Sociólogo prevê impasse da velha mídia entre apoiar Lula ou Bolsonaro

A velha mídia brasileira pode enfrentar uma encruzilhada no segundo turno das eleições para presidente. Num provável cenário entre Lula (ou Haddad) do PT, contra Bolsonaro (PSL), a imprensa seria levada a rejeitar o candidato da extrema direita e apoiar o candidato petista pela primeira vez.

O raciocínio é do cientista político Fernando Antônio Azevedo, da UFScar. Ele é autor do livro “A Grande Imprensa e o PT (1989-2014)”.

Azevedo diz que Geraldo Alckmin (PSDB) é o candidato favorito velha mídia, mas ela não é mais decisiva para as eleições.

“Quando se examinam os resultados eleitorais no passado, nas vitórias do FHC, por exemplo, ele ganhava em todos os segmentos da população, contando com o apoio declarado da mídia. De 2002 para cá, mais especificamente a partir de 2006, há uma fratura no voto. A elite vota na centro-direita e as classes C e D votam preponderantemente nos candidatos do PT. A mídia fica falando para esse grupo de elite, mas perde as eleições. Ou seja, a mídia continua influente, mas numa audiência específica. Não conseguem mais ditar o debate público”, afirma o professor.

Para ele, os principais veículos da velha mídia brasileira tem uma identificação muito forte com o ideário liberal e conservador, que sempre classificaram os “adversários” de esquerda como radicais, populistas e corruptos.

Foi assim com Getúlio Vargas, que tinha no jornalista e político da UDN Carlos Lacerda a principal figura de oposição, e também contra João Goulart, quando quase todos os principais jornais ofereceram apoio editorial ao golpe civil-militar de 1964.

Economia

Mas o professor avalia que Bolsonaro, “é um candidato antissistema, não da esquerda, mas da extrema-direita”. Ele causa “repulsa” aos jornais tradicionais. Esses defendem um candidato conservador, mas que jogue a partir das regras do jogo democrático.

Por isso, Azevedo acredita que, numa disputa entre Bolsonaro e Haddad, os jornais poderiam apoiar o candidato do PT.

“Tenho impressão de que um dos cenários mais factíveis para a disputa eleitoral inclui um candidato de esquerda – Haddad, no caso –, herdando os votos do Lula, versus Bolsonaro. Isso colocaria toda a imprensa numa situação em que teriam que rejeitar Bolsonaro e apoiar a candidatura petista, sob a lógica do menos pior para eles. Essa é a encruzilhada que podem ter que enfrentar. O que fariam exatamente, não sei. A ver.”

Outro cenário é se Alckmin conseguir passar ao segundo turno. “Nesse caso a imprensa apoiaria Alckmin tranquilamente, inclusive em nome da democracia etc. Na verdade, o núcleo do projeto liberal está com ele, e não com Bolsonaro, que é errático. Até ontem era estatista, uma tradição dos setores militares.”

Em seu livro, o professor da UFSCar analisou a enxurrada de manchetes e textos de opinião produzidos pelos principais jornais contra o PT.

Apesar de todo o esforço editorial, essa quantidade de menções, mesmo que negativas, garantem também visibilidade a Lula e ao partido, que consegue tirar proveito dessa exposição.

Com informações da Rede Brasil Atual.