A sociedade almejada pelos paranaenses

A cena protagonizada por manifestantes pró-Bolsonaro, no domingo (26), às portas da Universidade Federal do Paraná, deve ser recebida com muita preocupação. É do conhecimento nacional a aversão que o presidente tem da educação. Porém, enquanto essa ojeriza já é preocupante quando manifestada pelo dirigente máximo do País, torna-se estarrecedora quando a cegueira contamina a população. O ato foi digno de estudos psiquiátricos. Como se estivessem conquistando uma grande vitória, os manifestantes colocaram abaixo uma faixa em que estava estampada uma campanha em defesa da Educação e das universidades públicas. Ou seja, as pessoas ali reunidas corroboram a abjeção que o presidente tem da educação. Em que pese a imprensa noticiar o ataque, não se viu alguma observação quanto ao absurdo do gesto.

Apesar de ter sido uma minoria, de qualquer forma o ocorrido é revelador do que é capaz a inoculação de doses cavalares de ódio. Como no estouro de uma boiada, sem reflexão das reses sobre o caminho que estão seguindo, toda a manada pode cair num despenhadeiro. E foi exatamente isso que aconteceu. Todos os manifestantes, mesmo os que seriam contra o vandalismo absurdo, mas não reagiram contra ele, foram colocados no mesmo nível de quem sugeriu e atacou a defesa à educação. Caso se perguntasse a cada um dos manifestantes, possivelmente não se encontraria um único contra o desenvolvimento da Educação e a necessidade de se investir cada vez mais na área.

A atitude dos manifestantes, por fim, ratifica a política proposta, tanto por Bolsonaro quanto pelo governador, Ratinho Júnior, de desinvestir na Educação. Ou seja, parte da sociedade paranaense declara que é a favor do corte de R$ 48 milhões, na UFPR, de 30% nas universidades estaduais e no calote que o governador está prestes a dar nos professores da rede estadual. Até o momento, Ratinho não garantiu o pagamento da data-base, sem reajuste desde 2016. É igualmente inacreditável que a população do Paraná seja a favor da medieval proposta de uma enganação chamada de Escola Sem Partido, que será votada, hoje, dia 28, na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP). A proposta nada mais é que uma mordaça na autonomia profissional dos professores e uma imposição ideológica de extrema-direita, que flerta com o fascismo.

O povo paranaense tem todos os predicativos para fazer do estado um dos mais desenvolvidos do País. Foi a sua população quem construiu as seis universidades estaduais e todo o desenvolvimento industrial que faz deste estado um dos mais ricos e modernos do Brasil. É estarrecedor saber que há quem defenda as políticas dos governos federal e estadual para a educação. Não se conhece alguma nação que tenha alcançado o desenvolvimento sem que se tenha investido pesado em educação, pesquisa científica e produção tecnológica. Torna-se urgente que o debate seja posto em casa, na vizinhança, no ônibus, no trabalho, no local de lazer, enfim, em todos os espaços. Permitir o avanço de certo pensamento obtuso e totalitarista é construir uma sociedade incivilizada e muito distante de produzir justiça social.

Com certeza, não é essa a sociedade que os paranaenses desejam. Portanto, no dia 30, as ruas deste estado devem estar ocupadas por quem não compactua com desinvestimento em educação e muito menos com uma sociedade autoritária e feita para poucos. Não se pode deixar esse tipo de pensamento avançar sob pena de submetê-la ao fanatismo de

quem não admite o debate, o contraditório, o pensamento divergente. A história é plena de fatos que demonstram o atraso civilizatório perpetrado pelo pensamento único.

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