Alan García, ex-presidente do Peru, deixou ‘carta política’ antes de suicídio


O ex-presidente do Peru e líder aprista Alan García deixou uma “carta política” antes de cometer suicídio, um gesto comparado com o do ex-presidente Getúlio Vargas em 1954. A mensagem foi revelada por sua filha Luciana García Nores durante o velório do ex-presidente, realizado nesta sexta-feira (19).

“Por isso, deixo a meus filhos a dignidade de minhas decisões; a meus companheiros, um sinal de orgulho. E meu cadáver como uma mostra de meu desprezo contra meus adversários porque já cumpri a missão que me impus”, diz um trecho da carta.

García morreu nessa quarta-feira (17) depois de atirar contra a própria cabeça ao receber ordem de prisão da polícia. Chegou a ser levado para o hospital Casimiro Ulloa, mas não resistiu ao ferimento. De acordo com a ministra da Saúde do Peru, Garcia sofreu três paradas cardíacas.

Ele era alvo de um pedido de prisão temporária da Lava Jato peruana –por 10 dias– por ter recebido contribuições financeiras da Odebrecht. Garcia sempre repeliu com veemência que recebeu qualquer ajuda da empreiteira brasileira.

O ex-chefe de Estado peruano criticou as investigações da Justiça do país. Disse haver preocupação em “humilhar, vexar, e não para encontrar verdades”.

“Por muitos anos me coloquei acima dos insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que Alan García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem provar as suas calúnias”, disse.

Economia

Garcia foi eleito pela 1ª vez em 1985 e ficou no cargo até 1990. Assumiu o 2º mandato em 2006, quando conseguiu 52,62% dos votos. Foi presidente até 2011.

Leia a íntegra da carta:

“Cumpri a missão de conduzir o aprismo ao poder em duas ocasiões e impulsionamos outra vez a sua força social. Creio que essa foi a missão de minha existência, tendo raízes no sangue desse movimento.

Por isso e pelos contratempos do poder, nossos adversários optaram pela estratégia de me criminalizar durante mais de 30 anos. Jamais encontraram algo e os derrotei novamente, porque nunca encontrarão mais do que suas especulações e frustrações.

Nestes tempos de boatos e ódios difundidos e tidos como verdade pela maioria, vi como se utilizam os procedimentos para humilhar, vexar, e não para encontrar verdades.

Por muitos anos me coloquei acima dos insultos, me defendi, e a homenagem dos meus inimigos foi argumentar que Alan García era suficientemente inteligente para que eles não conseguissem provar as suas calúnias

Não houve, nem haverá contas, subornos ou riqueza. A história vale mais que qualquer riqueza material. Nunca poderá haver preço suficiente para quebrar meu orgulho de aprista e de peruano. Por isso repeti: outros se vendem; eu, não.

Cumprido meu dever em minha política e nas obras feitas em favor do povo, alcançadas as metas que outros países ou governos não conseguiram, não devo aceitar vexames. Vi outros desfilarem algemados guardando sua miserável existência, mas Alan García não tem por que sofrer essas injustiças e circos.

Por isso, deixo a meus filhos a dignidade de minhas decisões; a meus companheiros, um sinal de orgulho. E meu cadáver como uma mostra de meu desprezo contra meus adversários porque já cumpri a missão que me impus.

Que Deus, ao qual me dirijo com dignidade, proteja os de bom coração e aos mais humildes.”

*Com informações do jornal El Comercio – Peru