Gleisi lamenta saída dos médicos cubanos; ouça a entrevista

A senadora Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, em entrevista nesta sexta (16) rebateu um a um os ‘disparates’ e ‘informações falsas’ sobre a cooperação entre a OPAS e o governo brasileiro, no convênio que traz médicos de Cuba. Gleisi lembra ainda que isso garante cobertura médica eficiente a um custo baixo para as prefeituras, que arcam com moradia e alimentação dos médicos.

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Para a parlamentar, o fim da colaboração entre o Brasil e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), que trouxe ao país mais de 20 mil médicos cubanos nos últimos cinco anos para atender a população dos municípios brasileiros no âmbito do Programa Mais Médicos.

Ao manifestar sua tristeza diante desse fato, Gleisi, que ajudou a implementar o Mais Médicos quando foi ministra-chefe da Casa Civil da Presidência da República, no governo de Dilma Rousseff (PT), também criticou severamente a irresponsabilidade com que o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) desferiu ataques, informações falsas, baseadas em preconceito e intolerância, além de ameaças à Cuba por conta de sua participação no programa.

A mesma cooperação existe em 67 países e só no Brasil, mais fortemente a partir da campanha e eleição de Bolsonaro, se praticou tamanho desrespeito e desmerecimento à ação humanitária de Cuba por meio desse convênio. “Cuba é reconhecida internacionalmente pela qualidade de sua medicina”, disse a senadora.

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Gleisi lembrou que, com o Programa, mais de 700 municípios brasileiros tiveram um médico pela primeira vez e que a cobertura de todos os distritos indígenas existentes no Brasil também só foi um feito alcançado pela execução do Mais Médicos. A medicina de saúde básica da formação acadêmica dos profissionais cubanos contribuiu para diminuir significativamente a demanda por especialidades e procedimentos de média e alta complexidade nos hospitais.

No Paraná, 319 (80%) dos municípios aderiram ao Mais Médicos e 457 profissionais de Cuba estavam em atividade no estado, quase a metade dos médicos do programa no Paraná. Gleisi destaca que o programa é uma unanimidade entre os prefeitos. Eles atestam a importância dessa política pública de baixo custo para os municípios, que complementam, por sua vez, a ajuda de custo que os médicos cubanos recebem do programa com moradia e alimentação. Em entrevista, a senadora rebateu um a um os disparates e informações falsas sobre o programa que são espalhados pelos seguidores de Bolsonaro e pelo próprio.

Mais que medicar, cuidar das pessoas!

Na Lapa, município da região metropolitana de Curitiba, uma moradora da comunidade rural de Faxinal dos Pretos, mantém pendurada na sua geladeira a foto de um dos médicos cubanos que trabalhou no município há alguns anos, por verdadeira adoração. Segundo ela, porque foi ele quem tirou a paciente da dependência continuada de medicamentos pesados, utilizados no tratamento da depressão e da demência. Na primeira conversa com a paciente, o profissional da saúde pública prescreveu soro caseiro, muito líquido e chás, uma vez que atestou que a mulher sofria mesmo de desidratação. “Ele me livrou dos remédios fortes e eu deixei de ser louca”, disse.

Outro episódio que ficou muito conhecido na Lapa foi o de um idoso também assíduo frequentador de unidade de saúde no município. Chamou a atenção do médico cubano, durante uma conversa sobre o dia a dia do paciente, a queixa de que o gato doméstico havia parado de miar há muito tempo. O paciente tinha acúmulo de cera no ouvido e, após identificado esse problema, alguns dos problemas relatados nas consultas deixaram de existir. E o que é melhor: o gato voltou a miar!

Quem conta essas histórias é a ex-prefeita da Lapa, Leila Klenk (PT), que se diz “em luto” com o fim da cooperação com Cuba no programa “Mais Médicos”. “É um momento de profunda tristeza e muita indignação diante da irresponsabilidade do próximo Presidente com um programa que significava a redenção das prefeituras no interior do Brasil”, informa Leila.

Ela conta também que na sua gestão, havia concursos para profissionais e condições de trabalho adequadas nos postos de saúde, mas nem sempre conseguiam credenciamento suficiente para o atendimento especialmente pelo PSF – Programa de Saúde da Família. “Isso que a Lapa fica a 70 Km de Curitiba, não é nenhuma localidade tão distante assim dos grandes centros”, argumenta.

Leila ressalta que o diferencial dos médicos formados pela Escola de Saúde Pública de Cuba é justamente a atenção humanizada, o olhar generalista e dedicado à comunidade, a compreender o modo de vida do paciente e por levar em consideração todos esses fatores ao fazer um diagnóstico de doença.

“São muito cobrados pela falta de especialidade na sua formação em saúde pública, mas esse é justamente o diferencial do olhar e do atendimento e que tanto melhoram a qualidade da saúde nos pequenos municípios e comunidades mais necessitadas”, acrescenta.

A Lapa chegou a contar com três profissionais do programa. Uma médica, intercambista de Portugal, foi quem realizou no município um trabalho que relacionou o uso de agrotóxicos nas lavouras às principais doenças do campo, contribuindo, inclusive, para a melhoria e redirecionamento da política de saúde pela prefeitura.

O Programa Mais Médicos representa um custo baixíssimo aos municípios, que são responsáveis pela moradia e alimentação dos profissionais, custos esses que não saem nem dos salários que os médicos recebem e nem da cooperação entre Cuba e OPAS e da OPAS com o Brasil.