A sina de lutar

O dia 1º de Maio registra uma cena que é a sina da classe trabalhadora. A de ser, a partir da Revolução Industrial, a parte de carne e osso na luta entre o capital e o trabalho. A conquista de condições mínimas de dignidade, como passar de 17 para oito horas diárias de labuta, custou o sangue de muitos trabalhadores. O ápice desse secular enfrentamento foi no final dos anos 1800, em Chicago (EUA), quando várias mobilizações de operários provocaram o desespero e a ira dos industriais, que convocaram o braço armado do Estado para conter a insurreição nascida da indignação de quem verdadeiramente produz as riquezas. Desde então, a data é comemorada em vários países do mundo, como uma referência desse permanente estado de vigilância que vive a classe trabalhadora para garantir a manutenção de direitos básicos, conquistados com muito sacrifício e sobre a vida de muitos que lutaram por isso.

No mesmo diapasão, o 29 de abril entrou para a história do Paraná como o dia em que as forças de repressão de um governo autoritário se desmoralizaram perante a classe trabalhadora. Em 2015, uma força descomunal foi deliberadamente usada contra trabalhadores que compareceram à Praça Cívica de Curitiba para exigir que o governo dialogasse com eles. A resposta da então administração foi ordenar a servidores da Secretaria de Segurança que despejassem contra mulheres e homens desarmados e indefesos, cassetetes, balas de borracha, spray de pimenta, cães e, até mesmo, bombas lançadas de helicópteros. O Estado se levantou com sua força armada contra uma população que estava apenas defendendo que o passageiro governo não se apossasse de R$ 8,5 bilhões para entregar ao mercado financeiro.

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Quatro anos e duas administrações depois, o governo de Ratinho Júnior, até a semana passada, sinalizava que manteria a política de não reajustar os salários dos servidores, congelados desde 2016, nem mesmo o corroído pela inflação, que já acumula uma perda de 17,2%, segundo o DIEESE. É como se os trabalhadores deixassem de receber dois salários por mês. Porém, as marcas da humilhação, de 2015, mobilizaram, apenas em Curitiba, mais de 10 mil trabalhadores, que marcharam até o Palácio Iguaçu para debater com o governador as condições de trabalho, que não se limitam às perdas salariais. O governo sentiu as paralisações desse dia, desde Maringá, Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu onde escolas e universidades paralisaram suas atividades para dar atenção à reação de Ratinho, que, diante de tanta pressão, capitulou de suas recentes declarações e escalou o vice-governador, Darci Piana, para receber uma comitiva de servidores e parlamentares.

Da reunião saiu um acordo para a formação de um grupo de trabalho, com representantes do governo, dos servidores e de parlamentares, que vão definir os percentuais da reposição salarias, entre outras reivindicações. Além da questão salarial, o grupo tem a tarefa de debater e encaminhar soluções para condições gerais dos serviços públicos, como a necessidade de concursos; reverter a situação da ParanaPrevidência; impedir o sucateamento das universidades, principalmente com a inclusão de algumas que estão submetidas ao Sistema de Recursos Humanos Meta-4; e combater a PEC 6, deletéria não apenas à classe trabalhadora, mas uma privatização da Seguridade Social que produzirá mais miséria, quebrará a classe média, as indústrias e falirá os municípios brasileiros.

Da mesma forma que, em 2015, o dia foi marcante, o de ontem não foi menos significativo para a organização e mobilização de ações da classe trabalhadora. Tanto os mais de 30 sindicatos envolvidos na paralisação do dia 29, quanto os mais de 10 mil de trabalhadores mobilizados, devem ter claro que e a receptividade e a disponibilidade do governo se deram única e exclusivamente pela contundência da participação popular. Esse é o caminho e todos os esforços devem ser envidados para manter essa chama acesa, rumo à redemocratização do país, bem como da restituição de direitos básicos suprimidos, desde 2016, com a reforma trabalhista. Avante, trabalhadores.

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