Chatão Bueno vem aí, alerta a imprensa alemã

A agência de notícias Deutsche Welle (DW), da Alemanha, publica um crítico texto de Philipp Lichterbeck sobre o monopólio da TV Globo nas transmissões da Copa do Mundo.

Sob o título “O eterno Galvão”, o articulista alemão que trocou Berlim pelo Rio em 2012 afirma que os brasileiros serão obrigados a suportar um narrador em especial durante mais uma Copa. “É o preço pago por uma meritocracia que protege um establishment que mantém o Brasil preso no seu próprio passado”, escreve.

No Brasil chamado de “Chatão Bueno” nas redes sociais, o jornalista Galvão Bueno narra os jogos da Copa há 35 anos — para o espanto de Lichterbeck no DW. (Muito provavelmente, neste domingo (17), quando o Brasil entrará em campo contra Suíça, a hashtag #CalaBocaGalvao deverá ser um dos assuntos mais comentados no Twitter).

Ao discorrer sobre os comentários de “idosos de terno, gravatas e poses idênticas”, o articulista anota que a falta de conteúdo é dissimulada com piadinhas e frases melodramáticas como “Tite nos resgatou o orgulho de ser brasileiro”.

Lichterbeck não perdoa a péssima qualidade da TV Globo:

“A estética da emissão lembra o fim dos anos 1980, início dos anos 1990. Como esse, de qualquer maneira, muitos programas da televisão brasileira parecem como se o mundo tivesse parado há 30 anos. O melhor exemplo ao lado de Galvão é o sexista Domingão do Faustão.”

Economia

Para o articulista alemão, Galvão é símbolo da concentração “extrema” dos meios de comunicação no Brasil “refratário a tudo o que é novo e progressivo”.

“Essa monopolização de discurso pode ser encontrada com frequência nos meios de comunicação brasileiros. São sempre as mesmas figuras conservadoras que querem explicar o mundo ao público, seja na televisão, no rádio ou nos jornais: Carlos Alberto Sardenberg, Merval Pereira, Miriam Leitão, Ricardo Boechat, Reinaldo Azevedo, Ricardo Noblat. Vozes jovens têm pouca chance. Se não houvesse a internet, deveria-se falar de uma oligarquia da informação”, relata.

Philipp Lichterbeck percebe ainda que a concentração de poder nas mãos de poucos também é característica da política brasileira, onde, há décadas, os mesmos senhores se refestelam nos mais diferentes postos.

“Quando uma figura independente consegue a proeza de conquistar uma posição de destaque na política, pode acabar como Marielle Franco, assassinada há exatos três meses e cuja morte ainda não foi esclarecida”, lembra.