido das manifestações.
Foi o primeiro grande erro tático do bolsonarismo que transmitiu ao longo da semana de convocação dos atos uma oscilação sobre o eixo político das manifestações, tentando esconder o seu viés claramente golpista e antidemocrático. O que gerou atritos nas hostes da Direita política e dissenção de grupos como o MBL, Vem Pra Rua, governador João Doria e de personalidades como a deputada paulista Janaina Paschoal.
As manifestações reuniram menos gente que nos atos em defesa da Educação do dia 15 de maio. Porém, é necessário registrar que as manifestações na Avenida Paulista e na orla de Copacabana foram expressivas e com participação de massa. No restante do país, os atos juntaram a militância mais orgânica do bolsonarismo. No Nordeste, os atos foram fracos.
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Apesar do fracasso político das manifestações, a corrente protofascista representada pelo bolsonarismo mostra ainda capacidade de mobilização e organicidade política, rivalizando com a esquerda o protagonismo de rua. O presidente Jair Bolsonaro saiu chamuscado do dia 26 de maio, mas segue com um apoio fiel e consistente de pelo menos 20% da população. Nenhuma liderança da velha direita reúne essa força.
A terceira lei de Newton e a precificação
A política real como na Física é movida por leis implacáveis. A terceira lei de Newton ensina que para toda ação existirá uma reação da mesma intensidade e força no sentido contrário. Isto pode significar na concretude da política três movimentos: O “Centrão” pode aumentar a precificação dos acordos nos projetos de interesse do governo que dependem da aprovação do Congresso (reforma da Previdência, Licença para Matar de Moro e etc); segundo, um novo arranjo no interior da base bolsonarista, com maior contenção do clã e crescente perda de protagonismo do grupo olavista; terceiro – o aumento do poderio político dos generais, que querem uma espécie de regime de “bonapartismo institucional” e não o “bonapartismo imperial” almejado por Bolsonaro e seu guru Olavo de Carvalho.
Ou seja, tudo que Bolsonaro queria evitar com as manifestações de rua de domingo, ele precipitou forçando a definição política de parceiros e aliados do governo e também abrindo uma zona de conflito com fortes instituições do establishment, como o STF. Bolsonaro e Moro pagarão um preço político pelo erro tático de domingo. Apesar do entusiasmo de ambos nas redes sociais ontem, a conta amarga vai chegar e logo.
As rachaduras no andar de cima e as contradições do governo Bolsonaro potencializam o surgimento de uma alternativa democrática e popular em resposta à crise política de governabilidade das elites e ao desmonte social.
Por tudo isso, vamos ao 30 de maio em defesa da Educação e rumo à greve geral de 14 de junho em defesa da Previdência e da Democracia!
Jornalista e escritor. Ativista político e social, militante do PT de Curitiba.