Ainda há tempo, exorta Enio Verri

O deputado Enio Verri (PT-PR), a cinco dia da eleição, afirma que a classe trabalhadora está dançando a beira de um abismo que, uma vez lá dentro, provavelmente jamais sairá. “Ainda há tempo, reflita”, pede.

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Ainda há tempo

Enio Verri*

Ódio, inoculado, desde 2005, está fazendo professores votarem em quem não os quer em sala da aula, em quem ofende um pedagogo brasileiro com 29 títulos de Doutor Honoris Causa, outorgados por universidades estrangeiras. Esse mesmo ódio faz servidores públicos votarem em quem pretende privatizar todo o Estado e desregulamentar todas as conquistas das centenas de categorias fundamentais, dispersando-as e diluindo-as no mercado financeiro. O mesmo sentimento faz, inexplicavelmente, LGBTs declararem voto a quem incita o ódio e o aniquilamento do diferente.

A dose foi suficiente para cegar e ensurdecer boa parte da população, que desenvolveu uma repulsa ao Partido dos Trabalhadores e criou o voto anti-PT. Por meio de uma longa, excessiva e intensa exposição nos meios de comunicação, o PT foi alçado a inimigo público. Atribui-se a ele uma suposta maior corrupção da história da humanidade. E é este o único argumento para atacar o partido, uma vez que alguns quadros se deixaram corromper. Fora isso, sob todos os aspectos que se analisarem os 13 anos dos governos do PT, econômica, social e politicamente, foram os melhores da história do Brasil. Foi o período em que o País gozou de maior respeitabilidade internacional.

Economia

Em 2003, o PIB brasileiro foi de R$ 1,5 trilhão. Em 2014, foi de R$ 5,5 trilhões. Quando Lula tomou posse, as reservas internacionais do Brasil eram de R$ 37 bilhões. Quando a democracia foi golpeada, em 2016, a reserva era cerca de R$ 380 bilhões. Em 2014, a dívida dos EUA com Brasil era de R$ 550 bilhões. É inexplicável como um partido pode ter roubado tanto e, ao mesmo tempo, ter produzido essa fortuna. EM 2012, o PT tirou o País do Mapa da Fome, fazendo mais de 36 milhões de brasileiros para consumirem, pelo menos, três refeições por dia. E, em 2014, esse mesmo partido levou o Brasil à histórica taxa de 4,5% de desemprego. Ou seja, ao pleno emprego.

Será uma árdua tarefa para historiadores explicar o mal que fez esse partido para que empresários e classe trabalhadora odiassem o aumento da produção, das vendas e dos empregos, com gente consumindo sempre. Durante os governos do PT, a produção de energia quase que duplicou, sem apagão, passando de 74.800MW para 122.900 MW. Quase 10 milhões de pessoas foram alcançadas pelo programa Luz para Todos. Já o Minha Casa Minha Vida, distribuiu 7,5 milhões de pessoas em 3,5 milhões de moradias. Foi nos governos desse mesmo partido que mais se abriu acesso aos bancos escolares, de todos os níveis.

Quando o PT venceu as eleições, em 2002, havia 11 escolas técnicas no Brasil. Em 13 anos, construímos 214. É complexo compreender o ódio de uma população contra um partido que formou 6,5 milhões de pessoas, pelo Pronatec; que financiou quase três milhões de estudantes; que criou aproximadamente 6,5 mil creches e enviou para realizar intercâmbio cultural e científico, em várias universidades do mundo, mais de 100 mil estudantes. O ódio inoculado pelos meios de comunicação, de propriedade da elite financeira, que banca o golpe de 2016, faz a população não enxergar o verdadeiro motivo do voto anti-PT.

Boa parte da população está sendo manipulada. Um bom começo para saber a origem de todo esse ódio, pode ser o site Manchetômetro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no qual se observa a extrema exposição do PT nos maiores veículos de comunicação do País. A elite brasileira é mundialmente famosa pela sua truculência pelo seu autoritarismo. É uma classe sem compromisso com o Brasil. Fazem e farão de tudo para esconder da população seus inconfessáveis interesses de se apropriar das empresas brasileiras e dos recursos energéticos, dentre vários deles, a água, o ferro e o petróleo.

Sem perceber que é conduzida para um abismo de retrocessos, a classe trabalhadora está prestes a votar nos patrões. Bolsonaro, representante da elite, votou sim para retirar da Petrobras sua condição de operadora exclusiva do pré-sal, nosso bilhete para o futuro, como disse Lula. Ele votou a favor da EC95, que impede o Estado, por 20 anos, de investir em saúde, educação, trabalho, transporte, habitação. Ou seja, impede o Brasil de investir no seu desenvolvimento. Sem investimento, as empresas brasileiras vão quebrar. A classe trabalhadora está prestes a votar em um projeto de governo que é o mesmo do Temer, que tem 4% de aprovação popular e que está reconduzindo ao Brasil à condição de produtor de bens primários, como grãos e minérios.

Depois de 126 anos de República, em 2015 as empregadas domésticas tiveram reconhecido o direito a carteira assinada. Em meio a uma avalanche de informações desencontradas e incertas, que mais escondem que revelam, a população tende a votar em quem foi contra o direito das empregadas domésticas de ter carteira assinada. Devido a uma tempestade de desinformação, boa parte da classe trabalhadora tende a votar em quem declarou que o trabalhador deverá escolher entre ter direitos, ou ter emprego. Bolsonaro votou a favor de gestantes trabalharem em lugares insalubres. Isso mostra o seu descompromisso com as futuras gerações.

Bolsonaro votou a favor de toda a reforma trabalhista, que favorece apenas e exclusivamente o patrão. Ele votou pela terceirização. Esse tipo de contratação enfraquece os direitos e as relações de solidariedade entre os trabalhadores. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) um trabalhador terceirizado trabalha três horas a mais por semana. Os terceirizados recebem, em média, 30% a menos que um trabalhador contratado diretamente. De cada 10 mortes por acidente de trabalho, oito são terceirizados. Ou seja, é um tipo de contratação para moer o trabalhador, que é tido como uma ferramenta descartável.

O destino da classe trabalhadora, em um eventual governo de Bolsonaro, é o pior possível. Na traidora reforma trabalhista, ele votou a favor do trabalho temporário, que é um modelo moderno de escravidão. Pela modalidade de contratação, o trabalhador é chamado pelo patrão quando há algum serviço e receberá, em média, R$ 4,50 a hora. Durante o período em que ele não estiver em serviço, deve estar à disposição para ser chamado a qualquer momento. Essa pessoa não terá condições de se organizar para encontrar outro trabalho e nem investir na sua formação profissional. E a senzala será a própria casa, lugar que o trabalhador terá de manter com recursos próprios.

A classe trabalhadora não sabe, mas ela está dançando a beira de um abismo que, uma vez lá dentro, provavelmente jamais sairá. O odiado PT criou cerca de 20 milhões de empregos com carteira assinada, com as mesmas leis trabalhistas contra as quais Bolsonaro votou. A elite brasileira se encarregará de manter o trabalhador o mais distante de qualquer direito observado nas mais avançadas democracias. Essa mesma elite fará de tudo para que o trabalhador não acesse os bancos escolares e muito menos os espaços de decisões políticas. O veneno do ódio cega e ensurdece. Votar sob o domínio desse sentimento é o mesmo que beber veneno esperando que o PT morra. Cuidado, trabalhadores, para não elegerem o patrão. Ainda há tempo, reflita.